O tempo não leva as coincidências
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de abril de 1988
Quem se liga a cabala até pode fazer suas interpretações. Há 49 anos, em sua 12ª edição, a festa do Oscar contemplava "E o Vento Levou" com 8 Oscars - e mais um nono, especial - o troféu Irving G. Thalberg - ao produtor David O. Selzenick (1902-1965).
Vinte anos depois, "Ben Hur", indicado em doze categorias, levava 11 troféus - um record ainda imbatível.
Este ano, "O Último Imperador" - uma produção multinacional - produtor-executivo inglês, associado a Columbia Pictures (americana), dirigido por um italiano e com uma história ambientada na China - conquistou os nove prêmios a que foi indicado.
"E o Vento Levou", na festa realizada a 23 de fevereiro de 1939, em banquete no Baltimore Hotel, levava os prêmios de filme, atriz (Vivian Leight) ator coadjuvante (Thomas Mitchel), atriz coadjuvante (Hattie McDaniel, por sinal a primeira negra a receber o Oscar), direção, montagem, direção de arte, roteiro adaptado, fotografia em cores. Mas era derrotado, em algumas categorias: Clark Gable, por exemplo perdia o Oscar de melhor ator para Robert Donat ("Adeus Mr. Chips"), a trilha sonora de Max Steiner perdia para Herbert Suthart ("O Mágico de Oz"), e os troféus de som e efeitos especiais para "Noite de Pecado" e "As Chuvas Chegaram", respectivamente.
Vinte anos depois, mesmo levando onze Oscars, "Ben Hur" perdia numa 12ª indicação: em roteiro adaptado quem levou o boneco dourado foi o desconhecido Neil Peterson por "Almas em Leilão" (Romm at the Top).
Coincidência: há 30 anos, exatamente, na noite de 26 de março de 1958, no RKO Pantages Theatre, a 30ª festa do Oscar, também dava a um filme com nove indicações, nove Oscars: "Gigi", musical inspirado no romance da francesa Collete, saía com os prêmios de filme, direção (Vicente Minelli), roteiro adaptado (Alan Jay Lerner), fotografia em cores (Joseph Ruttenberg), direção de arte, figurinos, montagem, canção ("Alan Jay Lerner/Frederick Loewe) e trilha sonora.
Este ano, coube a "O Último Imperador" emplacar os nove Oscars para os quais foi indicado.
Quanto isto vale? Olhem as filas que se formarão a partir de amanhã no cine Bristol, e terão uma idéia de quanto o marketing do Oscar funciona. Aliás, não é sem tempo para que o antigo cine Marabá, tão esvaziado nos últimos anos - e depois das demoradas reformas ali ocorridas - volte a ter sessões lotadas - como nos cinco meses, há 30 anos, quando exibia "A Família Trapp".
LEGENDA FOTO - Com o pacote de Oscars obtidos, a carreira de "O Último Imperador" (cine Bristol, a partir de amanhã) está garantida: terá casas lotadas no mínimo por dois meses.
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