O Brasil que Sallum divulga nos cartões
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 31 de outubro de 1986
Eduardo Sallum acaba de voltar de mais um longa viagem por vários Estados. Forografando o que há de mais característico em cada município visitado, este simpático garimpeiro de imagens amplia o seu acervo e pode lançar, dentro de poucas semanas, mais uma coleção de cartões postais culturais.
Há dez anos que Eduardo Sallum, 45 anos, vem desenvolvendo um digno e importante trabalho cultural: adições de cartões-postais com imagens do Brasil. Aquilo que por muito tempo era um hobbie, época em que ganhava a vida como representante comercial, transformou-se numa fonte de renda, graças ao seu empenho e dedicação.
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Enquanto as grandes editoras que se dedicam à produção de cartões-postais buscam apenas as grandes metrópoles ou pontos turísticos tradicionais, Eduardo teve uma feliz idéia: fazer cartões-postais de pequenas cidades, pelo Interior do Brasil que, mesmo modestamente, também tem seus pontos de interesse. A fórmula funcionou e assim graças às imagens coloridas de Sallum há uma redescoberta de tantos lugares, bucólicos praças com seus coretos e jardins, igrejas, templos, pequenos museus etc.
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Só no Paraná, Eduardo Sallum já produziu mais de 500 diferentes cartões, com tiragens que variam de 3 a 10 mil exemplares, vendidas por toda parte, graças a uma eficiente rede de representantes. No futuro, seus cartões serão tão interessantes como são os que integram sua preciosa coleção - hoje com mais de 60 mil exemplares, de vários países e temáticas, o que o faz um dos maiores cartofilistas do País.
Aliás, o interesse pela cartografia o levou, há alguns anos, a promover um encontro de colecionadores em Curitiba, nascendo um núcleo ativo que irmanando os que tem esta paixão em comum também prestam, através da preservação de imagens, um importante trabalho cultural.
A cartofilia tem hoje apaixonados em todos os países. No Brasil, Eduardo Sallum vem procurando reuni-los ocasionalmente e, epistolarmente, mantido um ativo contato. No Rio de Janeiro, por exemplo, Ismênia Dantas, divulgadora cultural e escritora, é dona de uma imensa coleção de cartões da Belle Epoque.
Já existe inclusive uma Associação de Cartofilia do Rio de Janeiro que no mês de setembro, promoveu o lançamento do livro "O Rio de Janeiro em antigos cartões postais", de Sérgio Tabet (direto de Parques e Jardins do Rio de Janeiro) e de sua mulher, Sônia Pumar.
O livro reúne 378 reproduções de postais simples, duplos ou triplos, de 1980 e 1930, e faz um passeio pelo Rio do fim do século XIX e início do século XX, começando pelo Centro e indo até a Zona Norte, para chegar a Santa Cruz e voltar pela Floresta da Tijuca até a Zona Sul e Paquetá.
Com prefácio do ex-prefeito Marcelo Alencar e introdução do historiador Elysio Belchior, o livro que custa Cz$ 500,00 foi feito com postais cedidos por colecionadores: o historiador Belchior, Carlos Werneck de Carvalho, Yolanda Roberto, José Pereira de Andrade, Ramon Poyares, Tábet e o Museu da Imagem e do Som.
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Yolanda Roberto, vice-presidente da Associação de Cartofilia do Rio de Janeiro, dona de uma coleção de 4 mil postais da cidade - e uma das que auxiliaram a organizar o livro, diz que na Europa a cartofilia é o segundo maior colecionismo, só perdendo para a filatelia.
Numa monografia publicada há 6 anos ("Coleções & Cartões postais - suportes da memória", boletim informativo da Casa Romaria Martins, nº 46, novembro/1980), Eduardo Sallum identificou a origem do cartão postal há 116 anos, 20 após a descoberta da fixação da imagem fotográfica, quando Ladwig Zrenner, operário de uma fábrica da cidade de Comar, na Alsácia, teve a idéia da nova forma de comunicação visual ao remeter a fotografia da fábrica de seu patrão a parentes e amigos distantes, colando a mesma num papelão de tamanho um pouco maior, com dezenas de felicitações, nascendo assim o post-card como meio de contatos para os mais distantes lugares.
Logo em seguida as indústrias gráficas que estavam em crise, passaram a imprimir os postais para superar a crise, sendo o tema principal as vistas fotográficas de cidades, procuradas por turistas e visitantes em todo o mundo. O lançamento, nas décadas de 1870/80, teve grande aceitação por parte do público.
Lembra Sallum, dono de uma coleção preciosa:
- Os países que mais editaram cartões postais em fins do século passado e começo deste foram a Alemanha e a França, tendo na oportunidade sido fundados várias gráficas especializadas no ramo, para execução de trabalhos em alto e baixo relevo, postais pintados à mão, dourados ou prateados, com vidrinhos, em seda, metal, madeira ou ainda em processos de enfeites em purpurina e no sistema litográfico, verdadeiramente artístico na difícil e complexa arte gráfica aliada à pintura manual, também chamada atualmente de artesanal.
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