MOZART, NA TELA E NOS DISCOS
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de junho de 1985
Premiado com oito Oscars, sucesso em todo o mundo há quase um ano, finalmente chega ao Brasil o mais importante filme do ano: "Amadeus", de Milos Forman. Com sua estréia nacional no próximo dia 27 - em Curitiba, no cine Palace Itália - amplia-se ainda mais o interesse das gravadoras em lançarem discos com peças do genial compositor nascido em Salzburgo, Áustria, há mais de duzentos anos e que continua a ser um dos maiores compositores de todos os tempos.
A Polygram lançou um magnífico álbum duplo com a trilha sonora do filme - perfeito trabalho de Neville Marriner, com a Academy of St. Martin-In-The-Fields e ainda ampliou [o seu] extenso acervo mozarteano, com novos discos de suas peças.
Assim com o violinista Itzhak Periman e o pianista Daniel Bareboim temos em gravação original da Deutsch Grammphon as Sonatas para piano e violino K - 301 e K - 305, gravadas no ano passado em Hamburgo.
Com o Quarteto Amadeus, integrado por Norbert Brainin e Siegmundo Niesel nos violinos; Peter Schidlof na viola e Martin Lovett no violoncelo, o quarteto de cordas em si bemol maior, K -458, conhecido como "A Caça", num álbum que traz também, no lado dois, a famosa peça "Imperador" de Joseph Havdn (1732-1809), contemporâneo de Mozart.
The Academy Of Ancient Music, grupo inglês especializado em música antiga, com instrumentos autênticos e dirigida por Jaap Schroder (primeiro violino) e Christopher Hogwood (cravo), na etiqueta L'Oiseau-Lyre, da Decca Records, apresenta as [Sinfonias] nº 31 em ré maior ("Paris") e a Sinfonia 40, em sol menor.
Finalmente, Malcolm Bilson é o solista de piano, acompanhado pelo English Barroque Soloist, direção de John Eliot Gardiner, gravação da Archiv, com os concertos para piano e orquestra nº 9 (em mi bembl maior) e o número 11, em fá maior.
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Independente dos méritos destas quatro [esplêndidas] gravações, o melhor ainda está no álbum duplo com a trilha sonora do filme. Afinal, quando Peter Schaffer (autor da peça "Amadeus"), o produtor do filme Saul Zaentz e o diretor Milos Forman estavam procurando um regente sinfônico para gravar a extensa partitura musical do filme "Amadeus", eles pediram a quatro eminentes concertistas, inclusive ao pianista checo Ivan Moravec, que submetesse a eles uma lista de três regentes especialmente conhecidos por sua afinidade com a música de Mozart.
"Escolhemos Neville Merriner", disse o produtor Zaentz, "porque seu nome figurava em todas as quatro listas".
Com mais de 300 discos gravados, Marriner é um dos mestres mais prolíficos da história musical. Para "Amadeus" ele gravou a música de Mozart em Londres com a sua famosa ["Academy of St. Martin-in-the-Fields"] - orquestra de câmara que fundou em 1959 e dirigiu até 1978 (quando foi substituído por Iona Brown).
Nascido em Lincoln, Inglaterra, 1924, Marriner começou muito cedo na música, estudando violino. A II Guerra interrompeu seus estudos e ele passou dois anos no exército. Ao voltar a estudar o instrumento, sentiu que não seria um concertista e fundou assim o conjunto "Jacobean", com outros músicos entusiasmados pela música antiga. Apesar disto, de 1952/1956 foi violonista da London Philharmonia, tocando sob a batuta de Toscanni, Furtwangler e Von Karajan. Quatro anos depois foi para a London Symphony Orchestra e durante uma década foi o segundo violinista. Em 1959 fundou a St. Martin-in-the-Fields, que desenvolveu-se como a grande intérprete internacional da música dos séculos XVII e XVIII, gravando para etiquetas de prestígio como a CBS, Argo, Emi e Philips.
Deixou a direção deste conjunto há sete anos para se dedicar a regências de orquestras em vários países (em 1977, estreava no Avery Hall, dirigindo a New York philarmonic, com um programa exclusivamente de peças de Mozart, Marriner fez um trabalho impecável, ao ponto de Peter Schaffer, autor da peça (que no palco não tinha muita música) comentar:
- "Minha preocupação primordial em "Amadeus é que a música deveria ser apresentada de maneira impecável, não apenas tecnicamente, mas como um complemento perfeito ao que está na tela. Não se pode cortar a música para que ajuste o filme. Uma das boas coisas em "Amadeus" é que o filme foi rodado em torno da música - e não ao contrário, como habitualmente é o caso.
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