O mercado e a valorização artificial nas exposições
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de setembro de 1983
Se ao maxivalorizar os quadros que expõe a partir de hoje na Eucat Expo o artista Celso Coppio pretendia chamar atenção para esta mostra, sem dúvida conseguiu o objetivo. A responsável pela galeria, sra. Nini Barontini, confirma que há quadros cotados em até Cr$ 2 milhões - ou seja, as maiores preços já colocados numa exposição local. Mas assim como o sr. Coppio - que não conhecemos pessoalmente - tem todo o direito de pedir o quanto quiser por seus trabalhos, também é livre o direito de se discutir o mercado de artes plásticas.
Da época em que só havia a pioneira Cocaco, nos anos 50, pertencente aos jovens Ennio Marques/Manoel Furtadol Loio Persio, aos dias de hoje, com quase duas dezenas de galerias de arte, muita coisa mudou. E a lei da oferta e procura é que pode justificar os preços de um quadro - e não a simples pretensão do artista em supervalorizar-se.
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O jornalista Ilson Almeida, editor de economia de O ESTADO, vem, há mais de um ano, dedicando grande parte de seu espaço dominical a cotação de obras de arte em exposição na Acaiaca, que graças ao conhecimento que Jorge Carlos Sade tem do mercado, é uma das galerias mais respeitadas. O valor de um quadro se mede em relação ao preço que o mesmo possa adquirir não no aspecto sentimental / pessoal, mas no mercado nacional. Por isso, é muito discutível a autovalorização artificial, que não só o desconhecido Coppio pretende, mas que, infelizmente atinge também outros artistas. Alguns números permitem comparação. Na recente exposição retrospectiva de Theodoro De Bonna, sem favor o grande nome da pintura paranaense dos chamados "anos de ouro", realizada no Clube Curitibano, um imenso quadro, obra de grande beleza, conseguiu a cotação máxima de Cr$ 1 milhão. Peças de mestres como Guido Viaro, Miguel Bakum, Arthur Nislo, Trapple e outros artistas que viveram no Paraná todas suas vidas, realizando trabalhos marcantes, até hoje ainda não alcançaram a fronteira do milhão de cruzeiros. Em plano nacional, é possível adquirir trabalhos de artistas de mercado seguro - alguns inclusive de cotação internacional - por 50% do que pretende cobrar o sr. Coppio por suas pinturas. As telas de Carlos Scliar variam de Cr$ 120 a Cr$ 800 mil, conforme o tamanho. Um óleo de Ianélli, tamanho 60 x 40, é vendido a Cr$ 1 milhão enquanto os quadros de Antonio Mala (formato 41 x 33 cm) são cotados a Cr$ 240 mil. Artistas como Tozzi, Mllton Dacosta, Fujishima estabelecem entre 52 a 206 UPCs, os seus trabalhos. Um bom quadro de Ibere Camargo é vendido a Cr$ 800 mil e por Cr$ 1 milhão de cruzeiros compra-se trabalhos de Di Cavalcanti, Djanira, Guignard e gravuras ou desenhos de Portinari. São apenas alguns nomes nacionalmante conhecidos, que dispensam maiores comentários e que possuem um mercado de fato.
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Jorge Carlos Sade poderia, se desejasse, processar a Celso Copplo, pelo aproveitamento do formato do convite-catálogo de sua exposição. Diz Sade:
- "O Coppio - que deveria se chamar "Copia" - usou o mesmo formato do catálogo que a Acaiaca desenvolveu há muitos anos. O design é de Sidney Quadros e representou um trabalho de criação. Há direito autoral que não pode ser desrespeitado."
Nada temos contra o sr. Coppio e sua arte. Mas na generosidade com que os curitibanos - e inciuindo os veículos de comunicação - recebem todas as pessoas que aqui aparecem para expor, é necessário também se colocar as questões de maneira mais ampla. É legítima a sua pretensão de cobrar os mais altos preços numa exposição. Mas é também legítimo o direito de se levantar a questão: existe um mercado para que suas telas possam ser cotadas a Cr$ 2 milhões?
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A Galeria SH316 (Rua Ébano Pereira 316) não costuma dar muita atenção aos artistas que ali expõem - de forma que suas mostras acabam passando despercebidas. Felizmente a pintora Waltraud Sekula, paranaense de Ponta Grossa, percebeu esta falha e está diretamente cuidando que o vernissage que ali fará, no próximo dia 21, tenha repercussão. Autodidata, usando como técnica habitual a aquarela atavés da qual consegue sua integração com a natureza e com suas cores, Waltraud diz que procura em seus trabalhos "expor a tranquilidade do nosso interior com seus caminhos verdes, suas carroças e seus pinheiros".
- Nas paisagens de nosso Litoral busco a calma das manhãs de sol no mar, os barcos de pesca e o Iirismo dos bucólicos casarios.
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O lúcido e corajoso artigo da sra. Vania Viaro, colecionadora de quadros e bastante relacionada no mercado, que O ESTADO publicou domingo ("Mistificadores ou Paranóicos?") teve grande repercussão. Afinal, Vania colocou ali importantes questões relacionados ao mercado artístico local - que necessita de saneamento e maior rigor.
LEGENDA FOTO - Waltraud Sekula: paisagens calmas
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