Scala, a boa música está de volta no ar
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 18 de outubro de 1986
Como entrar num mercado poluído já com uma dezena de emissoras em freqüência modulada, todas, praticamente, disputando a mesma faixa de audiência - e, naturalmente, com vistas aos mesmos anunciantes?
Dois grupos empresariais passaram os últimos meses estudando esta questão de marketing e começam, agora, a concorrer na conquista de ouvintes (e anunciantes) em FM, numa disputa que será salutar especialmente para os ouvintes - submetidos a uma programação idiotizante e repetitiva da maioria das emissoras da cidade.
Enquanto a Estação Primeira, pertencente aos irmãos Henrique e Carlos Almeida, mais o jovem Hélio Pimentel, deve começar sua fase experimental nos próximos dias, a Scala 92,3 FM Stereo será inaugurada, oficialmente, amanhã.
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A Estação Primeira é um novo prefixo, com uma proposta de mesclar programação jovem com música de boa qualidade, incluindo programas especiais. Já a Scala é a antiga Apolo, por sua vez a ex-FM Rádio Emissora Paranaense, que pertencia ao pioneiro Nagib Chede. Vendida há alguns anos para o grupo evangélico "Deus é Amor", do polêmico (e apocalíptico) pastor David Miranda, o prefixo FM acabou sendo adquirido pelo grupo jornalístico que edita o "Diário do Grande ABC", em Santo André, SP - numa disputa em que também a Rede Globo se interessou pelo prefixo.
A FM - Universo continua na cadeia do messianismo eletrônico do pastor David Miranda.
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De propriedade de quatro empresários de visão - Fausto Pulesi, Maury e Edson Danilo Dotto e Angeli Pugga, o grupo Diário do Grande ABC, além de editar desde 11 de maio de 1968 um jornal de grande tiragem na região metropolitana de São Paulo, possui já três emissoras: FM Grande ABC, em Santo André; a AM Diário Grande ABC, em São Bernardo; e a FM Studio, em Ribeirão Preto.
Para dirigir a FM Scala 92,3 FM Stereo, em Curitiba, foi contratado o experiente Hamilton Santos, que já atuou no setor de propaganda do Mappin e na Almap/Alcântara Machado, em São Paulo e, em Curitiba, na agência P.A.Z. e Século XX e na divisão comercial/comunicação mercadológica da Telepar.
No ar, em caráter experimental, há 60 dias, sem qualquer promoção (a única notícia foi a que aqui publicamos, há 30 dias), a Scala 92,3 já conseguiu uma faixa de ouvintes, atraídos pela sua programação soft, da mais absoluta qualidade, utilizando especialmente música instrumental e romântica. Agora, iniciando com uma programação detalhada - incluindo um ativo setor de jornalismo, com noticiário de 60 em 60 minutos - a nova FM promete também programações especiais, como "A Grande Fase das Big Bands" (domingo, 10 horas) e a "Música dos Grandes Filmes" (21 horas), sempre dentro de seu slogan-filosofia, "a boa música está de volta".
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A nova FM vai brigar, de princípio, com a faixa de ouvintes que até agora era cativa da FM Ouro Verde, emissora programada, com imenso cuidado, pelo veterano e admirado Didiê Seiller Bettega.
A programação soft, destinada especialmente à faixa acima dos 30 anos - tem um grande potencial de retorno publicitário já que atinge basicamente ouvintes de poder aquisitivo. A síndrome da juventude que tem mediocrizado a própria linguagem das FMs - procurando a audiência massificante, a exemplo do que acontece em outros Estados - é cansativa e repetitiva, inclusive com disc-jockeys idiotizados, numa linguagem repleta de gírias e expressões para, à guisa da conquista de uma faixa juvenil de ouvintes, impor um colonialismo cultural com a difusão do lixo no pop/rock internacional. Assim, a Scala - em saudável concorrência com a FM Ouro Verde - e a promessa da Estação Primeira não cair também no mesmo (baixo) nível da maioria das outras emissoras, fará com que o ouvinte de bom gosto, exigente em termos auditivos, possa substituir os cassetes pela sintonia do rádio - em casa ou no automóvel.
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