O sax de Costita, um mestre do instrumento
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 02 de junho de 1985
Se durante anos as queixas se justificavam, hoje já não há mais tanto motivo para reclamação: a boa música instrumental tem, cada vez mais, sua hora e vez. E o público está aprendendo a prestigiar o bom som instrumental. Que o diga o êxito de shows como "Coração de Estudante" e "Prisma" com os tecladistas Wagner Tiso, César Camargo/Nelson Ayres, respectivamente (já lançados em discos pela Barclay e Pointer, há pouco tempo).
A Carmo, de Egberto Gismonti/Dulce Bressane, Continua a estimular novos talentos - como o pianista Luigi Irlandini, 26 anos, carioca de Ipanema, com seu belo "Azul e Areia", recém-editado, enquanto o Som da Gente chega aos quatro anos de atividade com um invejável catálogo e prestigiando o que de melhor há na música instrumental brasileira.
Assim, poucas semanas após um novo disco do sempre reciclado e genial Hermeto Paschoal, temos o segundo (elepê( do porteño paulistano Hectos Costita, 51 anos, 28 de Brasil, saxofonista e líder de excelentes conjuntos e bandas, até há pouco no 150, do Maksoud Plaza Hotel, agora no Baiuca - Jardins, na Capital paulistana.
Neste seu novo (elepê( ("Paracachum", Som da Gente), Hector impressiona pela diversidade de climas e direções musicais. Assim vai de uma caliente salsa cubana (que dá título ao disco) e uma típica samba-chacarera argentina ("De la Tripa ao Viento"), passando por uma balada ("Ariela"), que tem a moldura e encantamento das melhores composições de Michel Legrand. No percurso total de oito faixas, Hector passa por momentos de balada, baião, choro, tango, flamenco, samba-brasileiro e bossa nova - entrelaçados com a liberdade da improvisação jazzística, traço marcante em sua música.
Mas a diversidade de sons, não fica apenas em ritmos e estilos. É também, em grande medida, função da grande variedade de formações instrumentais usadas. O grupo de base formado por Roberto Bomilcar, piano; Gabriel Bahlis, baixo elétrico e Dirceu Medeiros, bateria, foi enriquecido pela presença de músicos convidados como Edson Alves (violões, guitarra elétrica e flautas); Mauro Herrero (percursão); Paulo Martins (castanholas/sapateado), além de dois solistas - Pocho Caseres (bandoneon) e Huan Falú (violão).
Exibindo seu virtuosismo em sax-tenor ("Paracachum", "La Maja Brasileira", "A Noite é Minha", "Estão Todos Aí"), sax-soprano (em "Ariela", melhor faixa), sax-alto ("El Baion), clarineta ("Choro Porteño") e até flauta ("De La Tripa al Viento:), Hector Costita mostra neste elepe classe A por que é considerado um dos melhores instrumentistas. Um disco de som claro, perfeito, criativo e que se escuta com imensa satisfação do início ao (fim(.
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