Morozowicz, 80 anos de arte ao Paraná
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 24 de abril de 1980
Intercalando-se entre as mais diversas opções musicais - o concerto dos irmãos Caymmi, no sábado passado, o xoroposo som franco-brasileiro da híbrida orquestra de Paul Mauriat, na segunda-feira, o novo som, meio country-pop do Blindagem, grupo local, que na terça e quarta-feira mostraram ao vivo, no palco do Guairão, o seu som, enquanto lançavam seu compacto, produção alternativa, também a vez da dança. O Balé Guaíra, que no dia 19, sexta-feira, voltou a apresentar "Petruchka" com música de Stravinski, direção de Carlos Trincheiras, está se preparando para a temporada de 5 dias, no Teatro Municipal, de São Paulo (1º a 5 de maio), primeira etapa de um roteiro que inclui apresentações em Salvador, Rio, Belo Horizonte e Porto Alegre - repetindo o que aconteceu em 1978, quando "Giselle", Ana Maria Botafogo como solista, também foi levada as principais capitais.
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Nesta quinta-feira, voltamos a fazer um registro que, insistimos, merecia matérias de página inteira e homenagens oficiais - aqui lembradas e sugeridas: os 80 anos do professor Thadeo Morozowicz, pioneiro do ensino da dança no Paraná e um dos primeiros homens a desafiar os preconceitos da Curitiba dos anos 20 e aqui instalar uma escola de dança. Descendente de uma família de artistas, citada em inúmeras obras de grandes nomes da música e dança (Rubinstein por exemplo, em seu livro de memórias), os Morozowicz fazem parte de nossa cultura. Se não mereceu a atenção de ter comemorações oficiais, que se deveriam estender por vários meses, o professor Thadeo, forte, lúcido, vigoroso, compensará a tristeza de não ter ao seu lado, seus três filhos, neste seu 80º aniversário, pela satisfação de sabê-los que estão, em seus trabalhos artísticos, levando a outras platéias, a arte, cujo amor, soube transmitir. Milena, a filha que dirige a escola por ele fundada e que sofrendo, muitas vezes, injustiças e vítima da inveja de muitos medíocres, por escolha do Conselho Brasileiro de Dança, órgão filiado a Unesco, representa o Brasil no Encontro de Dança do Rio da Plata. Hoje, com sua coreografia, as bailarinas Clionise de Barros, Maria do Rocio Infante e Maria Elisa Chueire, no auditório da Aliança Cultural Uruguai-Estados Unidos, apresentarão "três peças conseqüentes", música de Henrique de Curitiba, além de um "improviso", dentro de uma técnica que Milena vem desenvolvendo - e que levou a Helba Nogueira, presidente do CBDD, a escolher o grupo, a representar o Brasil no Uruguai. Henrique, o primogênito, pianista e professor, na Cornel University no Estado de Nova Iorque, onde faz doutorado em composição, mesmo sofrendo com a magra bolsa (cada vez menor, devido a maxivalorização do Dólar), vai ligar para o seu pai e cumprimentá-lo. E do Rio, na impossibilidade de aqui estar, o caçula, Norton, hoje o melhor flautista brasileiro, solista da Sinfônica Brasileira - em plena temporada de 40º aniversário, também estará dizendo, emocionado, o parabéns ao seu pai.
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Personalidades como Thadeo Morozowicz são raras e merecedoras do maior respeito e admiração. 80 anos é uma data significativa na vida de qualquer pessoa e quando a mesma deu de si, idealisticamente, o talento, o entusiasmo, para transmitir a beleza, a cultuar, é merecedora, no mínimo, do respeito e aplausos. Os 80 anos de um cineasta como Luís Buñel ou do sociólogo e escritor Gilberto Freyre - que como Thadeo, nasceram com este século que se aproxima do final, mereceram páginas, homenagens oficiais, retrospectivas etc. Dentro de nossa realidade, da vida curitibana, o trabalho que Thadeo Morozowicz, fez ao longo de mais de 50 anos na comunidade paranaense, o torna, para nós, uma pessoa tão - ou - mais - importante, do que qualquer outro vulto que, neste 1980, chegue ao octogésimo aniversário.
Junto com sua esposa, dona Wanda - como ele, sempre alegre, otimista, representando, melhor do que ninguém a presença da raça polonesa, em sua honestidade, trabalho e dedicação a arte, Thadeo, homem simples, sem vaidades, que nunca buscou favorecimentos oficiais (embora, mais do que ninguém, merecesse um reconhecimento espontâneo), estará feliz - mesmo sem poder abraçar os filhos e os netos (filhos de Henrique, que é o que está mais distante, nos EUA). Afinal, no fundo, ele sabe que, aqueles que, realmente apreciam a arte e a cultura, reconhecem os valores autênticos, estarão felizes por viverem na cidade que ele adotou - e da qual hoje, é mais filho, do que se aqui tivesse nascido, há 80 anos passados.
Mestre Thadeo, nossos parabéns! Pela sua pessoa, pelo seu trabalho, por sua família. Por tudo que o senhor deu a Curitiba, ao Paraná e ao Brasil.
LEGENDA : Cleonise, de balé Morozowicz: hoje, em Montevidéu, representando a dança do
Brasil.
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