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Na Rosa dos Tempos, o texto é das mulheres

Os números são otimistas. Apesar de toda a crise, o mercado editorial continua a crescer, como mostram as estatísticas das editoras. Um movimento de quase um bilhão de dólares com a publicação de 10.000 títulos e cerca de 250 milhões de exemplares. Apesar do preço do livro continuar subindo, as listas de best-sellers ampliam-se. Alfredo Machado, dono da maior editora do país - a Record - se preocupa em fazer de sua casa não apenas uma editora de best-sellers banais mas vem melhorando cada vez mais o catálogo (principalmente após ter adquirido os direitos autorais dos escritores que por décadas foram exclusivos da José Olympio), concorrendo com as ágeis Francisco Alves, Companhia das Letras, Brasiliense, Nova Fronteira e Rocco, entre outras. A última jogada de Alfredo Machado foi de ampliar sua participação no mercado feminino - que, segundo levantamento recente, representa 70% do público que adquire livros. Para isso associou-se a uma nova editora de características especiais, criada no último trimestre de 1990 por três mulheres inteligentes e dinâmicas: A Rosa dos Tempos. Rose Marie Muraro, 60 anos, 5 filhos, 11 netos, possivelmente a mais conhecida feminista do Brasil e com experiência na área editorial, mais a explosiva atriz e deputada Ruth Escobar, uma das fundadoras do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher e Laura Civita, jornalista há anos ligada às revistas do grupo feminino da Abril. A elas, acrescenta-se Neuma Aguiar, professora e ex-presidenta da Down / Mudar, uma das mais importantes organizações femininas da América Latina. A idéia nasceu de um encontro informal na mansão de Ruth Escobar, e começou a se viabilizar a partir do interesse de Alfredo Machado, presidente da Record (que só no ano passado imprimiu mais de 5 milhões de livros), que colocou seu moderníssimo parque industrial (tem um sistema de composição eletrônica e a impressora Cameron que faz 10 mil exemplares por hora) à disposição. Assim, com um esquema nacional de distribuição e vendas, os primeiros oito lançamentos da Rosa dos Tempos chegaram às livrarias no final de 1990 - e estão tendo as vendas intensificadas neste mês de janeiro, aproveitando o espaço esvaziado por outras editoras que preferem entrar em férias. O jovem Carlos Alberto Tonassi Maia, competente gerente regional de vendas da distribuidora Record, está entusiasmado com a aceitação que encontrou para os dois primeiros títulos que recebeu - "Os 6 Meses em que Fui Homem", de Rose Marie Muraro e "Uma Voz Diferente", da professora americana Carol Gilligan. Revistas femininas e jornais nacionais - além da televisão, em programas especiais, estão divulgando bastante a nova editora, através de suas bem articuladas diretoras - que falam bonito e com firmeza. A jornalista Laura Civita, por exemplo, define a nova editora como "pós-feminista", explicando: - "Feminismo é quando você está denunciando, se queixando. É o primeiro momento, revolucionário, de quebrar tudo. Agora é o momento da reconstrução, quando já sabemos o que queremos mudar nas relações, na economia, na filosofia". Teorização a propósito do espaço que os livros escritos ou destinados ao público feminino não falta. Rose Marie Muraro, por exemplo, diz: "feminista hoje significa a mais feminina das mulheres. Livramo-nos da pecha de lésbicas ou criaturas mal-amadas, para assumir uma nova condição. Nós, mulheres, renovamos o mundo com os nossos desejos, protegemos o planeta perpetuando a vida". Além de um menu amplo e variável de títulos (ver texto à parte), a Rosa dos Tempos quer também abrir espaço às novas escritoras. Ruth Escobar diz que "lançando agora um concurso nacional chamado "A Voz Feminina", aberto à participação das ficcionistas de todo o país, queremos ajudar as milhares de mulheres que querem ser escritoras no Brasil a publicar seus contos, suas histórias - pois o mais comum é elas darem com a cara na porta das grandes editoras". Algumas escritoras paranaenses - mesmo já com livros publicados regionalmente - animaram-se com esta abertura nacional. Amigos que conhecem a quantidade de (excelentes) textos inéditos de Regina Benitez, uma das mais premiadas contistas paranaenses, tem nas gavetas de seu escritório, estão insistindo para que a autora de "A Moça do Corpo Indiferente" envie seus originais à nova editora, pois tem amplas condições de serem escolhidos para publicação. LEGENDA FOTO - Três feministas na Rosa dos Tempos Editorial: atriz Rute Escobar, jornalista Laura Civita e escritora Rose Marie Muraro.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
13/01/1991

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