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Aramis

Mamãe Lapa, ainda

"O Cerco da Lapa" ofereceu ao seu autor-diretor Oracy Gembra; um desafio; partindo de um fato real, em termos regionais um dos momentos de maior heroísmo do povo paranaense (embora o comandante da resistência, Antônio Ernesto Gomes Carneiro, fosse mineiro de Serro Frio, 19/11/1846), construir uma peça atual - em que não ficasse no pseud-historicismo, que ainda recentemente deve uma das maiores catástrofes da vida "cultural" paranaense ( "Telemaco,1975). E Gemba sabia que iria lidar com um material delicado, impossível de permitir questionar a validade das atitudes e dos homens que lideraram a resistência, pois isso significaria mexer em vespeiro de tradiçòes, com filhos e netos dos heróis, muitos em posiçòes de destaque. Mesmo tomando todo cuidado, Gemba sofreu pesadas críticas, de alguns lapianos - não por discordância com o texto da peça (que não conheciam), mas julgando o próprio comportamento pessoal do elenco - o que em termos artísticos não importa. Assim como prudência caldo de galinha e chá de erva doce fazem mal e ninguém, Oracy Gemba, preferiu utilizar um esquema que sem ser inédito possibilitou condensar a ação dramática em torno de poucos personagens: uma senhora lapiana, com uma pretensa aristocracia rural, antepõe seu colaboracionismo ao idealismo do cerco, ficando nesta posição, pouco a pouco, solitária, até que ao final, com um discurso patético, acaba conscientizando-se da necessidade da luta, embora sabendo da impossibilidade de vitória. Gemba, como homem de teatro que é sabe que um dos segredos na estrutura de uma peça, é dosar o crescente dramático: a descarga imediata de frases de efeitos, situações densas e momentos de maior intensidade num primeiro ato, acaba prejudicando o desenvolvimento, fazendo com qua a peça se esvaia, se monotonize ao longo do segundo ato - ou da sequência final, quando não há divisão tradicional. A busca deste delicado equilíbrio é o estimulante desafio a qualquer autor e Gemba, por certo, honestamente também deseja conseguí-lo, motivo aliás que o deve ser feito, nos últimos anos, a enveredar pelos caminhos da criação dos textos - inicialmente com uma mística visão da "Via Crucis"e, depois, numa válida preocupação em encenar temas paranaenses, a se voltar a nossa estória & história ("Maria Bueno", agora, "O Cerco da Lapa", em planejamento um outro texto, com tema histórico ainda amntido em segredo). "O Cerco da Lapa", ao contrário de suas duas anteriores encenações ("Arena Contra Zumbi"/Arena Contra Tiradentes") não pretende questionar os fatos da história - o que para Gemba, não seria prudente em nossos dias. Preferiu sair pela tangente, criando mu misto de crônica social com pitadas de pretensões brechtenianas (como ele próprio diz em sua apresentação na revista-programa). Excessos de uma super-representação, gritos, música estridente e até um final bufo de opereta, não invalidam as boas intenções de Gemba - que ao menos tem o mérito de, inquieto, lutar por um teatro de raízes paranaenses. Só que, até agora, com pouco adubo e muito chantily. Mas, afinal, um bom cozinheiro não se faz em apenas um dia. Ou uma década.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
08/05/1976

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