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Aramis

A lanterna mágica do mestre Bergman

Aos poucos, a filmografia do mais importante cineasta sueco - e um dos cinco maiores nomes do cinema contemporâneo - Ingmar Bergman, começa a ser colocada a disposição em vídeo. Embora até o momento nenhuma locadora tenha se encorajado a investir nas edições de sua obra anterior aos anos 70, é possível que o interesse demonstrado por uma faixa de consumidores por "A Hora do Amor" (The Touch, 1971), com Elliot Gould, Bibi Anderson e Max Von Sydow (122 minutos, fotografia de Sven Nykvist) e, especialmente, "Fanny e Alexander" (1982, com Pernile Alwin, Bertil Guve) - já editadas pela Pole Vídeo (que também colocou no mercado um documentário sobre a realização de "Fanny & Alexander") estimule a mesma distribuidora a trazer outros títulos. Apesar de identificado por uma obra complexa e cerebral - algumas de difícil entendimento por platéias menos atentas - há muitos títulos na extensa filmografia de Bergman, 70 anos, 43 de cinema, que alcançarão grande interesse. Seria o caso do delicioso "Sorrisos de Uma Noite de Amor" (Sommarnattens Leende, 1955) - homenagem prestada a Shakespeare (e que inspirou ao seu maior fã americano, Woody Allen, "Sonhos Eróticos Numa Noite de Verão", 82); "O Sétimo Selo" (Det Sjunde Inseglet, 1956); "Gritos e Sussurros" (Viskningar, 73); "O Ovo da Serpente" (Das Schlangenei, 1979) - este rodado em Munique. Enfim, Bergman é um cineasta da maior dimensão, autor completo de seus filmes e que desde 1954, quando seus "Noites do Circo" (Gycklarnas Afton, 53) passou a ser valorizado pela crítica paulista (especialmente Walter Hugo Khouri, então redator d'O Estado de São Paulo, e até hoje o seu maior discípulo continental) mesmo antes dos europeus se voltarem a sua genialidade - tem um público sempre ampliado. xxx Para conhecer melhor ao diretor de "O Rosto", nada melhor do que a leitura de sua autobiografia: "Lanterna Mágica" (tradução de Alexandre Pastor, 289 páginas, editora Guanabara), que sai no Brasil poucos meses após ter sua primeira edição na Suécia. A introdução é de Fernando Gabeira, jornalista, ecologista, líder do Partido Verde e que tendo vivido alguns anos na Suécia (como exilado político) fala que "os próprios suecos não se reconheciam, até há alguns anos, nos filmes de Bergman" - de difícil entendimento para a maior parte dos espectadores. Hoje, seus filmes - principalmente os mais antigos - são melhor absorvidos e diz Gabeira: - Com o passar dos anos deixei de procurar a visão de Bergman no cotidiano sueco. Sua obra era muito mais do que isso. O que importava se era sueco, grego ou canadense? A dimensão de seus dramas era universal, planetária. Realmnete, os filmes de Bergman (como os de Fellini e, hoje, de Woody Allen) têm uma empatia a todos os homens do mundo, por abordarem o maior de todos os temas: o sentimento humano. Sua obra é riquíssima e, neste seu "Lanterna Mágica" não há uma biografia formal, detalhada - mas sim as reflexões de um dos gênios de nosso século, um homem-sentimento que em cada filme - assim como nas inúmeras montagens teatrais que nunca deixou de fazer - sempre colocou a sua sensibilidade, a sua emoção. Entre vários livros com perfis biográficos, "Lanterna Mágica" está entre os mais significativos dos que foram editados este ano.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Vídeo
8
10/11/1988

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