Franceses assistem filmes brasileiros inéditos aqui
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 01 de julho de 1992
Enquanto no Brasil a produção cinematográfica, em longa-metragens, continua paralisada - e para que os dois principais festivais competitivos do país (Gramado, Rs, agosto; Brasília, outubro) não fossem cancelados seus coordenadores tiveram que privilegiar os curtas e médias-metragens - e criar eventos paralelos (em Gramado, abrindo-o competitivamente a outros países), no exterior o Brasil ainda vive de glórias visuais do passado.
A edição de "Le Monde", 25 de junho último - que recebemos, aliás, naquela mesma data, trouxe na página de serviços, uma notícia de 16 linhas intitulada "Cinema brésilien de Annés 1960-1970)", programado para a Galerie National do Jeu de Paume, no dia 28 de agosto.
A programação incluirá uma restropectiva consagrada ao "realisateur brasilien" Hélio Oiticica (1937-1980), acompanhado de filmes considerados de vanguarda realizados entre 1960/70 por Júlio Bressane, Neville d'Almeida, Ivan Cardoso entre outros. Definidos como realizados paralelos ao Cinema Novo, "que se voltaram a obras criativas, registrando situation d'urgente politique et sociale, et témeignant D'une attention particuliére poir la vie urbaine et ses marges (Rogério Sganzerla, André Tonacci).
Na grande maioria, estes filmes levados agora a Paris, na sala de exibição do museu Jeu de Poume - anexo ao Louvre - tem seus trabalhos inéditos no Brasil. Nunca foram exibidos comercialmente e salvo algumas iniciativas realizadas exclusivamente graças a Valêncio Xavier, junto à Cinemateca do Museu Guido Viaro (nos bons tempos em que a coordenava), pouquíssimos o viram. Mesmo sendo obras experimentais, de difícil assimilação, há público (ainda) interessado. Por exemplo, graças exclusivamente a professora Cassina Lícia de Lacerda Carolo, da cadeira de Literatura Brasileira da Universidade Federal do Paraná, amiga e admiradora de Bressane - e atualmente tentando salvar a comissão dos 300 anos de Curitiba (caoticamente prejudicada pelo politiqueiro-candidato que dela havia se "apossado" há quase dois anos, ali fazendo apenas atrapalhadas e irregularidades), aconteceu no Cine Ritz, uma única sessão com filmes de Bressane que teve bom público. Já os filmes experimentais de Andrea Tonacci, 48 anos, italiano de Roma, 29 anos no Brasil, fotógrafo, diretor de filmes como "Bang bang" (71), "Intérprete mais, ganhe mais" (75) e "Conversas no Maranhão" (1975), nunca teve suas realizações mostradas mesmo no circuito paralelo em [Curitiba], Mas os franceses o conhecerão em agosto.
O cinema na França continua em alta. Há mais de 2 mil salas de exibição somente em Paris e se grande parte restringe-se a programação comercial - com filmes americanos, que têm lançamento mundial quase simultâneo (o que se pode constatar lendo "Pariscop", 230 páginas, edição de capa de 27 de maio), há centenas de salas com clássicos do passado - em cópias novas, versões originais e, especialmente, produções vindas de todos os países do mundo.
Mas nem por isso, o governo francês abandona o cinema. A jornalista Any Bourrier, correspondente do "Jornal do Brasil" informava na segunda-feira do projeto "Festa do Cinema", que o [ministro] Jack Lang, da Cultura, vem estimulando há 6 anos, e que com pacotes de filmes oferecidos e ingressos reduzidos, ampla promoção, este ano se estenderá também a outros países ([Indonésia], Uruguai, Colômbia e até o Brasil). Em Curitiba, se acontecer, deverá ter coordenação de Jean Gabriel Albicoco, da Belas Artes, embora, em Curitiba, esta distribuidora esteja sendo extremamente prejudicada pela péssima administração e orientação do Cine (Luz) conveniado, para lançamento de produção que distribui.
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