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Aramis

Na fria temporada, o MPB-4 recria o "Subdesenvolvido"

Pela primeira vez nos dez anos em que, regularmente, tem vindo a Curitiba, o MPB-4 saiu decepcionado da cidade. Um público reduzido compareceu no auditório de sexta-feira a domingo, perdendo assim um dos bons espetáculos de MPB do ano. Dificilmente Neivo Beraldin double de vereador peemedebista e empresário artístico - conseguirá trazer novamente este grupo vocal a Curitiba. Na noite de sábado, Ruy, Achiles, Magro e Miltinho, nos camarins do teatro, lamentavam o reduzido público. 0 frio polar do último fim-de-sernana pode ser uma causa imprevisível, "mas, a data escolhida não poderia ser pior ", conforme dizia Ruy. Na sexta-feira, o quarteto foi conhecer nosso Litoral, Ruy, Achiles, Magro e Miltinho ficaram impressionados com o número de pessoas em Caiobá e Guaratuba. O comentário de Miltinho foi natural: - teria sido muito mais lógico, fazermos - shows na praia. Da contestação política do. tempo em que faziam shows com Chico Buarque de Hollanda, no mais duro, e negros anos de repressão - e depois com seu supercensurado, espetáculos ("República do Peru", "Bons Tempos, Hein", "MPB no Safari", "Cobra de Coral") a uma fase voltada a uma conquista da faixa do público infantil em "Adivinha o Que É" e agora neste "Caminhos Livres", O MPB se mantém num caminho de grande integridade artística. Se a abertura do atual show é com "Lindo Balão Azul", o terno tema musical de Guilherme Arantes que a Turma do Balão Mágico projetou nacionalmente, o espetáculo não deixa de ter um toque político - embora com clima nostálgico: a "Canção do Subdesenvolvido". Vinte e um anos após, esta música de protesto de Carlinhos Lyra/Francisco de Assis, composta especialmente para a época do Centro Popular da Cultura, entre 1961/62, continua ironicamente atual. Proibida de divu1ga~ao publica desde 1964, a "Cançãodo Subdesenvolvido", arrancou entusiásticos aplausos no encerramento de "Caminhos Livres". Gravada por Carlinhos, no único compacto duplo produzido pelo CPC da União Nacional dos Estudantes, em 1962, "Canção do Subdesenvolvido" continua praticamente inédita fonograficamente. Naquele disco da UNE - lançado nacionalmente em Curitiba, durante um seminário sobre reforma universitária aqui realizado há 21 anos, e que teve um show no auditório Salvador de Ferrante - foi gravado não apenas esta músicas, mas, também outras satiricas cantos de protestos: "Trilhãozinho" (também de Lyra e Francisco de Assis), "Grileiro Vem, Pedra Vai" de Raphael de Carvalho (ator nordestino, falecido há poucos meses); "Zé da Silva é Um Homem Livre" (Geni Marcondes/Augusto Boal e "João da Silva" (ou "O Falso Nacionalista"), de Billy Blanco. A letra desta música do autor de "A Banca do Distrito" era uma espécie de transposição sonora de "Um Dia na Vida de Brasilino" e considerando o ineditismo (forçado) desta gravação, vamos aqui apresentar sua letra. Afinal, há toda uma geração que a desconhece. João da Silva/Cidadão sem compromisso Não maneja disso/Que o francês chama l'argent Pagando royalty/Dinheiro disfarçado É tapeado/Desde às cinco da manhã Com Palmovile/Ao chuveiro dá Combat Usa Colgat/Faz a barba com Gilette Põe água Velva/Paga royalty da fome Do pão que come/Ao leite em pó com Nescafé Movido a Esso vai/Em frente pro batente De elevador Otis/E outros sobe e desce Ele é nacionalista/De um modo diferente Pois toma Rum com Coca-Cola/e tudo esquece Vai com madame ver/Um bom Cinemascope Ela usa nylon/Ele casimira inglesa Entorna uísque em vez de chopp Paga royalty dormindo/Quando esquece a luz acessa Diz que não gosta de samba E acha o rock uma beleza.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Música
Tablóide
12
13/09/1983

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