Livro de mineiro
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 12 de dezembro de 1980
Depois de ter realizado uma espécie de "relatório Kinsey tupiniquim" ("Comportamento sexual do brasileiro", agora em 3ª edição) onde não teve tempo de pesquisar o comportamento dos paranaenses, o jornalista mineiro Delcio Monteiro de Lima, 48 anos, 23 de profissão, dedica muitas páginas de seu novo - e explosivo - livro, "Os Senhores da Direita" (Edições Antares, lançado quarta-feira, dia 10, no Rio de Janeiro) a conhecidos paranaenses - com citações pessoais de homens que ocupam cargos de importância. Jornalista polêmico e que gosta de levantar grandes assuntos, Delcio - correspondente da regista "Visão" em Minas Gerais, onde também atua na televisão, como entrevistador arguto, passou vários meses pesquisando as organizações de direita. Surpreso com a presença forte do Integralismo no Sul - especialmente no Paraná e Rio Grande do Sul, seu livro deverá ter grande repercussão. Sem medo de reações ("ao contrário, os integralistas que já o leram estão satisfeitos, pois acham que o tratamento foi jornalístico, imparcial") e vendo o seu trabalho apenas como informação, Delcio, e linguagem ágil, conjugando o tom quase informal da entrevista com o tom mais sério do documento histórico, traça um perfil da direita no Brasil de nossos dias. Nos explicava, segunda-feira, em São Paulo, Delcio a respeito deste seu novo livro-reportagem: "Nesta época em que o processo de abertura política deixa descontentes as alas conservadoras, apavoradas pelo espectro da infiltração comunista, a direita parece se articular num esforço desesperado para deter o curso dessa liberalização "perigosa", CCC, MAC, GAC, FAC, AAB, VCC, Mão da Democracia, Falange Pátria Nova, tudo isso, hoje é a mesma coisa: direita terrorista".
Sem deixar de citar os nomes que conseguiu - só não revelou os 1.500 integralistas que estariam em importantes posições no Ministério da Educação e Cultura, ali nomeados há cerca de dois anos - Delcio reconhece que "as informações que este livro nos traz sobre a organização dos grupos direitistas no País constituem uma denúncia que não pode, e não deve, ser subestimada. A organização paramilitar em que se vem convertendo a TFP, cujo líder não hesita em afirmar que "a inquisição foi a mais bela página da Igreja"; o ressurgimento do integralismo sob a égide da Associação Brasileira de Cultura, "biombo" de sua rearticulação; a formação da Comissão Nacional de Moral e Cívica, que visava criar uma ideologia de oposição ao comunismo para ser ensinada como disciplina curricular nas escolas do País; o Movimento de Reorganização Neonazista, cuja importância é minimizada pelo antinazismo convencional, mais preocupado com a caça aos fantasmas do passado; o conceito de Segurança Nacional que domina o pensamento esguiano - todos esses tópicos levantados por Delcio Monteiro de Lima.
O livro divide-se em cinco capítulos e ao menos um deles fala em muitos nomes ligados ao Paraná: "Remendando a Camisa Verde"; a adaptação das idéias de Salgado aos novos tempos, os modernos adeptos do Sigma, onde estão os "camisas-verdes" no governo, como cresce a futura AIB e os integralistas prometem barulho são itens que o jornalista mineiro esmiuça em seu livro - a partir da próxima semana já nas livrarias.
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O aparecimento de "Os Senhores da Direita" não poderia estar mais na ordem do dia. Basta ver o número de muros da cidade que tem aparecido pichados com a Cruz Suástica, símbolo do Nazismo - o que conferente importância especial ao capítulo "uma saudade muito louca", Delcio pretende vir a Curitiba fazer uma palestra, autografar seus livros e discutir com os interessados. Basta que apareça uma entidade disposta a convidá-lo.
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