O homem e a história na visão do cineasta Scola
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 15 de maio de 1984
A proposta que Ettore Scola, 52 anos, um dos mais importantes cineastas do cinema italiano ( embora sem ter ainda a popularidade de outros nomes ) tem insistido em suas fitas é a de que "a História não é a história se ela não for também a história do individuo". Por isto mesmo, os personagens de suas obras têm uma força tão grande, estabelecendo uma empatia com o público e sempre trazendo ao fundo um cenário social e politico. Em "Nós Que Nos Amávamos Tanto" é o painel da amizade de um grupo de homens que se conservam unidos apesar das transformações que sofre a Itália o longo de algumas décadas.Em "Brutos, Porcos e Cativos" o mundo dos deserdados da sorte, numa favela sórtida que reflete um microcosmo pungente. E, especialmente, em "Um Dia Muito Especial", por trás do desencontro de um solitário intelectual da resistência italiana ( Marcello Mastroinani ) como uma frustrada dona de casa ( Sofhia Loren ) há todo o painel da Roma fascista num dia de glória do ditador Mussolini. Apenas três exemplos dos filmes de Scola que chegaram aos nossos circuitos comerciais, já que, infelizmente, parte de sua obra ( incluindo o elogiado e premiado "O Terraço", continua inédito.
Portanto, ao se voltar para a revolução francesa, Scola não ficaria apenas no descritivo mas numa história desenvolvida ao longo de poucas horas, questiona a filosofia e realidade de um movimento politico até hoje carecendo de mergulhos mais profundos para toda sua absorção. Isto faz com que "Casanova e a Revolução"( Cine Itália, 14h30; 17h30 e 20h30min ) se constitua num dos filmes mais interessantes neste fim de semana repleto de boas opções cinematograficas.
Ao juntar personagens reais Luiz XVI e a Familia Real, o aventureiro Giácomo Casanova ( 1725 -1798 ), o filósofo e libertino Restif De La Bretonne ( 1724-1806 ), a figuras imaginárias, numa história que se passa basicamente ao longo de uma viagem de duas diligencias, a caminho de Paris Ettore Scola consegue dosar todo um microuniverso em que oa ação adquire contornos da contemporaneidade, justamente pela forma politica que o roteiro, escrito em parceria com o admirável Sérgio Amidei ( Trieste, 30/10/1904 - Roma, 14/04/1982 ). Foi desenvolvido. Este é apenas um dos aspectos que faz com que "La Nuit de Varennes" mereça atenção de todos que se interessam pela história politica e especialmente, bom cinema, não deixa de assistir esta realização que há um ano vem sendo elogiada internacionalmente.
Independente dos aspectos estruturais do filme, só o elenco é uma atração especial: Marcello Mastroiani interpreta uma Casanova septuagenário, mas ainda lúcido e apreciador dos prazeres da cama e mesa; a alemã Hanna Schugulla é a dama de companhia da rainha Maria Antonieta. Harvey Keitel, ator personagem real o escritor e filósofo Tom Payne. Mas é sobre Jean Louis Barrault, como o fascinante Resitif de La Bretonne, que se concentra o maior interesse: monstro sagrado do Teatro francêscom uma atuação impressionante nas artes cênicas e em clássicos momentos do cinema de seu pais, há 16 anos Barrault não fazia um filme, somente aceitando o convite de Scola pelo fascinio do personagem. Participam também três outros notáveis atores franceses: Jean Louis Thintignant, Jean Claude Brialy e Daniel Gelin. A música é de Armando Trovajoli, mestre da criação sonora como vem provado desde sua trilha de "Sete Homens de Ouro". Enfim, "Casanova e a Revolução um filme indispensável ao público inteligente e de bom gosto.
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