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Aramis

Medo de Amar (I)

"e eu sinto o corpo mole e eu faleço quando você me bole e bole e mexe e mexe e me bate na cara, e em dobra os joelhos e me vira a cabeça mas eu não sei se quero ou se não quero esse insensato amor que eu desconheço e que nem sei se é falso ou se é sincero que me despe e me vira pelo avesso "(Suely costa, "Medo de Amar Nº 2", 1978) Personagens comuns, uma história como tantas outras, ambientes despojados e até um happy end. Com tantos elementos convencionais e que pode fazer de um filme como "Frankie & Johnny" (cine Lido I, 5 sessões) uma pequena obra prima? A resposta é simples. Sentimentos humanos, empatia de getne como a gente, independente de fronteiras geográficas, universais em seus mundos cinzentos, em seus amores & desanmores, encontros & desecontros, alegrias e tristezas. Só para ficar em exemplos recentes, de filmes produzidos nos últimos dois anos nos Estados Unidos que trazem a química de sinceridade mais simplicidade mais ternura, "Frankie & Johnny" lembra "Loucos de Paixão" (White Palace, 1990, de Luís Mandoki) e "Stanley & Iris" (idem, 90, de Martin Ritt. Como Nora Baker (Susan Sarandon) de "Loucos de Paixão", Frankie (Michelle Pfeiffer) é uma garçonete de meia-idade, trabalhando numa lanchonete típica americana, onde conhece um cozinheiro (Al Pacino) que por ela se apaixona. No filme de mandoki, ambientado em St. Louis, Missouri, onde um belo, rico mas solitário yuppie, Max Baron (james Spader), 27 anos, apaixona-se por uma garçonete (Susan Sarandon) após uma noite de bebederia e sexo. Em "Stanely & Iris", como neste "Frankie & Johnny", ambos são persoangens da emsma classe social: Iris King (Jane Fonda) e Stanley Cox (Robert de Niro), operários de uma fábrica. Seis pessoas, cada um com suas feridas de amotres frustrados (não cicatrizadsa), vidas cinzentas, solitários em busca de afeto - mais do que simplesmente sexo - carentes e temerosos de novas desilusões e sofrimentos, personagens de uma galeria que poderia se estender a dezenas de oputros exemplos que opovoaram romances, peças e filmes, desde dramalhões até obras dos mais sensíveis como estes três exemplos maiores de um gênero cinematográfico muito especial: o cinema-de-emoçòes. Surpreendentemente, numa época em que cada vez mais os efeitos especiais, a high-tech, e especialmente a violência dominam a indústria cuenmatográfica, há estes momentos de ternura em filmes que, lançados sem maiores campanhas promocionais, vão conquistando, pouco a pouco, um público que se mostra sensível às emoções humanas (*), motivado especialmente pela recomendação boca-a-boca. Martin ritt (1920-1990), desde sua inesquecível estréia no cinema ("Um Homem tem Três Metros de Altura"/Edge of the City", 56) sempre se msotrou um humanista )mesmo quando dirigiu produções menos artísticas) e, assim, aos seus admiradores (entre os quais sempre nos incluímos) não surpreendeu que seu canto-de-cisne visual tenha sido com um filme tão terno como "Stanley & Iris". Já o mexicano Mandoki havia provado a sua sensibilidade ao contar a história de uma menina paraplégica em sua luta para ter uma vida normal ("Gaby, Uma História Verdadeira"/Gaby, 89) e, em "White Palace" confirmou seu talento. Garry Marshall, com "Uma Linda Mulher" (Pretty Woman, 90) - um dos maiores sucessos de bilheteria dos últimos 2 anos, foi, preconceituosamente recebido por ter feito um sucesso de bilheteria, com dois belos intépretes (Julia Roberts/Richard Gere), roteiro dos mais românticos (de J. F. Lawton) e principalmente a fotografia de Charles Minsky destacando o lado mais sofisticado de Los Angeles. Assim, aqueles que costumam torcer o nariz para filmes que conquistam o público (**), a assinatura de Marshall em "Frankie & Johnny" pode, inicialmente ter afastado uma faixa (aparentemente) intelectualizada (sic) de "cinéfilos", contrários a tese de que a beleza e a sofisticação nem sempre comprometem uma obra artística, muito pelo contrário. "Frankie & Johnny" é não só uma prova de que o sucesso (e o agrado) do espectador que ainda busca o cinema com boas estórias - como mostra que Marshall é um observador do american way of life, como já podia ser observado atrás do humor e luxo de "Pretty Woman" e que reafirma neste seu novo filme, uma profundidade pouco comum dos cineastas de sua geração. Torna-se, inclusive interessante, rever com outro olhar, "Uma Linda Mulher" para sentir melhor o lado mais profundo de um relacionamento inicialmente apenas de convivência entre um próspero yuppie, Edward Lewis (Gere) e uma linda prostituta, Vivian Ward (Julia Roberts, cuja característica deslanchou após este filme), numa linha de encontros & desencontros afetivos - também com aquilo que se pode chamar de medo de amar (ou se entregar aos sentimentos) que marcam estes filmes. xxx As referências a "Loucos de Paixão", "Stanley & Iris" e mesmo "Uma Linda Mulher", num registro sobre "Frankie e Johnny" justificam, em nosso entendimento, para o público que acompanha razoavelmente o cinema contemporâneo - e que tenha visto estas produçòes (duas delas, "Loucos de Paixão" e "Uma Linda Mulher", disponíveis nas boas locadoras) possa melhor observar um conjunto de idéias que aproximam suas temáticas. O cinema hollywoodiano, acusadio tantas vezes de escamotear a questão social LEGENDA FOTO - Frankie (Michelle Pfeiffer) e Johnny (Al Pacino), encontros e desencontros de gente simples num filme da maior emoção em exibição no Lido I.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
08/07/1992

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