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Aramis

O som explícito da Garganta Profunda

Uma bela, talentosa e desinibida curitibana, Julcilene Kassou, 21 anos, múltipla instrumentista (sax, baixo, teclados), formada pela Faculdade de Educação Musical, ex-estudante de arquitetura e agronomia, é a mais nova integrante de um dos melhores grupos vocais do País, o Garganta Profunda que neste final de semana se apresenta, pela primeira vez, em Curitiba (auditório Salvador de Ferrante, hoje, 21 horas, amanhã, 16 horas, ingressos a Cz$ 70,00). xxx Revelado há 5 anos, no MPB-Shell 81, quando um grupo de jovens em malhas pretas, dançando e cantando, numa performance inusitada, apresentavam uma das poucas músicas criativas daquele evento, o Garganta Profunda chamou-se inicialmente coral da Cultura Inglesa. Ganhou o troféu de revelação do MPB-Shell e já regido por Marcos Leite e Nestor de Holanda, abria um caminho marcante dentro da música brasileira. De Coral da Cultura Inglesa passou a se chamar Cobra Coral - gravando um primeiro disco independente. Em 1983, o líder Marcos Leite iniciava um novo movimento, denominado "Cantar brasileiro, na seara do canto coral" e desta proposta surgia a orquestra de vozes A GARGANTA PROFUNDA - esperta denominação aproveitando o marketing do mais conhecido (e pioneiro) filme de sexo explicito que lançou, há quase 20 anos a atriz pornô Linda Lovelace. Da seriedade e talento de Marcos e Nestor, o grupo vem resistindo há 3 anos, com naturais substituições mas alcançando um espaço importante, já que ultrapassando a um simples coral se constitui em verdadeira orquestra de vozes com um backing instrumental - a cargo da guitarra (Marco Aurélio Lyrio), bateria (Marcelo Marques) e baixo (Jorge Sá Martins, também um dos três barítonos). Vocalmente, o grupo tem quatro sopranos (Mariangela Marques, Ana Maria Albanez, Fernanda Secchi e Julcelene Kassou), duas contraltos (Regina Luccato e Katia Lemos), dois tenores) Elias Chamon e Luís Guilherme) e mais dois barítonos (Paulinho Mosca e Luís Nicolau). O Garganta Profunda vem de uma temporada de casas lotadas na Sala Funarte, no Rio de Janeiro e já prepara um novo show, desta vez com a participação especial do clarinetista Paulo Moura. Um primeiro lp do grupo, produção independente (à venda no hall do Guaíra, neste fim de semana) mostra a criatividade de Marcos Leite (regente) e Nestor de Hollanda Cavacanti (diretor musical), trabalhando desde temas conhecidos - "Smile" (Chaplin, com letra de Geraldo Carneiro), "Música suave" (Roberto e Erasmo Carlos), audaciosas sonorizações de temas clássicos ("le café qu,on sert/Por que Beethovem não toma café?", livremente inspirado em trecho da 7ª Sinfonia de Beethoven; "Irerê", do martelo das Bachianas). Há também uma inventiva regravação de "Você vai me seguir" (Chico/Ruy Guerra) e composições de Nestor Cavalcanti ("Natal") e Marcos Leite ("Meu amor me abandonou"), além de duas faixas que mostram a juventude do conjunto: "Hello Goodbye" (Lennon/McCartney) e "Alguém Cantando" (Caetano Veloso). Criatividade e muita seriedade - com o bom humor que o caracteriza a partir de seu próprio nome - o Garganta profunda é um som de alto astral que, neste fim de semana, merece ser aplaudido no Guaíra.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
18/10/1986

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