No álbum Ferrez, as fotos da ferrovia
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de agosto de 1980
Depois de reeditar o primeiro ano de "O Dezenove de Dezembro", a revista "A Galeria Paranaense" e "O Paraná no Centenário", de Rocha Pombo, a comissão de editoração da Secretaria da Cultura e do Esporte tem um plano mais ambicioso, em termos de investimento, mas fundamental em documentação: uma tiragem de 500 exemplares do chamado "Álbum Ferrez da estrada de Ferro de Paranaguá". Obra tão importante quanto rara, a edição desta obra não só tem um interesse especial para a história especialmente quando se comemora o centenário da visita de Dom Pedro II ao Paraná quando houve o lançamento das obras da estrada de ferro Curitiba Paranaguá, mas também pelo registro da visita que o fotógrafo Mare Ferrez faria da viagem inaugural. De sua participação na comitiva resultaram as fotos reunidas em álbum por ele organizado e pertencente a Dom Pedro II. Ferrez foi autor de outras pranchas sobre a ferrovia, porém reuniu no álbum aquelas que melhor documentam as obras de engenharia destacando os túneis pontes a paisagem e as estações.
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A professora Cassina Licia Lacerda Carolo coordenadora da comissão de editoração, observa que o exemplar do "Álbum Ferrez da Estrada de Ferro de Paranaguá" existente na Biblioteca Nacional constitui o único do Brasil e trata-se de obra pertencente ao Imperador que faz parte da "Coleção Tereza Cristina", da Divisão de Obras raras. O outro exemplar pertencente ao autor, foi adquirido pela Fundação Bosch da República Federal da Alemanha. O Álbum Ferrez medindo 40 por 70 em encadernaçào em couro, tendo na capa o brasão do Império em prata, comtém 23 páginas e 36 fotos, 10 ocupando a totalidade da página, apenas uma pequena parte decorada com ornatos de inspiração art-nouveau. As demais 26 fotos são distribuídas duas por páginas em papel buffon bastante espesso. A importância de Marc Ferrez na história da fotografia artística do Brasil e do sentido documental de sua obra como fotógrafo do final do século foram destacadas na exposição e no catalogo "Pioner Photographes of Brazil 1840/1920", organizado pelo Center For Inter American Relations EEUU.
Marc Ferrez descende de uma família de artistas pois seus pais e tios chegaram ao Brasil como participantes da Missão Francesa. Foi educado na França onde viveu sob cuidados do escultor Alphée Dubois, após a morte de seus familiares em 1851.
Em 1859 retornou ao Rio. Nesta época a fotografia começava a ganhar força na Europa. Trabalhou na litografia de George Leuzinger, responsável pelos primeiros álbuns fotográficos impressos no Brasil. Dedicou-se então à fotografia trabalhando com Franz Keller, também empregado da Leuzinger. Em 1865, com sua firma instalou-se na Rua São José onde mesmo após um incêndio permaneceria até este século (1903).
Em 1873, após o fogo haver destruído seu estúdio, adquiriu em Paris novos equipamentos. Há 100 anos seus trabalhos se destacavam pelo virtuosismo da técnica, pela maturidade e pelo sentido documental. Naquela época possuía mais de 1.500 fotografias. Em 1875, retornou a França e juntou-se com Charles Frederick Hartt, participando da Comissão Geológica do Brasil (1876/77). Seus panoramas foram exibidos na Exposição do Centenário da Filadélfia em 1876 e participou das exposições em Paris (1878) e Rio (1871). Em 1880 documentou a Rio Railway e vistas de Minas Gerais. Dedicou a Dom Pedro uma foto do túnel da Mantigueira e recebeu do Imperador a Ordem da Rosa. A convite de Dom Pedro II documentou em 1885, a estrada de ferro de Paranaguá.
Obteve os direitos de Lumiére para utilizar seu sistema de projeção e realizou os primeiros documentários no Brasil. Em 1901 abriu o Pathé Cinema, no Rio de Janeiro.
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