História da Filosofia e os Índios do Hingú.
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 15 de janeiro de 1975
A Filosofia, em sua forma mais radical e especifica, acha-se significativamente inserida na aurora mesma do fluxo civilizatório do Ocidente: ela é, a um só tempo, seu percurso fático e sua continuada presença histórica. O Ocidente portanto, tem sido antes de tudo - uma vontade a serviço do pensamento. Por isso mesmo a filosofia ocidental, como fenômeno cultural típico, é a enunciação racional e a explicação articulada das sugestões e das impregnações poético-místicas que irromperam com Hesíodo e Homero, fazendo convergir o foco de seu poder normativo para o modo de ser e existir do povo helênico. Seu universo é o discurso convincente e analítico dos objetos e das realidades que dão sentido ao mundo e a sua língua de uma vez para sempre é a língua grega que deu caráter unitário e singularidade universal ao povo grego e onde se instalou a faculdades ordenadoras do "Logos", derrotando as dimensões menos exigentes do mistério e as imposições até então incontrastáveis da magia.
Assim, a iniciativa da Zahar em lançar no Brasil a magnifica coleção "História da Filosofia" (Idéias Doutrinas), sob a direção de François Chatelet, da Universidade de Paris VIII, num total de oito volumes, veio oferecer aos estudiosos de nosso país uma obra básica. Três novos títulos acabam de aparecer reunindo textos de Adamov-Austrusseau, Ferdinand Alquilé, Gilles Deleuze, F. Duchesneau, C. Salomon-Bayet e Roland Desné, praticamente esgota o movimento filosófico do século XVIII. No volume 6. "A Filosofia do Mundo Científico e Industrial" (de 1860/1940), estão ensaios de J. Bernhardt, J. T. Desanti, F. Duchesneau, A . Philonenko, J. M. Rey, R. Scherer e R. Verdenal. No volume 7, "A Filosofia das Ciências Sociais" (de 1860 aos nossos dias), encontram-se finalmente estudos em que se evidencia da unidade das ciências sociais, fundamentada numa filosofia específica que assegura a função cultural das ciências humanas, quer abordando o indivíduo na sua singularidade existencial (Psicologia), quer o examinem em sua interação com os outros homens (Sociologia), quer estudem as criações do espirito humano que resultam da interação social (Etnologia, Antropologia): ou ainda o relacionamento do Homem com a Natureza (Geografia) ou pesquisem os fenômenos que o individual na escala zoológica e instrumentalizam a comunhão humana (Lingüística), ou se dediquem à própria ação transformadora do homem (História).
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Outro lançamento fundamental da Zahar: "História da Revolução Francesa", de Albert Soboul, em 2a edição, na Biblioteca de Cultura Histórica. Albert Soboul, professor na Sorbonne, procura neste livro de 544 páginas, tradução de Hélio Polvora, explicar a Rovolução Francesa pela contradição existente entre as relações da produção e o caráter das forças produtoras, realizando assim uma análise dialética da revolução que se situa no próprio coração da história do mundo contemporâneo, na encruzilhada das diversas correntes sociais e políticas que dividiram e infelizmente ainda dividem as nações.
Nas livrarias a terceira edição do admirável "Hingu/Os Índios, Seus Mitos", dos irmãos Orlando e Cláudio Villas Boas, enriquecido com ilustrações de Poty Lazarotto, prefácio do professor Kenneth Steven Brecher, do Instituto de Antropologia Social da Universidade de Oxford. Trata-se de um dos mais belos livros já publicados sobre os índios do Parque do Xingu - e que merece atenção não só de antropólogos e estudiosos, mas todos que se interessam por coisas de nosso Brasil, 211 páginas.
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