Vento leva os livros no Paraná com apenas 81 pontos de vendas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de outubro de 1991
Um número para ser analisado por todos que falam tanto em educação e cultura: em todo o Paraná - um dos Estados de maior prosperidade econômica do País, de tanto otimismo oficial - não passam de exatamente 81 pontos de vendas de livros. Não chegam a ser nem mesmo 81 livrarias, mas sim pontos de vendas - pois incluem bancas de jornais e revistas ampliadas, lojas de departamento (com gôndolas dedicadas a best-sellers), postos de gasolina e algumas farmácias.
A situação não é muito diferente do Brasil, já que milhares de municípios não dispõe de um único local em que se comercializem livros. E quando existem pontos de vendas a opção não passa dos best-sellers e obras de consumo mais fácil. Imaginar prateleiras recheadas de títulos, é impossível num país em que paradoxalmente parece existir mais editoras do que pontos de venda.
Apesar deste limite de mercado, quando há gente competente as vendas fluem. O carioca Carlos Alberto, que há pouco mais de um ano assumiu a representação regional da Distribuidora Record tem percorrido o Paraná em todas as direções, procurando, inclusive, ampliar os pontos em que a editora fundada por Álvaro Machado (1925-1991) possa chegar com seu amplo e diversificado catálogo, que a fez hoje a maior casa publicadora do País.
Para conseguir esta liderança, além de gente ágil e competente como Carlos Alberto - mais do que um vendedor de livros, um verdadeiro agente cultural, conta muito o catálogo de obras capazes de atingir faixas diversas de leitores, com best-sellers internacionais. Há duas semanas a Record tem um novo pote de ouro nas mãos: simultaneamente a 40 outros países, fez uma tiragem inicial de 50 mil exemplares de "Scarlet", de Alexandre Ripley, a continuação de "... E O Vento Levou" de Margaret Mitchel. Três mil exemplares desta edição (tradução de Pinheiro de Lemos, 848 páginas, Cr$ 12 mil) - que teve seu lançamento mundial no último dia 25 - já foram colocados em pontos de vendas do Paraná, obviamente com a maior quantidade nos 28 existentes em Curitiba - onde existem livrarias de gabarito como da rede Curitiba, a Nova Ordem (de Aramis Chain, o mais competente livreiro do Paraná), dos simpáticos Guerreiro & Guerreiro e da recém-inaugurada "Lilith", da jornalista Bebeth Gurgel do Amaral - a primeira livraria feminista do País (funcionando no 1º andar da galeria Schaffer, na Rua XV de Novembro).
Contratada há três anos - e mantido o texto em total segredo até há um mês (quando algumas poucas revistas do mundo, no Brasil a "Cláudia", apresentaram pequenos trechos de um capítulo), a continuação de "... E O Vento Levou" - obra escrita pela sulista Margaret Mitchel (1900-1949), publicada em 1936 - e que três anos depois transformou-se no mais famoso filme de história do cinema (consagrando a inglesa Vivian Leight e Clark Gable) - traz uma questão interessante: até que ponto o romantismo épico de uma história ambientada no aristocrata a escravagista old south americano poderá motivar os leitores de hoje, passados 54 anos?
A publicidade é massificante e os volumes financeiros envolvidos são incríveis: com os direitos de publicação nos EUA e no Canadá cedidos pela Warner Books por 4,95 milhões de dólares e a cessão dos outros países já tendo alcançado mais US$ 5 milhões, nenhum dos muitos editores em todo o mundo se descuidou das campanhas de marketing para garantir o investimento (no Brasil, a Record não divulgou os valores pagos a Warner, nem o total da verba que está aplicando em sua promoção). Nos EUA, a Warner já investiu US$ 600 mil para uma primeira etapa promocional de "Scarlet", incluindo duas aparições da autora Alexandre Ripley no programa de televisão Good Morning America (dias 25 e 26 de setembro), uma entrevista na rede CNN (25/setembro), um tour por 25 cidades, a visita da autora a vários centros de vendas, entrevistas, anúncios etc. No Brasil, há duas semanas, a imprensa nacional vem dedicando os mais generosos espaços as vendas deste best-seller por antecipação e que há dez dias é o novo point de conversas de pseudo-intelectuais das dondocas e "frangas" soçalaite:
"Que tal, querida, já leu "Scarlet"? Eu ainda não terminei, mas estou a-d-o-r-a-n-d-o!"
LEGENDA FOTO - Alexandra Ripley nas águas de Margaret Mitchel: em "Scarlett" a continuação de "... E o Vento Levou", um best-seller pré-fabricado.
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