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Aramis

Lemmon, o ator que reflexiona a idade

Jack Lemmon (Boston, 8 de fevereiro de 1925) não é apenas um dos três melhores atores do cinema americano surgidos nos últimos 40 anos, como uma pessoa preocupada com causas nobres. Difícil justificar porque a sua perfeita interpretação do septuagenário Jack Tremont não lhe valeu ao menos uma nova indicação ao Oscar de melhor ator - ele que há 35 anos, em sua terceira atuação cinematográfica ("Mr. Roberts", 55, de John Ford / Mervin LeRoy) recebia a estatueta de melhor coadjuvante. A questão da velhice, do tempo fugitivo que faz com que aquela definição de Clifford Odest (1906-1963), mereça sempre ser lembrada - "a juventude é uma coisa linda: eu sei porque um dia também vivi" - estão presentes em sua obra. Seja na única experiência que fez apenas como diretor "Ainda Há Fogo sob as Cinzas" (Kotch, 1972), seja em muitos personagens que interpretou ao longo de uma das mais dignas carreiras do cinema, especialmente o envelhecido e falido industrial Harry Stoner de "Sonhos do Passado" (Save the Tiger), de John C. Avidson, que, em 1973, lhe deu o Oscar de melhor ator. Em "Kotch", baseado numa novela de Katharine Topkins, Lemmon se limitou a dirigir seu maior amigo (e companheiro em vários filmes), Walter Matthau (Nova Iorque, 01/10/1920) e sua esposa, a atriz Felicia Farr (raramente vista em filmes, desde que com ele casou) numa história eterna sobre as relações de um idoso (Kotch / Matthau) e sua família de muitas crianças. Portanto, é totalmente compreensível que hoje, aos 65 anos, um superstar americano, Lemmon tenha aceitado interpretar Jack Tremont, tão logo leu o roteiro de David Goldberg. E que também não tenha reclamado de, já idoso, ficar ainda mais velho, submetendo-se durante as filmagens a cansativas sessões de maquiagem do especialista Dick Smith, que, há seis anos, havia obtido o Oscar na categoria de maquiagem pelo envelhecimento de F. Murray Abrahms como o Saliere em "Amadeus". Também raspou os cabelos para ficar ainda mais envelhecido. Igualmente, Olympia Dukakis, 60 anos, e que há três anos era desconhecida no Brasil (por ter feito sua carreira basicamente no teatro) - Oscar de melhor coadjuvante em "Feitiço da Lua" (Moonstruck, 1987, de Norman Jewison) também envelheceu para criar a irascível Beth Tremont, dedicada, apaixonada - mas com menos fantasias do que o seu companheiro de meio século, Jack. Entre o Harry Stoner na crise dos 50 anos em "Sonhos do Passado" a Jack Tremont no outono da vida em seus 78 anos, na galeria dos grandes personagens criados por Jack Lemmon, há outro momento que completa este vértice em torno da vida: o nervoso arquiteto Harvey Fairchild, inconsolável no dia em que completa 60 anos em "Assim é a Vida" (That's Life!, 86), uma afetuosa produção em família que com risos e muitas "gags", discutia também a família e a velhice.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
29/05/1990

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