O som que agrada muitos paladares
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de setembro de 1987
O Free Jazz trouxe estrelas consagradas e reconhecidamente identificadas ao tradicional - como a cantora Sarah Vaughan e o baterista Art Blakey, que à frente do seu Jazz Messengers vem, há mais de 30 anos, revelando alguns dos maiores talentos da música americana. Houve também a oportunidade de, pela primeira vez no Brasil, se conhecer uma orquestra que foge das convenções tradicionais - a de Gil Evans, que afora (poucas) gravações, limita suas apresentações na Sweet Basil, um dos mais fechados clubes de jazz em Nova Iorque. "Ali só toca quem é muito bom", nos contava Airto Moreira, morador da Costa Oeste (Los Angeles), que por amizade a Gil, aceitou vir ao Brasil e integrar, como percussionista, sua orquestra.
Um dos recursos para garantir o público jovem a um Festival de Jazz é não ficar apenas no tradicional. Claro que a abertura em excesso pode levar ao declínio - como acontece em Montreaux - mas as correntes de "fussion" (Spyro Gyra), do guitarrista Lee Ritenour e o jazz contemporâneo de Chick Corea and Elektric Band garantem o entusiasmo jovem. Mesmo um espetáculo totalmente diferente - como a música sem rótulos (embora não falte quem deseja classificá-la) de Philip Glass se ajusta ao clima de um festival - que para encerrar, nada melhor do que um som estimulante à dança - no caso o som africano de King Sunny Adem da Nigéria, que levou os que resistiram até a última madrugada - e já eram quase 2 horas, quando ele entrou no palco do Anhembi - a um entusiasmo contagiante.
Portanto, a linha de ecletismo deverá ser observada nos próximos festivais que Monique e Sylvia Gardenberg promoverão. Ainda é prematuro para dizer nomes, mas entre outros ligados a um jazz de vanguarda, está o de Cecil Taylor, por enquanto desconhecido no Brasil - mas o que não tem importância. Afinal, o pianista Michel Petrucciani não tinha nenhum disco entre nós (agora a EMI/Odeon lançou seu belo "Power of There" com Jim Hall e Wayne Shorter) e, desde há três semanas é um artista que ganhou (a exemplo dos demais participantes do festival) o maior espaço na imprensa nacional - no reconhecimento que os mais lúcidos editores tiveram para com a importância do evento.
Difícil entender a briga de Sarah Vaughan com Dory Caymmi, que fez os arranjos para o seu novo elepê ("Brazilian Romance", CBS, agosto/1987), no qual incluiu 5 das músicas de Dory. Ao fazer restrições ao disco - o que, naturalmente, prejudica o compositor, o produtor (Sérgio Mendes) e a própria CBS (quem vai se animar a comprar um disco renegado pela sua intérprete?), Sarah surpreende. Afinal, com o prestígio que tem - e controle sobre sua obra - poderia vetar a edição do disco, exigir novas mixagens e mesmo regravá-lo. Ou será que ela se limitou a colocar a voz e só foi ouvi-lo quando já estava prensado?
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