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Aramis

Livraria, livros e uma nova editora.

Aramis Chaim, proprietário da "Nova Ordem", na Rua Carneiro Lobo, colocou à venda sua livraria. Com isto os professores, estudantes e intelectuais que freqüentam a livraria estão preocupados. Chiam é um livreiro que sabe conservar a sua freguesia, atender a todos com atenção e gentileza, fazendo de cada freguês um amigo. A exemplo do histórico Carlos Ribeiro, proprietário da "São José", no Rio, Aramis Chaim é uma espécie de "mercador de livros", incapaz de grosserias e desatenções para com o público. O fato de decidir dedicar-se a outros setores é sintomático. Diminui cada vez mais o número de livrarias da cidade, que, no ano passado já teve mais lojas do que as de hoje. Setor difícil, que exige dedicação e bom relacionamento, o mercado de livros, revistas e publicações ressente-se também da crise, que leva mesmo habituais fregueses a restringirem suas compras, selecionando mais rigorosamente os títulos que escolhem. Xxx O problema da falta de livrarias é nacional. Há centenas de municípios que não dispõem de uma única livraria limitando-se os pontos de vendas de livros (geralmente best-sellers, de nível discutível) a papelarias, bancas de jornais e mesmo farmácias ou supermercados. O problema da distribuição é o que mais asfixia o mercado editorial, pois no frigir dos ovos, os distribuidortes geralmente grupos nacionais acabam ficando com mais de 50% do resultado de vendas, enquanto ao autor sobram magros 10%. Xxx Apesar de tudo continuam aparecendo novas editoras. O grupo que vem editando o jornal "Lampião", órgão da imprensa nanica que representa a minoria gay, ampliou suas publicações para livros, com um conselho editorial formado por escritores e jornalistas: Darcy Penteado, Aguinaldo Silva, Francisco Bittencourt, Jean Claude Bernardet, João Silvério Trevisan, Gasparino Damata, Antonio Chrysostomo, Adão Costa e Clovis Marques. A proposta da Esquina é editar apenas autores, (ensaistas e ficcionistas) que apresentem, em suas obras, propostas alternativas de vida. E para começar, decidiu relançar "Escola de Libertinagem", do Marques de Sade (Donatien-Aldonse François, 1740-1814) não confundir com Jorge Carlos Sade, o dono da Acaiaca - em tradução de Aguinaldo Silva. Garantem os entendidos que este é o livro mais importante do maldito marques na verdade uma sumula de sua obra: cinco pessoas, reunidas numa mansão, entregues à mesma tarefa a busca da sexualidade sem limites ocupam-se em recriar os ritos de amor do ser humano, livrando-os das hipocrisias e dos freios impostos pelas convenções. Publicado em 1968, a "Escola de Libertinagem" foi logo proibido. Agora é relançado, em edição de 180 páginas, Cr$ 300,00. As próximas, edições da Esquina, serão igualmente polêmicos: "Historias de Amor", de vários autores; "Os Textos Malditos do Maldito João do Rio" e "Homossexualidade e Repressão", do australiano Dennis Altman. Xxx Enquanto os autores paranaenses continuam, salvo raras exceções, confinados a edições domésticas, escritores de outros estados continuam a obter lançamentos nacionais. A Ática, de São Paulo, em sua coleção "Autores Brasileiros", acaba de lançar livros de contos do goiano W. Bariant Ortencio ("Estórias de Crimes e do Detetive Waldir Lopes", 224 páginas, Cr$ 280,00) e do mineiro Wander Piroli ("A Máquina de fazer Amor", 80 páginas, Cr$ 120,00). Xxx O Teatro de Bolso, na Praça-Rui Barbosa, realmente não está tendo muita sorte. Submetido a reformas, está novamente funcionário mas sem ter ainda encontrado o seu público que, nos anos 60, ali prestigiava as comédias e dramas montados por Ary Fontoura à frente da Sociedade Paranaense de Teatro. Há uma semana, ali vem sendo apresentada pelo grupo AMI, de Belo Horizonte, a peça "Tupy or not tupy", do mineiro Miguel Resende, uma das premiadas da Feira Nacional de Humor. Sábado passado foram distribuídos 500 ingressos e apareceram 10 espectadores. E a média de público tem sido pequena, embora, para hoje, se espere uma maior presença, já que os críticos Jairo Arco e Flexa, de "Veja" e Clovis Garcia, de "O Estado de São Paulo" membros da comissão que premiou o texto - ali estarão. Também o autor, Walmir José, deve estar na cidade. O diretor é o também ator Miguel Resende - que divide a interpretação com duas belas atrizes Socorro Simas e Teresa Campos, esta considerada uma espécie de Marlene Dietrich do teatro das alterosas suas pernas (que generosamente mostra no palco).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
9
01/11/1980

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