As mulheres & as teses
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 02 de setembro de 1978
As mulheres estão cada vez mais voltadas à pesquisa e à investigação histórica. Tão logo o reitor Ocyron Cunha decida-se, afinal, a agilizar a Editora da Universidade Federal do Paraná (para qual, há mais de um ano, adormece, grande verba no Banco do Brasil) poderá sair uma dezena, no mínimo, de excelentes teses preparadas por professoras que fizeram o curso de pós-graduação em História Demográfica, só para citar uma área. E enquanto as nossas graduadas não têm chance de verem seus (ótimos) levantamentos sobre diferentes aspectos da história paranaense, nos outros Estados continuam aparecer excelentes teses de doutoramento.
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Por exemplo, a professora Maria Cecília Spina Forjaz teve lançado agora seu estudo sobre "Tenentismo e Aliança Liberal"22 (1927-1930) (Editora Polis, 110 páginas). Apresentadas na Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, a tese da professora Maria Cecília traz novas informações sobre importante fase de transição política do Brasil - com acontecimentos político-militares cujos reflexos são sentidos, até hoje, principalmente nestes quentes meses que antecedem a transição para um novo governo. Maria Cecília demorou-se em sua análise nos contornos da conjuntura de crise sobre que se alicerçaram as relações entre os tenentes e demais grupos dirigentes envolvidos com a liquidação da República Velha. No prefácio, da obra, o professor Sérgio Miceli faz uma interessante observação: "A herança política do tenentismo se escora na contribuição que deram ao trabalho de redefinir os encargos de representação e administração de interesses. Como o forte de sua presença no campo político, era o fato de virarem a mesa pelo recurso à ação direta e violenta, poderia parecer ocioso insistir muito nas justificativas ideológicas que davam a respeito de suas iniciativas. (...) O movimento tenentista é um capítulo crucial da história das formas de dominação na sociedade brasileira, mas nem sempre pelas razões que se costuma alegar".
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Uma das coleções da Editora Símbolo - Ensaios e Memória - vem sendo dedicada apenas a publicação de teses universitárias, bastante polêmicas. Três recentes lançamentos são os trabalhos das professoras Sílvia Maria Manfredi ("Política: Educação Popular"), Vanya Sant'Anna ("Ciência e Sociedade no Brasil") e Elisabete Dória Bilac ("Famílias de Trabalhadores: Estratégias de Sobrevivência"). Sílvia Maria baseia-se na análise das condições históricas particulares que originaram as experiências de alfabetização pelo polêmico método Paulo Freire. E Sílvia abrande certas vinculações deste movimento com fenômenos de ordem, mais ampla do cenário político nacional no início da década de sessenta, com elementos de importância sociológica sobre algumas distinções que caracterizaram quatro experiências de alfabetização realizadas em diferentes regiões do País, durante o Programa Nacional de Alfabetização. Já Vanya Sant'anna parte em seu trabalho sobre "Ciência e Sociedade no Brasil" da hipótese de que a sociedade brasileira jamais equacionou o problema da ciência e tecnologia como fator de desenvolvimento, originando assim a defasagem existente entre o sistema produtivo, e o científico. Finalmente, Elisabete Dória Bilac, demonstra a organização familiar em uma cidade paulista (Rio Claro) procurando abordar o estudo sociológico da família de uma nova maneira: a vida familiar e o mercado de trabalho, "como as tragédias de sobrevivência cotidiana contribuem simultaneamente para a reprodução dessa desigualdade social".
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