Furtado, autêntico ou moderado?
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 02 de fevereiro de 1977
Mesmo que não venha a obter a liderança do MDB na Câmara Federal, o deputado Alencar Furtado já conseguiu uma projeção nacional ao se lançar como candidato, enfrentando o atual líder Laerte Vieira. Os mais importantes jornalistas políticos da imprensa nacional tem analisado a questão e ainda domingo, Rubem de Azevedo Lima, na Folha e São Paulo, lembrou que "a candidatura do deputado Alencar Furtado à liderança do MDB é uma tentativa de ressurgimento do grupo autêntico, da oposição. Do outro lado, entre os adeptos de Alencar, a insistência em considerar a luta para substituir o atual líder Laerte Vieira uma questão acima dos interesses do grupo. A ingenuidade, eis a característica marcante da competição na bancada emedebista da Câmara, em que os contendores, aparentemente, ainda se respeitam. Porém, mais dia, menos dia, estarão descarregando suas baterias, rompendo o instável equilíbrio parlamentar do partido".
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Como lucidez, Azevedo Lima observou que justamente nos pontos de mais destaque de Laerte Vieira - a tarimba parlamentar e o gosto pelo debate político institucional - residiriam as maiores fraquezas aparentes de Alencar. "O parlamentar paranaense, contudo, tem tido oportunidade de trazer à cena numerosos problemas econômicos, com relativo sucesso e bastante desenvoltura, lembra o jornalista paulista, recordando o episódio da atuação de Alencar no confronto que teve com o ex-ministro Delfim Neto, quando no plenário, interpelou Delfim sobre problemas de reservas de divida externa. Naquele mesmo dia, em 1973, Laerte investiu, vigorosamente contra o ex-titular da Fazenda, mas em termos políticos apenas. De Alencar, também não se pode ignorar a atuação que teve na CPI sobre empresas multinacionais, bem como os pronunciamentos que fez a respeito do quadro econômico-financeiro do País, o que levou Rubem de Azevedo Lima a concluir em seu comentário que "a impressão de ação programada é mais nítida no comportamento de Alencar do que no de Laerte Vieira".
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Outro trecho da análise de Lima, pinçado para nossos leitores: "Apesar do que se diz, o representante do Paraná tem sido cauteloso nos atos e nas palavras, o que aliás, o leva a ser menos pronto que Laerte, nas discussões. Ninguém imagina o que seria o confronto de Alencar com o arenista José Bonifácio, mestre em expedientes parlamentares pouco ortodoxos, mas que já não surpreendem o experimentado Laerte". E por último: "É possível que Alencar, venha a surpreender, se escolhido líder e, em vez da ação inflamada, não se incline para o suicídio, mas para a sobrevivência, pois alimenta, com fundadas esperanças, perspectivas de conquistar o governo do Paraná, pelo voto direto".
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