Técnica policial na captura dos jovens
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 24 de fevereiro de 1985
Atrair o adolescente para a leitura é desafio mais difícil do que conquistar as crianças menores para as primeiras leituras. Afinal, o pré-adolescente - partir dos 10/11 anos, já não aceita as estórias de bichos, a magia simples capaz de envolver os menores. Criado numa sociedade de super-informação, ele passa a exigir uma leitura mais realista - capaz de lhe responder a muitas (e naturais) indagações.
Para este público há também leituras das mais apropriadas. Por exemplo, Eliane Ganen com seu "O Outro Lado do Tabuleiro" (Editora Record, 128 páginas) ganhou o Prêmio Alfredo Machado Quintella em 1983.
Endereçado de princípio a um público jovem, ele é deliciosamente degustado também pelos adultos capazes de analisar com maior profundidade o alto nível do texto, uma constante na literatura de Eliane Ganem desde a sua estréia há dez anos passados ("Sigismundo do Mundo Amarelo").
Neste seu interessante livro policial e de mistério Eliane Ganem cria um personagem marcante: Tide, uma senhora de 72 anos com o espírito criativo e o otimismo de uma jovem. Aliás, ela lembra um pouco a simpática Miss Marple, personagem querida de Agatha Christie. E Tide é a personagem que conduz esta estória envolvente e capaz de prender aos jovens leitores.
Outro escritor que usa a estrutura do romance policial clássico como atrativo de leitura e, em cima disso, questiona o descrédito que a sociedade tem pelo jovem é José Louzeiro em seu novo livro, "A Gang do Beijo" (Editora Nova Fronteira, 180 páginas), o primeiro que escreve para o público juvenil "A Gang do Beijo" é uma história que focaliza a vida de um grupo de adolescentes, estudantes secundários, em suas peripécias do dia-a-dia e nas aventuras em que as envolvem ao ocorrer um assassinato em seu colégio. José Louzeiro é conhecido pelos seus numerosos romance-reportagens, baseados em fatos reais, muitos deles aproveitados no cinema (como "Pixote, a lei do mais fraco") e agora traz este interessante livro - real, generoso e sincero, por isto mesmo estabelecendo uma boa empatia com o público-alvo.
Finalmente, Assis Brasil também publica um novo livro destinado ao público infanto-juvenil: "Zé Carrapeta, o Guia de Cego" (Editora Record, 120 páginas) que recebeu o Prêmio Alfredo Machado Quintella, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil em 1983.
Neste romance para jovens, Assis Brasil conta a história de Tinoco e de Ribamar, também conhecido como o Zé Carrapeta do título, e Petinha, que formam uma dupla bastante conhecida no interior brasileiro, especialmente no Nordeste: um cego e o seu guia. Com estes elementos, Assis Brasil construiu uma aventura onde estão presentes o folclore nordestino, a pobreza das cidades e a humanidade de seus habitantes.
Para Naumin Aizen, especialista em quadrinhos e literatura infantil, membro da comissão julgadora do Prêmio Alfredo Machado Quintella, Assis Brasil escreveu um "romance muito bem construído, em que nada é demais, em que nada falta. Os personagens todos são gente - vivos e humanos. O fim do livro - a carta da mãe que acaba chegando às mãos do filho - é emocionante, bem real, bem Brasil. Ao lê-lo, me emocionei e me diverti: espero que o leitor passe pela mesma experiência. Para mim, o autor é romancista profundo conhecedor de seu ofício".
Realmente. Assis Brasil é um profissional das letras: entre romances, livros, de contos e infanto-juvenis, ensaios e crítica literária, sua obra soma 44 títulos publicados, numa carreira literária iniciada há 32 anos com "Verdes Mares Bravios", um livro também para jovens leitores.
Enviar novo comentário