Koellreutter (em livro e ao vivo) está na cidade
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 12 de setembro de 1985
(H.J. Koellreutter é o nome.
Para o grande público, um desconhecido. Para a comunidade musical de elite, significa um dos grandes teóricos da criação musical. Há quase 50 anos no Brasil (chegou ao Rio de Janeiro, em 1937). Hans Joachim Koellreutter. 70 anos completados no último dia 2, influenciou muito a nossa música. Não só na erudita, mas também forjou toda uma geração de grandes músicos populares, entre os quais Severino Araújo, Lindolfo Gaya (que hoje reside em Curitiba). Tom Jobim, K-Chimbinho e Moacir Santos, entre muitos outros.
Koellreutter estará, hoje, em Curitiba, para o lançamento de "Introdução à Estética e à Composição Musical Contemporânea", ensaio de Bernardete Zagonel e Salete Maria La Chiamulera (Editora Movimento, de Porto Alegre) sobre a obra do grande teórico.
Bernardete Zagonel, professora e musicóloga, da Escola de Música e Belas Artes e da Universidade Federal do Paraná, conheceu Koellreutter há alguns anos da época em que fazia tese de mestrado em São Paulo. Da admiração e da amizade pelo grande mestre, nasceu a disposição de aprofundar um estudo sobre as idéias de Koellreutter, que contou com a participação de Salete Maria La Chiamulera. Agora, às vésperas de uma viagem à Europa (Bernardete fará doutorado em musicografia, na Sorbonne, em Paris, a partir de outubro, e Salete disputará o Concurso Chopim, de piano, em Varsóvia), as duas estão lançando esse livro importante, que o editor Carlos Jorge Apel acrescentou à já respeitável coleção de ensaios musicais que sua casa publicadora vem divulgando nos últimos anos.
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Ainda no último domingo, o respeitado João Marcos Coelho, crítico paulista de jazz e música erudita, publicou emocionante texto, a propósito dos 70 anos de Koellreutter, destacando a contribuição do mestre à cultura musical no Brasil. Em especial a criação do grupo Música Viva. O nome foi retirado da revista que Scherchen dirigia na Suíça (posteriormente, a partir de 1940, Koellreutter também editou no Rio uma revista com esse nome) e a estrutura do movimento foi emprestada na Sociedade Mundial de Execuções Privadas, que Schoenberg, Berg e Webern conduziram em Viena durante 3 anos, a partir de 1919. A música serial da segunda escola de Viena, via Koellreutter, recolocou o Brasil em sintonia com os movimentos musicais contemporâneos. - "País chafurdava num nacionalismo estrito e míope, sob a égide de Mário de Andrade", lembra Coelho, acrescentando: "Cláudio Santoro e Guerra Peixe foram seus dois mais representativos alunos - e o fato de que ambos hoje não praticam estritamente o dodecafonismo não significa desrespeito ao mestre, já que uma das máximas de Koellreutter, que ele cultiva sistematicamente, é: "Duvidem sempre do que ensino"
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Polêmico, inquieto, criativo, o curriculo de Koellreutter é intenso: foi violinista da Sinfônica Brasileira, fundou a Escola Livre de Música em São Paulo (1952/58), criou a Escola de Música da Bahia (1954) e dirigiu os institutos Goethe, em Munique, Nova Delhi e Tóquio, entre 1962/1975. Responsável pela vinda de dois outros grandes músicos ao Brasil - Ernst Mahle (hoje em Piracicaba) e Walter Smetak (na Bahia até à sua morte, há 2 anos). Interpretando e explicando a visão estética e musical de Koellreutter, Bernardete e Salete oferecem, agora, ao público, um importante livro. Motivo,certamente, de orgulho, para o velho respeitável mestre, que hoje aqui estará com as duas discípulas.
LEGENDA FOTO 1- Salete e Berenice: um livro sobre Koellreutter.
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