Ecos do Festival
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de dezembro de 1980
A presença de Mário Lago, 69 anos, ator, produtor radiofônico-memorialista ("Na Rolança do Tempo", "Bagaço de Beira de Estrada") para apresentar o show em homenagem ao paranaense Paulo Soledade, na noite de domingo, auditório do Guaíra, teve um sentido nostálgico. Afinal, há exatamente 38 anos, o autor de "Amélia" (em parceria com Ataulfo Alves) não vinha a Curitiba: a última vez que por aqui passou foi em companhia de Joracy Camargo (1898-1973), apresentando-se nos palcos, em 1942. Mas cinco anos antes, em 1937, Mário residiu por um ano em Curitiba. Seu pai, Antonio Lago, foi o primeiro maestro da Rádio Clube Paranaense, quando a "líder" funcionava ao lado das ruínas do São Francisco, numa casa ocupada por uma entidade feminista. Devido às suas atividades políticas no Rio e o rigor do Estado Novo getulista, Mário veio passar algum tempo em Curitiba, sem maiores atividades políticas. Seu pai havia sido convidado para dirigir a parte musical da rádio por um dos fundadores da PRB-2, Flávio Luz.
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Paulo (Gurgel do Amaral Valente) Soledade, com toda a razão homenageado no encerramento do festival "Todos os Cantos", mostrou estar em plena forma. Aceitou todos os convites que seus amigos (e parentes) lhe fizeram e passou três dias num festival de jantares e esticadas. Enquanto alguns, mais moços do que ele, não resistiam, Paulinho - como nos bons tempos do "Zum-Zum" (histórica casa noturna do Rio de Janeiro, onde Aloysio de Oliveira produziu marcantes shows, alguns registrados em elepês) mostrava seu permanente bom humor e sua musicalidade, inclusive revelando duas parcerias com o cronista José Carlos Oliveira, do "Jornal do Brasil". Para interpretar as músicas de Soledade, o produtor Athayde Guimarães Jr. trouxe, além de Rosana - uma nova cantora, que começa a aparecer, o veterano Paulo Marques, 52 anos, que há 22 anos passados foi o primeiro a fazer um elepê exclusivamente com músicas de Billy Blanco ("Doutor em Samba", CBS). E a coincidência de reencontrar Billy, em Curitiba, foi feliz para ambas as partes, que não se viam há anos. Também Marquez nunca havia se apresentado em Curitiba, em teatro. Sua única passagem por aqui foi na década de 60, num programa que Júlio Rosemberg apresentava no Canal 6.
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Apesar de uma salutar preocupação em valorizar os instrumentistas paranaenses, alguns músicos foram contratados em São Paulo para integrar a orquestra do festival que, de terça-feira a domingo, acompanhou os concorrentes de "Todos os Cantos". E entre os músicos arregimentados, estava Gabriel, baixista de renome, que foi por anos integrante do conjunto de Breno Sauer, músico gaúcho, hoje radicado nos Estados Unidos, mas que aqui morou por dois anos, contratado da Boite Marrocos, quando a noite curitibana não era tão vazia como nos dias de hoje. Daquele conjunto, aqui permaneceu o baterista Pirata, há muito tempo afastado da música e arrendatário do restaurante do Círculo Militar do Paraná.
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Em papel mimeografado e sem assinatura, um grupo que se auto-intitula "Nós artistas, integrantes do Movimento Pró-Associação dos Músicos, Compositores e Intérpretes Paranaenses", fez circular domingo no Guairão uma "nota de repúdio", criticando "os projetos culturais do Estado". Como a nota não tinha assinatura que o tornasse mais responsável, o próprio governador Ney Braga, a quem entregaram uma cópia, não deu atenção ao conteúdo.
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