O público & o teatro
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 01 de janeiro de 1977
A interpretação das estatísticas de freqüência dos auditórios Bento Munhoz da Rocha Neto e Salvador de Ferrante, relativos ao ano de 1976, ajuda a compreender as preferências do público curitibano em relação aos espetáculos. De princípio, pode-se dizer que a dança tem em nossa cidade um fiel mercado: das 142.291 pessoas que nos 11 meses (em janeiro do ano passado não houve espetáculos no grande auditório) compareceram ao chamado Guairão, 30.403 foram para aplaudir 12 diferentes temporadas de balé que ali tiveram lugar - desde os mais famosos grupos internacionais até modestos espetáculos com estudantes de cursos de dança da cidade.
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Depois da dança, a música e o riso. Rindo com as piadas apelativas de Juca Chaves, que faturou nada menos que Cr$ 314.730,00 em duas rápidas temporadas nas quais 7.744 espectadores lotaram todas suas sessões. Chico Anísio, em apenas dois dias, também faturou muito bem: 3.839 pessoas deixaram nas bilheterias Cr$ 158.640,00 para menos de duas horas de humor. Em termos de público, uma comédia de Joaquim Manoel de Macedo (1820-1882), escrita em 1863 e que marcou o reaparecimento do Teatro de Comédia do Paraná, foi a que teve os números mais positivos: 14.103 pessoas compareceram nas 12 apresentações de "A Torre em Concurso". Fazer teatro infantil também é uma forma segura de garantir bom público: 34.000 espectadores, a maioria crianças, evidentemente, prestigiaram seis diferentes peças montadas nos auditórios Bento Munhoz da Rocha Neto e Salvador de Ferrante. Só "Cinderela", na versão dos Irmãos Queirolo, teve a freqüência recorde de 12 mil espectadores em 12 espetáculos.
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O curitibano é tangueiro por excelência.
Tanto é que em duas temporadas, "Uma Noite em Buenos Aires" faturou Cr$ 558.759,00 com um público de 10 mil espectadores em apenas seis apresentações. Todos os musicais apresentados no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto tiveram bom prestigiamento: Clara Nunes e conjunto Nosso Samba (1.968 espectadores), Vinícius e Toquinho (2.426), Doces Bárbaros (Caetano/Gil/Bethania/Gal) (4.771), Maria Cleusa, Antonio Carlos e Jocafi (3.150), e Roberto Carlos (7.210). O grupo alemão Passport, embora até a sua vinda ao Brasil fosse totalmente desconhecido, também teve uma excelente resposta: 3.478 espectadores dividiram-se nas suas duas únicas apresentações. Mesmo espetáculos difíceis, como do citarista Ravi Shankar, obtiveram um rendimento surpreendente: 1.251 espectadores com faturamento de Cr$ 60.510,00.
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Os grupos paranaenses também não podem se queixar do público em seus espetáculos: sem computar-se os dados das últimas semanas, quando foi promovida a campanha "Teatro para o Povo", com ingressos a Cr$ 5,00 e Cr$ 10,00, Roberto Menghini, com a androgena peça "Greta Garbo, quem diria, acabou no Irajá", liderava o público com 3.402 espectadores. Computando-se a boa freqüência que a peça obteve nos últimos 15 dias do ano, em sua segunda temporada, observa-se que o público parece estar gostando do gênero desmunhecante (afinal, em 75, um dos maiores sucessos foi do mesmo Menghini, com "Os Rapazes da Banda"). Em segundo lugar, em termos de público ficou "Carla, Gigi e Margot", de Ronaldo Ciambroni, com 4.205 espectadores, seguido de "Doce Primavera" (2.871), e "O Cerco da Lapa" (2.670).
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Falando em teatro paranaense, iniciemos 77 com boa notícia: Jofre Elias, um idealista de Jacarezinho que há quase duas décadas vem lutando para concluir um teatro naquela cidade, saiu do gabinete do secretário Borsari Neto, da Educação e Cultura, na quinta-feira, com um sorriso digno de um comercial do Kolynos: assinou um convênio com Maurício Távora, superintendente da Fundação Teatro Guaíra, que lhe dará mais Cr$ 300 mil para concluir o seu sonhado teatro somados, evidentemente, aos Cr$ 500 mil, obtido do SNT.
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