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Vento leva os livros no Paraná com apenas 81 pontos de vendas

Um número para ser analisado por todos que falam tanto em educação e cultura: em todo o Paraná - um dos Estados de maior prosperidade econômica do País, de tanto otimismo oficial - não passam de exatamente 81 pontos de vendas de livros. Não chegam a ser nem mesmo 81 livrarias, mas sim pontos de vendas - pois incluem bancas de jornais e revistas ampliadas, lojas de departamento (com gôndolas dedicadas a best-sellers), postos de gasolina e algumas farmácias. A situação não é muito diferente do Brasil, já que milhares de municípios não dispõe de um único local em que se comercializem livros. E quando existem pontos de vendas a opção não passa dos best-sellers e obras de consumo mais fácil. Imaginar prateleiras recheadas de títulos, é impossível num país em que paradoxalmente parece existir mais editoras do que pontos de venda. Apesar deste limite de mercado, quando há gente competente as vendas fluem. O carioca Carlos Alberto, que há pouco mais de um ano assumiu a representação regional da Distribuidora Record tem percorrido o Paraná em todas as direções, procurando, inclusive, ampliar os pontos em que a editora fundada por Álvaro Machado (1925-1991) possa chegar com seu amplo e diversificado catálogo, que a fez hoje a maior casa publicadora do País. Para conseguir esta liderança, além de gente ágil e competente como Carlos Alberto - mais do que um vendedor de livros, um verdadeiro agente cultural, conta muito o catálogo de obras capazes de atingir faixas diversas de leitores, com best-sellers internacionais. Há duas semanas a Record tem um novo pote de ouro nas mãos: simultaneamente a 40 outros países, fez uma tiragem inicial de 50 mil exemplares de "Scarlet", de Alexandre Ripley, a continuação de "... E O Vento Levou" de Margaret Mitchel. Três mil exemplares desta edição (tradução de Pinheiro de Lemos, 848 páginas, Cr$ 12 mil) - que teve seu lançamento mundial no último dia 25 - já foram colocados em pontos de vendas do Paraná, obviamente com a maior quantidade nos 28 existentes em Curitiba - onde existem livrarias de gabarito como da rede Curitiba, a Nova Ordem (de Aramis Chain, o mais competente livreiro do Paraná), dos simpáticos Guerreiro & Guerreiro e da recém-inaugurada "Lilith", da jornalista Bebeth Gurgel do Amaral - a primeira livraria feminista do País (funcionando no 1º andar da galeria Schaffer, na Rua XV de Novembro). Contratada há três anos - e mantido o texto em total segredo até há um mês (quando algumas poucas revistas do mundo, no Brasil a "Cláudia", apresentaram pequenos trechos de um capítulo), a continuação de "... E O Vento Levou" - obra escrita pela sulista Margaret Mitchel (1900-1949), publicada em 1936 - e que três anos depois transformou-se no mais famoso filme de história do cinema (consagrando a inglesa Vivian Leight e Clark Gable) - traz uma questão interessante: até que ponto o romantismo épico de uma história ambientada no aristocrata a escravagista old south americano poderá motivar os leitores de hoje, passados 54 anos? A publicidade é massificante e os volumes financeiros envolvidos são incríveis: com os direitos de publicação nos EUA e no Canadá cedidos pela Warner Books por 4,95 milhões de dólares e a cessão dos outros países já tendo alcançado mais US$ 5 milhões, nenhum dos muitos editores em todo o mundo se descuidou das campanhas de marketing para garantir o investimento (no Brasil, a Record não divulgou os valores pagos a Warner, nem o total da verba que está aplicando em sua promoção). Nos EUA, a Warner já investiu US$ 600 mil para uma primeira etapa promocional de "Scarlet", incluindo duas aparições da autora Alexandre Ripley no programa de televisão Good Morning America (dias 25 e 26 de setembro), uma entrevista na rede CNN (25/setembro), um tour por 25 cidades, a visita da autora a vários centros de vendas, entrevistas, anúncios etc. No Brasil, há duas semanas, a imprensa nacional vem dedicando os mais generosos espaços as vendas deste best-seller por antecipação e que há dez dias é o novo point de conversas de pseudo-intelectuais das dondocas e "frangas" soçalaite: "Que tal, querida, já leu "Scarlet"? Eu ainda não terminei, mas estou a-d-o-r-a-n-d-o!" LEGENDA FOTO - Alexandra Ripley nas águas de Margaret Mitchel: em "Scarlett" a continuação de "... E o Vento Levou", um best-seller pré-fabricado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
06/10/1991

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