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Aramis

Os combates literários do experiente Quintella

A edição praticamente simultânea de dois romances - "Combati o bom combate" (relançado pelo Clube do Livro, 172 páginas) e "Amor às Vezes" (contos, Record) está animando ao escritor Ary Quintella, normalmente avesso às viagens, a aceitar alguns convites para fazer palestras e debates. Hoje, com as novas regras do marketing cultural, os autores têm que deixar a privacidade de suas bibliotecas e encontrarem o público, especialmente os jovens, interessados em conhecer o homem antes da obra. O projeto Encontro Marcado, idealizado e coordenado por Araken Távora, provou a importância de se levar os escritores aos públicos jovens e se, no início, Araken tinha dificuldades para preencher seus programas, hoje acontece o contrário: há filas de espera de autores interessados em se integrarem ao projeto patrocinado pela IBM-Brasil. Ary Quintella não está programado, imediatamente, no Encontro Marcado, mas pela Reocrd, através de um bom trabalho jornalístico, vem expondo sua visão do mundo, fazendo com que aumente o interesse pelos seus livros - "Cão vivo, leão morto", "Titina", "Sandra. Sandrinha", "Combati o bom combate" (agora reeditado pelo Clube do Livro, e que já teve tradução para o polonês) e agora "Amor às Vezes". Ary tem opiniões contundentes. Em relação à crítica diz: - "O crítico brasileiro é uma figura de ficção. A crítica fica sempre submissa ao espaço dos veículos e ao que o editor quer. Principalmente os mais novos têm suas matérias cortadas. Mas a crítica sempre foi favorável a mim. Em toda a minha vida só tive uma crítica desfavorável. E foi por um problema pessoal". Em 1971, Ary publicava um livro de contos chamado "Um certo senhor tranquilo". Agora, ao lançar "Amor às Vezes", reuniu doze contos urbanos, escritos com a sua tradicional linguagem seca. Mantendo seu estilo nervoso, Quintella trata mais uma vez dos relacionamentos sociais, sua diretriz política. E de emoções: - O Wilson Martins sempre diz que tenho que prestar mais atenção na seqüência narrativa. O Jorge Amado também diz a mesma coisa. Até concordo, em parte. Mas não estou muito preocupado com isso. Antes só tinha o branco e o preto. Hoje, acho que o predominante é o cinza. Tudo mudou muito. O que é uma obra de arte? Para mim ela deve ter dois objetivos: ser uma denúncia, uma crítica, e ao mesmo tempo, tem que ser bonita. Arte é isso. Se eu não despertar um tipo de emoção no leitor - raiva, amor, tédio, irritação - não adianta nada. A seqüência narrativa é o menos importante. Neste seu novo livro, Quintella leva o leitor a vier momentos de perversão, sadismo, violência e paixão. Segundo o escritor, são sentimentos de amor muito presentes, que tenta tratar sob várias manifestações. Assim, o leitor vai encontrar uma série de personagens, desde os jovens que tratam seus carros como objetos sexuais, até a prostituta que não escolhe com quem vai se deitar ou os críticos de TV que chegam a orgasmos sexuais numa discussão sobre o Carnaval. Ary Quintella está trabalhando um novo livro, um romance que está tentando escrever há três anos: - "Quero escrever este romance para provar a mim mesmo que sou capaz de escrever uma obra de fôlego. Já tive várias idéias. Quero escrever sobre uma mulher. Este seria o personagem fundamental do livro. O problema é que no caso do romance, você não pode parar de escrever. Tem que ser todo dia - sábado, domingo, feriado. E não estou conseguindo fazer isso. Não tenho nem o problema de falta de inspiração. Isto porque nunca escrevo inspirado. Às poucas vezes que tentei foi um fracasso. O problema mesmo é a falta de tempo". Aos 62 anos, colaborador e membro da comissão de redação do Suplemento de Minas Gerais, Ary Quintella publicou seu primeiro livro aos 35 anos. Nos últimos anos, voltou-se a livros juvenis - "Cão Vivo, Leão Morto" (80), "Titina" (82) e "Mamma Mia!" (1984), sendo que com "Cão Vivo..." representou o Brasil no concurso internacional de livros para jovens a International Reading Association, de Nova Iorque, e recebeu os prêmios da Câmara Brasileira do Livro e da Associação de Críticos de Arte. Inquieto, tem muitos projetos, nem pensar em aposentadoria. - Quem se sente maduro e realizado é um homem morto. LEGENDA FOTO - Ary Quintella: quem pensa em aposentadoria é um homem morto.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
05/06/1988

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