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Aramis

O glamor da missa na interpretação de Jack

O cinema norte-americano tem alfinetado a Igreja Católica. O segredo da confissão ("A Tortura do Silêncio") (l Confess, 1952, de Alfred Hitchcock ), a luta pelo poder na hierarquia do Vaticano ("O Cardeal", "Monsenhor") ou conflitos existenciais de sacerdotes em crise ("O Poder e a Glória", esta com base no romance de Graham Greene) se contrapõem aos líricos musicais que, nos anos 40, emolduravam uma visão idílica das comunidades religiosas norte-americanas. Uma vigorosa peça sobre os conflitos entre um seminarista (Mark Dolson/Zeljko Ivaneck), um padre cinquentão (Farley/Jack Lemmon) e um monsenhor radical e o conservador (Burke/Charles Durning) tornou-se um filme seguro, forte, que fascina aos que sabem apreciar as interpretações de gabarito. Lemmon, hoje aos 60 anos, quase 40 de vida profissional, é o melhor ator norte-americano em atividade. Suas interpretações valorizam os filmes dos quais participa, sempre com aquele toque de suave humor, que não elimina a dramaticidade. Ator provindo dos palcos, aos quais, esporadicamente, retorna, Lemmon se sente sempre à vontade, num filme de origens teatrais, sabendo obter dele o máximo rendimento. Há alguns anos, era o quase estreante Bob Clark que o tinha como a grande sustentação na belíssima e emocionante transposição, para a tela, da peça "Tributo". Agora, é outro jovem diretor, Glenn Jordain, que chega com o pé-direito e a felicidade de encontrar em Lemmon o grande intérprete para a figura amiga, simpática - ora acovardada e acomodada, mas, no final, assumida - do padre Farley, pastor de uma comunidade urbana, bem situada, apreciador de vinhos finos e que, de repente, tem seu mundo questionado com a chegada de um rebelde e inquieto seminarista, Mark (esplêndida estréia do ator iugoslavo Zeljko Ivaneck). Diálogos inteligentes - que o roteirista Bill C. Davis soube manter de sua própria peça - levam "Crise de Consciência"(Cine Lido l, até sexta-feira) a crescer a cada sequência. Ampliado, na ação, para sequências exteriores, em agradáveis ambientes arborizados de uma grande cidade, deixando os cenários internos da montagem vista nos palcos de Nova Iorque, "Mass Appeal"questiona as verdades da religião. Sem propor rompimentos de dogmas ou conflitos intransponíveis, discute, entretanto, questões importantes, satirizando, inclusive (e a partir do titulo original), o próprio marketing da missa, tema atualíssimo haja vista o cada vez maior esvaziamento das igrejas (católicas) no Brasil, mas que, nos Estados Unidos, ao menos pelo que se vê nesse "Crise de Consciência", ainda tem bom público. "Crise de Consciência"é exemplo de filme que teria condições de fazer sucesso junto a faixas específicas de público, especialmente religioso, se tivesse um pré-lançamento inteligente, destinado a setores religiosos. Infelizmente, estreando sem qualquer cuidado, tem renda fraca e dificilmente permanecerá em cartaz. Bill Conti, uma das revelações da música para o cinema, criou uma esplêndida trilha sonora, com toques renascentistas. No elenco de apoio também ótimos intérpretes, especialmente Louise Latham, que, como a governanta Margaret, rouba as cenas em que aparece e mereceria uma indicação ao Oscar de melhor coadjuvante. "Crise de Consciência", filme oportuno, moderno e emocionante, verdadeira liçãode como ótimos intérpretes valorizam uma peça transposta para o cinema.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
7
12/09/1985

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