O Canto do Paraná (I)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 12 de dezembro de 1980
Pelo menos dois dos concorrentes da segunda noite na semifinalista (etapa Curitiba) do festival Todos os Cantos, quarta-feira, ao interpretarem suas músicas, lembravam claramente o estilo de artistas ali presentes. O garoto Hardy Guedes Alcoforado Filho, o primeiro a se apresentar, com seu "Beira-Mágoa", mostrou uma canção (não classificada) romântica e identificada - intencional ou por coincidência - com o que Carlinhos Lyra fazia há 20 anos passados. Já Debora Rosa, defendendo a mais sensual música deste festival - "Lobisomem", não deixou de mostrar, em sua forma de cantar a extraordinária Fátima Guedes que, faria o belíssimo show de encerramento. O autor de "Lobisomem", Marcelo Rosa, e um rapaz persistente - sua música, de imagens excitantes e que há alguns anos não passaria pela Censura, foi desclassificada nas etapas de Cascavel (onde impressionou especialmente ao jurado Caetano Rodrigues, pesquisador de música popular), Antonina e Maringá. Insistindo - não desistindo, Marcelo Rosa conseguiu, finalmente incluir sua canção entre as seis selecionadas - e ontem a noite concorreu (embora com poucas chances) a escolha das três que, a partir de hoje estarão disputando a finalíssima. Se persistência valesse prêmios, Marcelo mereceria destaque.
Também se houvesse premiação para intérprete, Marilena Mueller, ao defender "Meu Canto" (Beatriz/Eduardo Cartaxo) mereceria esta premiação. Jovem, bonita e afinada, Marilena foi a melhor surpresa, em termos de interpretação, na noite de terça-feira. A sua maneira sentida de, profunda, de dizer as palavras desta canção contou muitos pontos para a sua classificação - e se chegar ao final (impossível de prever, no momento em que redigimos estas anotações), terá condições de merecer muitos votos. O sambão bem brasileiro esteve representado por duas músicas leves, descompromissadas e de balanço: o Esquadrão do Samba defendeu o interessante "Chega de Miséria" (Maria Carolina Lupion Guimarães) e amparou as "Quatro Panteras" na interpretação de "Mais Vale a Chegada" (Euclides Moreira de Souza), que ontem a noite, disputaram também a chance de chegarem à finalíssima a partir de hoje. Infelizmente, uma das duplas de maior sensibilidade da música do Paraná, Paulinho Vítola e Marinho Galera (responsáveis por "Onze Cantos", do melhor elepê já produzido no Paraná) não tiveram o seu "Pratos Limpos" classificado. Coisas de festival, perfeitamente compreensível!
Ao chegar na etapa de Curitiba, após sete eliminatórias no Interior, esta promoção da Secretaria da Cultura e Esportes vem já limpa de muitos erros que caracterizam eventos desta natureza. Jorge Natividade e Heitor Valente, coordenadores da promoção destinada a revelar novos talentos, procuraram fundamentar o Festival num esquema bem organizado, esforçando-se em dar condições a todos os candidatos de mostrarem suas músicas em total igualdade de condições. Um júri numeroso e com a presença de muitos profissionais da MPB - compositores, instrumentistas, intérpretes - a partir de hoje analisará as 24 melhores músicas pré-selecionadas ao longo de nove meses. Uma gestação suficiente para permitir a que se tome o pulso da criatividade musical. E, como salientamos em registro anterior, mais importante do que as premiações - Cr$ 350 mil, mais um elepê com as 12 finalíssimas, que disputarão os 5 primeiros lugares na noite de domingo - é um trabalho indispensável a ser feito, já a partir da próxima semana, para que o festival não se esgote em sua simples realização.
LEGENDA FOTO. Todos os Cantos no Guaíra.
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