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Aramis

O dia anterior (I)

As 9h30min de sábado, 7, havia longas filas de adolescentes e crianças nas calçadas do cine Condor, para a pré-estreia de "Jogos de Guerra", em promoção da UIP-Polygram-Rádio Caiobá FM, para divulgar este filme que a partir de ontem começou sua carreira comercial (5 sessões diárias). Em poucos minutos, um público basicamente jovem lotou o cinema e a algazarra foi grande: gritos, vaias, aplausos - enquanto, ao máximo, o sistema de som do cinema divulgava a trilha sonora de "Flashdance". Antes do filme, foram exibidos dois traillers, um jornal da Atlântida e um curta-metragem sobre um remanescente da geração "flor e amor" dos anos 60. Todos recebidos com as maiores vaias, de muitos decibéis. Entretanto, logo após a projeção das primeiras imagens de "War Games", um silêncio sepulcral se fez. Apesar de grande parte do público ser formado por crianças de 7, 8 ou 9 anos, a qum, aparentemente, seria difícil entender o desenvolvimento da história, houve impressionante respeito. Ao final, aplausos entusiasticos e a garotada saiu elogiando o filme. Esta descrição nos parece importante para situar "Jogos de Guerra" dentro de sua época. Há menos de um ano, no encerramento do Festival de Cinema de Cannes, o filme de John Badham foi projetado hors-concours, com muitos elogios da crítica. Nos Estados Unidos fez uma boa carreira comercial e na segunda semana de dezembro estreou em Paris. Chega ao Brasil, neste verão, coincidindo com a estréia internacional de outro filme que aborda o mesmo tema - a guerra termonuclear - "O Dia Seguinte", de Nicholas Meyer, que após sua polêmica apresentação pela rede ABC de televisão, na noite de 20 de novembro do ano passado, nos EUA, foi negociada pelos produtores para lançamento em cinemas, tanto na Europa como em países da América Latina, exatamente no dia 19 de janeiro (em Curitiba, estréia no Cine Vitória). xxx "The Day After" em cópias piratas em vídeo-cassete já vem sendo exibidas em tapes clubes e locadoras desde a primeira semana de dezembro, para fúria do editor Alvaro Pacheco, da Distribuidora Artenova, que adquiriu os direitos do filme para o Brasil em mais uma grande jogada comercial (foi ele que, há 4 anos, trouxe "O Império dos Sentidos"). O filme produzido originalmente para a televisão, pela rede ABC, mostra não só o ataque nuclear da Rússia aos Estados Unidos, com imagens impressionantes. Nos EUA, quando da apresentação, na televisão a ABC recomendou que os pais não permitissem que crianças assistissem ao filme - que no Brasil teve censura limitada em 14 anos. Já "Jogos de Guerra" tem seu marketing centralizado no público juvenil. Afinal, o roteiro de Lawrence Lasker e Walter F. Parkes coloca a ação a partir do momento em que um adolescente, David (Matthew Broderick), apaixonado por vídeo-games, que vive entre computadores domésticosa e uma parafernália eletrônica no isolamento de seu quarto, procurando os "segredos" de uma nova série de jogos que uma indústria lancará, penetra no super-computador do sistema de defesa dos EUA. Encontrando a palavra chave e dialogando com o computador "Joshua"m propõe aquilo que julga um jogo - mas que na verdade aciona todo o esquema de defesa nuclear. O roteiro foi criado de uma forma inteligente e dinâmica, provocando um clima de suspense que a partir dos primeiros 15 minutos acompanha todo o filme, confirmando John Badham sua segurança de direção, que em sua obra anterior, "O Trovão Azul" (exibido sem sucesso no ano passado, apenas uma semana no cine Vitória) já havia demonstrado. Em "Blue Thunder" - um super-helicóptero a serviço de forças direitistas é "roubado" por uma liberal, preocupado em denunciar o complô - há havia um clima de "vídeo-game", com a ação desenvolvendo-se na terra e no ar, entre o herói, no comando da máquina superpoderosa, perseguido por todo um esquema de repressão. Assim como "Tron - Uma Odisséia Eletrônica" - a pioneira produção que utilizou seqüências realizadas por computador, "Caçadores da Arca Perdida", "E.T." e outros filmes de sucesso transformaram-se em vídeo-ames, também "The Blue Thunder" e este "War Games" deverão também estar, em breve, nos Atari e Odissey, que fascinam crianças de todas as idades. Entretanto, nas imagens da tela grande - cuja emoção e perfeição ainda faz com que o vídeo seja apenas uma segunda oção - "Jogos de Guerra" traz um grande impacto, reunindo elementos que o entretenimento com um assunto dramático - no caso, a guerra nuclear - para provar que nada impede de um filme ser comercialmente bem sucedido e ao mesmo tempo ter méritos artistícos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
13/01/1984

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