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Aramis

Hoje é a vez de um leitor muito especial: a criança

Num livro recentemente lançado no Brasil ("Como Ensinar o seu Filho a Ler", José Olympio Editora, 124 páginas), Glenn Domann coloca a questão sobre a idade em que se deve começar a ensinar uma criança a ler. Cita o caso de um especialista em desenvolvimento infantil, que respondendo a esta pergunta, feita por uma mãe, indaga; - Quando nascerá seu filho? - Oh, ele já tem cinco anos! - responde a mãe. - Minha senhora, vá correndo para casa. A senhora perdeu os cinco melhores anos da vida de seu filho, para ensinar o menino a ler. Realmente, se há uma questão que preocupa educadores, pais e mesmo as autoridades mais conscientes é o fórmula (mágica?) para estimular as crianças a ler. Pode-se levantar uma dezenas de hipóteses justificando a dificuldade de fazer com que as crianças se interessem pela leitura. Em primeiro lugar, o fantasma da televisão e outros meios visuais-eletrônicos de entretenimento (vídeo-games, vídeo-tape). Os interesses diversos desta nova geração - com um novo código de informação. O custo dos livros. Enfim, explicações não faltam. Mas vejamos o que acontecia no passado. O cinema - então com todo seu ritual mágico, distante do conforto doméstico - oferecia também programas, embora limitados a horários pré-fixados (ao contrário da televisão). As histórias em quadrinhos eram combatidas como "perniciosas" à infância e juventude e concorrentes diabólicas de "boa" leitura. Hoje, os antigos e malditos gibis são matéria de estudo e dando um exemplo nacional, o arquiteto Jaime Lerner, ele próprio um ex-apaixonado por quadrinhos, quando de sua segunda administração municipal, implantou em Curitiba a Gibiteca na galeria Schaffer. Livros infantis existem. Há muitas editoras que se voltam exclusivamente para esta faixa, projetos notáveis como o "Ciranda de Livros" patrocinado pelas Hoescht proporcionam que excelentes pacotes com o que há de mais interessantes, cheguem as crianças carentes. Bibliotecas públicas com divisões infantis-juvenis se espalham pelos bairros - e mensalmente dezenas de novos títulos são lançados. Livros atraentes, com ilustrações, em cores - destinados a diferentes faixas etárias, em opções das mais salutares. Portanto, se de um lado há a preocupação de que muitos milhões de crianças não adquirem o hábito da leitura, por outro lado existe um esforço de editores, escritores, professores e autoridades para que cresça o número de apaixonados por livros - única forma do fortalecimento de nossa indústria editorial. Há 34 anos, a admirável poeta e educadora Cecília Meirelles (Rio de Janeiro, 1901-1964), já reunia num volume três de suas conferências proferidas em Belo Horizonte sobre "Problemas da Leitura Infantil", no ano passado reeditado pela Nova Fronteira. Com a lucidez que caracterizava a autora de "Cancioneiro de Inconfidência", se preocupava com a questão da literatura infantil e salientava nos seus esclarecedores textos a sua importância e alguns de vários aspectos de um dos mais ricos e complexos tipos de comunicação escrita. Abordando tópicos de permanente utilidade, como o conceito de livro infantil, a sua qualidade, o velho hábito de ouvir histórias, as obras significantes e não, a exploração da riqueza do mundo interior da criança, o papel do herói, e outros, a autora fornecia dados que delineiam os contornos de um setor à parte no mundo da literatura. Assim, quando se põe em questão este assunto - sempre merecedor de discussões e reflexões - "Problemas da Literatura Infantil" é obra indispensável, por ser uma súmula de ensinamentos valiosos para todos aqueles que certamente encontrarão na voz de Cecília a opinião abalizada de uma de nossas maiores autoridades no assunto em todos os tempos. Glenn Doman em "Como Ensinar o seu Filho a Ler" - obra que nos referimos na abertura deste comentário - prova aos pais que as crianças são muito mais inteligentes do que os adultos supõe. Em seus estudos sobre o crescimento intelectual da criança. Doman mostra que temos subestimado a capacidade que as crianças possuem de aprender enquanto se divertem. Assim sua obra acentua a alegria que envolve todo o processo de aprendizagem infantil. A Summus é uma das editoras preocupadas em discutir a questão da leitura infantil e entre os muitos - e importantes - títulos editados está "O estranho mundo que se mostra às crianças", de Fanny Abramovich, jornalista, educadora, escritora - uma das personalidades mais up to date em termos de literatura infantil. Neste livro (168 páginas, volume 13 da coleção "Novas Buscas em Educação") estão alguns dos textos mais significativos de Fanny. Eles abordam cinco temas, sempre dentro da perspectiva criança e educação. Os temas são Literatura, Discos, Teatro Infantil, Televisão e Brinquedos. A autora teve o cuidado de acrescentar comentários de atualização ao final das matérias um pouco mais antigas e que, nem é preciso dizer, são de uma atualidade indiscutível. Em cada tópico, temos a ótica do adulto (a autora) e a da criança, questionando o produto. Por meio deste volume temos um panorama crítico da produção cultural destinado ao público infantil - tanto de origem nacional como a estrangeira - não só a literatura, mas a TV, os discos etc. A posição de Fanny é extremamente lúcida, na medida em que ela não ataca nem elogia, pura e simplesmente. Há, isto sim, uma sólida fundamentação psicopedagógica em todas as posições que ela assume. A linguagem é bem aquela que os leitores e admiradores de Fanny se acostumaram a apreciar: leve, direta, irônica quando necessário, incisiva quando preciso, sempre atingindo o alvo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Leitura
23
24/02/1985

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