Réquiem para dois mágicos pianistas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 24 de fevereiro de 1985
A morte de Bill (Wiiliam John) Evans, há seis anos passados, retirou do jazz moderno um dos mais elegantes, claros e emocionantes pianistas e compositores. Poucos músicos contemporâneos conseguiram realizar uma obra tão esplêndida em termos de criação/interpretação quanto estes americano nascido em Plainfield, Nova Jersey, a 16 de agosto de 1929 e que a partir de 1953 desenvolveu carreira das mais respeitáveis. Sem dúvida que o período de 8 meses que trabalhou com Miles Davis, em 1958, foi fundamental para a abertura de horizontes musicais de Bill Evans que, formando um trio com Eddie Gomez (baixo) e Marty Morell (bateria) durante seis anos (eventualmente, outros bateristas com ele trabalharam: Joe Hunt, Philly Joe Jones, Eliot Zigmund) viajou por todo mundo. Há 9 anos, chegou numa de suas vindas a América do Sul a se apresentar por duas noites no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto para um reduzido público.
Felizmente, nestes últimos anos, os melhores álbuns gravados por Bill Evans tem sido editados no Brasil. A WEA lançou sua produção mais recente, a Polygram colocou ao alcance dos jazzófilos brasileiros suas históricas sessões na Verve e a Barclay complementa com outros memoráveis registros de Bill Evans - como este "New Jazz Conceptions" (Riverside), gravado em Nova Iorque, entre os dias 18 a 27 de setembro de 1956.
Na época, Bill dividia seu trio com o baixista Teddy Kotick (a parceria com Gomez somente se iniciaria posteriormente) e o baterista Paul Motian. Na época, Bill já desenvolvia temas próprios - como "Five", "Displacement", "No Cover, No Minimum" e "Waltz for Debby" - que se transformaria num clássico. Mas no esplêndido repertório deste álbum - editado no Brasil no ano passado pela Barclay - estão também momentos privilegiados de Cole Porter ("I Love You"), George Shearing ("Conception"), Webster/Ellington ("I Cot It Bad and That Ain't Good"), Nash-Weill ("Speak Low"), Tad Cameron ("Our Delight) e Hart-Rodgers ("My Romance"). Não é preciso acrescentar mais nada: um dos mais interessantes discos de pano no jazz dos esplendorosos anos 50.
Se Bill Evans, ao morrer, já era um nome respeitado no Brasil - onde, salvo engano, fez temporadas em duas ocasiões - Bobby (Roberto Henry) Timmons, ao falecer, vítima de cirrose, em Nova Iorque, a 1º de março de 1974, não teve o menor obituário na imprensa nacional. Afinal, este pianista, vibrafonista e compositor nascido na Philadelfia, em 19 de dezembro de 1935, era um nome mais conhecido dos frequentadores dos night-clubes e bares de Greenwich Village do que do público que só acompanha o jazz por discos. Embora autor de clássicos como "Moanin" - que escreveu quando trabalhava com o baterista Art Blakey, em 1958 - ou "Dat Dere", escrito e gravado quando atuava no conjunto de Cannonbal Adderley (1959/60), Bobby Timmons nunca havia tido um álbum editado no Brasil até o ano passado, quando, dentro do excelente pacote jazzístico com que presenteou o público brasileiro, a Barclay incluiu este fundamental "This Here Is Bobby Timmons" - verdadeira antologia dos melhores momentos deste pianista-compositor, incluindo seus "Moanin" e "Dat Dere".
Aos primeiros acordes já se sente aquele piano envolvente, dinâmico - lembrando a fase mais descontraída de Dave Brudeck ("Time Further Out", por exemplo), mas - e isto é importante - com características muito próprias. Gravado nos dias 13 e 14 de janeiro de 1960, "This Here Is" trouxe Bobby Timmons acompanhado por Sam Jones no baixo, Jimmy Cobb na bateria - num trio perfeito. Poucos discos de jazz surgidos nestes últimos meses nos dão um prazer tão grande quanto este esplêndido, moderno e original Bobby Timmons - um artista que necessita (e merece) ter seus outros álbuns também lançados no Brasil.
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