O canto do Paraná (II)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de dezembro de 1980
Hoje e amanhã, últimas noites do festival "Todos os Cantos" (Teatro Guaíra, 21 horas, ingressos a Cr$ 100,00) as torcidas estarão definidas pelas favoritas do público. Já na quinta-feira a noite, quando foram escolhidas as três classificadas da etapa de Curitiba nesta promoção da Secretaria da Cultura e Esportes, se ouviam as torcidas - e apesar de uma das aprovadas ser de Cascavel ("Lobisomem", Marcelo Rosa) o comportamento da platéia foi educado: aplausos a esta canção com letra erótica e que chegou a finalíssima graças a disposição de seu autor, concorrendo em quatro das oito eliminatórias. Rosa Franco Pluner, uma das Nymphas, amparou com sua voz delicada a José Eduardo Dequeche classificar "Um Bem Comum" (parceria com Thaísa de Andrade), enquanto o grupo Ala Breve, com muita torcida garantiu também a "Lição do Pássaro" (Dirceu Torres Ferraz Júnior), sua classificação. A presença de Rosa Franco como intérprete de "Um Bem Comum" compensou a frustração das Nymphas que, apesar do arranjo sofisticado e apuro vocal na interpretação de "Criatura" (Maria Yvete Fontoura) não conseguiram pontos suficientes para concorrer nesta etapa. Outra música romântica e que vinha merecendo elogios mas que também não entrou foi "Canção de Amor" (Misael Zumuner Garaciara Bernardielli), defendida por Sara. Em termos de interpretação, a sensual Selma Castro, cantando "Tem Que Ser Com Amor" (Ricardo Rodrigues/José Roberto Oliva), mereceu muitos aplausos - e se insistir na carreira, trabalhando sua voz e seu visual, tem chances profissionais. Em termos de letra e música, "Sou do Mato" (Luís Antonio Rocha) foi uma das surpresas agradáveis - e mesmo não classificada (embora tivesse tidos vários votos) confirmou o talento de Rocha, compositor voltado às coisas da terra, numa poesia realista e otimista ("A planta cresce, vem o fruto e a semente/Pra esse povo não se mente, não acreditará").
Paralelamente a parte competitiva, os chamados "Shows do Júri", vem merecendo justos aplausos. Na abertura, terça-feira, foi um encontro instrumental com o violonista Sebastião Tapajós, trombonista Raul de Souza, flautista Altamiro Carrilho e Carlinhos Pandeiro de Ouro (Carlos Alberto Sampaio de Oliveira). Na quarta-feira, o balanço de César Costa Filho/Reginaldo Bessa em contraposição a imensa sensibilidade de Fátima Guedes, a grande revelação da MPB nestes últimos dois anos. Na quinta-feira, a noite dos independentes: o pianista Antonio Adolfo (primeiro a optar pela fórmula da autoprodução fonográfica), Maurício Tapajós (fazendo o público vibrar com seu "Pesadelo") e Silvia Maria, hoje uma das mais belas vozes do Brasil e que após um intervalo de seis anos, acaba de fazer um elepê, com oito músicas inéditas. Ontem a noite homenagem a Paulo Soledade, 61 anos, paranaense de Paranaguá - autor de pelo menos dois clássicos da MPB: "Estão Voltando as Flores" e "Um Pequenino Grão de Areia" (parceria com Marino Pinto). Mário Lago, ator, compositor, escritor, conduziu a homenagem, com a participação de Rosana Pimentel (ex-Os 3 Moraes, uma revelação vocal) e Paulo Marques, sambista de ilustre curriculum. Hoje, o show estará a cargo de Billy Blanco, que com Kris e Cristina, mostrará duas músicas inéditas, ao lado de seus grandes sucessos. Amanhã, no encerramento, Carlos e Kate Lyra, mais Célia e o jovem Fabiano.
Na quinta-feira, houve um show extra: a cantora Sandy Tsukiyama, nascida no Hawai, há um ano no Brasil - esposa de Carlinhos Pandeiro de Ouro, emocionou cantando "Wawe" (Tom) e "Looking To Yours Eyes" (grande êxito de [Sarah] Vaughan nos anos 50). Um registro que também deve se fazer: a correção com Léa Kissenberg e Reinaldo Camargo vem tendo apresentação do Festival. Inteligente, sóbrios, apresentam um trabalho altamente profissional.
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