O que não veremos no Brasil
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de abril de 1988
Os filmes que conseguem indicações as categorias principais já estão no Brasil - ou logo estarão sendo lançados. É verdade que algumas distribuidoras, como a Alvorada (ex-Gaumont) bobeiam e perdem uma excelente promoção. Por exemplo, "Ironweed", do porteño-paulista Hector Babenco - e que valeu a Jack Nicholson e Merryl Streep concorrerem como intérpretes - já deveria estar lançado, mas ainda não há previsão de estréia.
Dos que disputaram o Oscar de melhor filme estrangeiro, não há ainda nada marcado: se o troféu fosse para "Adeus, Meninos", de Louis Malle - o grande vencedor do Cesar (o Oscar do cinema francês) e que encerrou o IV FestRio - talvez sua estréia comercial fosse apressada. Mas o vencedor nesta categoria foi uma zebrona: o dinamarquês "O Festim de Babette", que mesmo em Los Angeles teve poucas projeções, conforme reclamavam, até há poucos dias, os membros da Academia.
"A Família", de Ettore Scola - hoje consagrado no Brasil após "O Baile", deve chegar até as nossas telas, mas de "Assinatura Aprovada", não há, até agora, maiores negociações.
Desenhos animados, documentários - curtas ou longas, que são indicados ao Oscar, raramente têm distribuição fora dos Estados Unidos. Nas festas anteriores, ao menos eram vistos, no momento das indicações, breves fragmentos dos concorrentes. Este ano, eliminou-se esta informação visual. E só na indicação dos candidatos o melhor desenho animado, houve um pouco de criatividade, com o camundongo Mickey, também sexagenário, dividindo com o ator Tom ("Magnum") Selleck, os nominados.
Na montagem do espetáculo - quem o teria dirigido? (Infelizmente, os créditos não foram apresentados e assim se ignorou os responsáveis pela produção) este ano optou-se pela intercalação das seqüências dos cinco candidatos ao Oscar de melhor filme ao longo dos 180 minutos da festa, com os artistas mais conhecidos fazendo as diferentes apresentações para anunciar "the winner is...". Assim uma Glen Close grávida, ao lado de Michael Douglas - que ela tanto atormenta em "Atração Fatal" (o filme-canalha do ano, merecidamente esquecido de qualquer premiação) anunciaram a melhor atriz coadjuvante, prêmio dos mais justos: Olympia Dukakis, por sua esplêndida criação de uma mulher de 60 anos em "Feitiço da Lua" (e ela tem apenas 38 anos, linda e jovial, como mostrou ao subir para receber o prêmio) é um dos pontos altos deste filme de Norman Jewison, que também mereceria ter levado o Oscar de melhor coadjuvante para o veterano Vincent Gardenia. Mas, dos males o menor: Sean Connery, 57 anos, pela primeira vez indicado ao Oscar, por seu humano personagem em "Os Intocáveis", mereceu este prêmio. E para anunciar a premiação de melhor coadjuvante, Cher - com vestidos e penteados bem mais discretos do que aqueles que usou na festa do ano passado - ao lado de Nicholas Cage, seu parceiro e romance em "Moonstruck".
No final da festa, um pouco de ação: enquanto Paul Newman, charmoso e elegante (foi premiado em 1987, em sua 7ª indicação, por "A Cor do Dinheiro", mas não quis ir receber o troféu) anunciava o nome de Cher como melhor atriz, o mestre de cerimônia Chevy Chase, dava um streak improvisado: caía as suas calças no palco. Uma cena que nem chegou a ser cômica.
Logo depois, o mais bem sucedido ator negro da atualidade, o comediante Eddie Murphy, deu um toque que, com boa vontade, se pode até considerar como político - dentro do marasmo que foi esta 60ª festa em comparação aos anos anteriores. Falou de que foram raros os negros premiados até hoje com o Oscar - "coisa que a Academia faz de 20 em 20 anos". E, brincando - mas, por certo com alguma ironia, acrescentou:
- Assim, minha vez talvez chegue lá pelo ano de 2.010...
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