E Jair levou o lobisomem da Carmela para Portugal
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 05 de junho de 1988
Jair Mendes levou para Portugal uma exposição de desenhos na base do realismo fantástico sobre o tema "Carmela e o Lobisomem". O catálogo é bonito e um texto bem humorado de Valêncio Xavier surpreende os lusitanos se eles não tiverem senso de humor. Xavier começa dizendo que Curitiba "é um dos poucos lugares do mundo onde ainda existem lobisomens". Depois de explicar que Curitiba é uma cidade que "não tem mar nem mulatas tão ao gosto dos colonizadores portugueses", tendo, em compensação invernos longos, Valêncio conclui: "o que obriga a amores curtos pois tirar a roupa para se entregar às práticas amorosas, abrigado numa casinha de madeira ornada com lambrequins, na gélida periferia da cidade, não é mole, exige um fogo de paixão muito grande e, de preferência, um amante peludo".
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Em sua ironia, Valêncio lembra até o fato que foi manchete da Tribuna: Um marido, pedreiro de profissão, aos carinhos da esposa, sadio exemplar da raça humana, preferiu os enroscos com uma ovelha lanuda. O fato, absolutamente verídico, saiu nos jornais: "ao se ver preterida, a esposa surpreendendo os dois amantes no seu leito nupcial, numa crise de ciúmes, armou-se de uma espingarda de caça e fuzilou... a ovelha. Por que a ovelha e não o marido adúltero? Não sei" diz Valêncio.
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Jair Mendes está expondo os desenhos da série "Carmela e o Lobisomem" na galeria Tempo, em Lisboa. Depois vai viajar pelo interior do país e Espanha, sem pressa para voltar. Além de visitar museus e castelos, Jair também aproveitará para conhecer os mosteiros trapistas. Embora tenha se recuperado da crise mística que o atacou há dois anos - e que o fez ermitar por seis meses no interior da Lapa - Jair ainda não abandonou totalmente um projeto existencial que o fascina: doar todos os seus bens terrenos, renunciar totalmente aos prazeres da carne e acabar seus dias como um frade trapista, comendo apenas os frutos da terra.
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