Oportunidade para conhecer o melhor cinema de Volker
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de novembro de 1986
Numa semana de programação indefinida - sujeita a mudanças inesperadas, dependendo da confirmação das rendas em alguns cinemas é importante destacar um ciclo que o incansável Instituto Goethe traz à Cinemateca: a retrospectiva Volker Schlondorff.
Scholondorf é um dos cineastas mais importantes do moderno cinema alemão e, nesta semana, dentro da mostra "Midnight Movies" (filmes independentes), que estão sendo apresentados no Bruni Ipanema, durante o III FestRio, foram feitas as duas primeiras projeções de seu mais recente filme, "A Morte do Caixeiro Viajante", realizado originalmente para a televisão, com Dustin Hoffmann - da montagem recente feita na Broadway. Como a versão de "Death of a Salesman" de Arthur Miller (filmada em 1951, por Laszlo Bennedeck, com Frederich March) vai demorar para chegar às telas de Curitiba, a opção é rever os filmes que Scholondorff realizou entre 1968/78, que estão nesta oportuna mostra da Cinemateca, prevista a partir da próxima terça-feira, Os Filmes - O primeiro filme da retrospectiva Schlondorff é o "O Tocador de Trompeta" (Der Pankenspieler), 1968, 96 minutos, com legendas em espanhol. Inédito nos circuitos comerciais, desenvolve-se em cinco pequenas estórias, num conjunto no qual consta muito o talento de Paul Klee, através de cujos desenhos se faz a junção. Na equipe deste belíssimo filme colaboraram também Rolf Thiele e o ator Bernhard Wicki.
O segundo programa é um longa-metragem, em preto e branco, realizado em 1970, e que teve já várias apresentações na Cinemateca: "A Súbita Riqueza da Gente Pobre de Kombach", com legendas em espanhol. A ação se passa em 1821, quando 7 camponeses da região de Hesse, oprimidos pela miséria assaltam uma carruagem que transporta os valores arrecadados com os impostos. Um tema que passados 165 anos ainda continua válido: quantos camponeses ainda vivem, pelo mundo explorados pelos poderosos?
"A Moral de Ruth Halbfass" (Die Moral de Ruth Halbfass), 1971, colorido, 89 minutos, legendas em espanhol, é o filme de quinta-feira, 4 de dezembro. Um triângulo conjugal, com pitadas sociais, na qual uma mulher ambiciosa contrata com dois assassinos a morte de seu marido.
No dia 5, sexta-feira, um filme de Schlondorff que já teve distribuição comercial: "Fogo de Palha" (Strohfeur), 1972, 107 minutos, legendas em português. A história de uma mulher de 30 anos, divorciada, que vive só e que precisa enfrentar as dificuldades de uma sociedade machista. Um bom programa para as feministas.
A mostra incluirá ainda "Tiro de Misericórdia" (Der Fangschuss, 76) no sábado, 6, e, por último, o famoso "O Tambor" (Die Blechtrommel), 78, 119 minutos, legendas em português, premiado com o Oscar de Melhor filme estrangeiro.
Maxie, um filme sobre cinema - Uma curiosidade: após "Sonho Sem Fim", de Lauro Escorel, mostrar, com lirismo e emoção, a trajetória de um dos pioneiros do cinema brasileiro - o gaúcho Eduardo Abelim, num filme com notável reconstituição da época (anos 20, Rio Grande do Sul, merece inclusive premiações em Gramado, o Ritz deve lançar, na próxima semana, um filme de algumas referências sobre os tempos pioneiros do cinema em Hollywood. Trata-se de "Maxie", comédia de ritmo musical, que com um argumento leve, boas situações e trazendo um elenco atraente, deve se constituir num bom programa.
Misturando toques de fantasia e parapsicologia, como o retorno do "espírito" de uma fulgurante atriz dos roaring twenties, Maxie (Glenn Close) no corpo da prosaica Jan (também Glenn), recatada secretária de um bispo católico (Bernard Hughes), e casada com Mick (Mandy Patinkin), conservador de livros raros de uma biblioteca, a trama tem bastante humor, e, a julgar pelos créditos do diretor Paul Aaron, vindo de experiências no teatro musical, espera-se um ritmo alegre e descontraído. No cinema, Aaron dirigiu "A Differente Story" e "A Force of One" (com Chuck Norris).
Mas a atração maior é a presença de Glenn Close, uma atriz em ascensão nos últimos anos e que vem tendo sucessivas indicações ao Oscar por trabalhos em filmes como "O Mundo Segundo Garp", "O Reencontro" (The Big Chill), "Um Homem Fora de Série" - além de aplausos nos palcos como em "The Real Thing" e "The Singular Life of Albert Nobbs". Ao seu lado, um ator também vindo da Broadway; Mandy Patinkin, que fez o "Che" em "Evita", após ter ganho o Pulitzer por "Caixa de Sombras" de Michael Christofer. No cinema, entre outras atuações, apareceu em "Ragtime", "Yentl" (dirigido e interpretado por Barbar Streissand) e o excelente "Daniel", de Sidney Lumet.
Mais dois destaques no elenco de "Maxie": a veterana Ruth Gordon, num de seus últimos trabalhos (faleceu poucos dias após o encerramento das filmagens) como a sra. Levin e Bernard Hughes como "Bispo Campbell". Ruth Gordon, que era casada com o diretor e escritor Garson Kanin (autor de, entre outros clássicos, "Nascida Ontem", que está sendo refilmado agora, como musical) foi uma atriz fabulosa, com mais de 50 anos de atuações em teatro, televisão e, especialmente cinema.
Já Hughes, embora veterano ator, é mais ligado ao teatro: desde 1979, quando fez "Best Friends", como o marido de Jessica Tandy, não filmava.
Um destaque especial: a trilha sonora de "Maxie" é de Georges DeLeRue, um dos mestres da composição na França - e que, finalmente, pouco a pouco, começa a ter o seu talento requisitado pelo cinema americano. Enfim, um filme de bons créditos, que está chegando meio despercebido e que merece, portanto atenção especial.
Os Espiões que entraram numa fria - tinha sua estréia prevista para ontem, no Astor. Dizemos "tinha", porque a renda de "Nove Semanas e Meia de Amor", de Adrian Lyne, tem sido tão alta que, a cada semana, João Aracheski não tem outra opção do que manter este filme sensual e atraente por mais 7 dias em projeção. Entretanto, caso tenha havido mudança, o programa previsto para o Astor é uma comédia com todas as condições de emplacar: Os Espiões que entraram numa fria (Spies Like Us), de John Landis - o consagrado diretor de "Um Lobisomem Americano em Londres", entre outros sucessos.
Com dois nomes populares nos Estados Unidos - Chevy Chase e Dan Aykroyd - Landis tirou todas as vantagens possíveis da química entre dois astros cujo relacionamento começou quando ambos trabalhavam num dos programas de maior audiência na televisão americana - "Saturday Night Live", audição que revolucionou sua abordagem satírica de assuntos correntes.
E justamente este clima irreverente e demolidor - talvez até aproximando-se do humor corrosivo dos ingleses do Monty Python - faz de "Spies Like Us" uma comédia atraente. O argumento é simples, quase caindo ao pastelão: Emmett Fitz-Hume (Chevy Chase) e Austin Millbarg (Dan Aykroyd) são dois agentes novatos escolhidos para "patos" numa jogada de alta espionagem. Designados para uma missão impossível, arriscam-se entre perigos dignos da melhor fase dos seriados (quem se lembra?) dos anos 40 e 50 e, naturalmente, conseguem saírem-se bem.
Como o público parece apreciar comédias descontraídas (basta ver as bilheterias extraordinárias que a série "Loucademia de Polícia" conseguiu) e John Landis; é um diretor criativo, "Os Espiões Que Entraram numa Fria" merece uma verificação. Um destaque: a trilha sonora é do ótimo Elmer Bernstein, autor também da magnífica banda sonora de "Perigosamente Juntos" (Leal Eagles), outra comédia - esta mais sofisticada, com direção de Ivan Reiman ("Ghostbusters - Os Caça-Fantasmas"), e que deve estrear no condor nos próximos dias - talvez em seqüência à "A Difícil Arte de Amar" (Hearttburns), de Mike Nichols (que, salvo mudança de última hora), continua em exibição. A propósito: a ótima trilha sonora de "Perigosamente Juntos" já saiu no Brasil em lançamento da WEA.
O sucesso de Mônica - Maurício de Souza tem boa estrela. De 1959 a 1986 construiu um pequeno império de sonhos através dos seus queridos personagens e agora, em termos cinematográficos, encontrou uma boa fórmula: os desenhos curtos com Mônica e sua turma, fazendo programas de uma hora para projeções matinais nos fins de semana. Há mais de um mês que as sessões zig-zag das 10, 11 e 12 horas do cine Plaza, vêm tendo um público crescente para curtir "As Novas Aventuras da Turma da Mônica" - um programa, aliás, tão interessante, que chegou até a ser apresentado, hors concours, no Festival de Cinema, Televisão e Vídeo do Rio de Janeiro, que se realiza nesta semana no Hotel Nacional.
"As Novas Aventuras da Turma da Mônica" reúne oito pequenas histórias estreladas por Mônica e sua turma. Os episódios são unidos para uma apresentação do elefante Jotalhão, que apresenta os personagens e conduz a ação. Em "Oh Que Dia!", Cebolinha não consegue aproveitar um dia bonito, pois tudo para ele dá errado. "Um Cão Bem Treinado" traz Cebolinha treinando seu cão Floquinho para se defender dos ataques de raiva de Mônica. Com tudo o que Cebolinha faz sua tentativa acaba mal. "O Vampiro" mostra Mônica e Cebolinha às voltas com um vampiro que, desesperado com as coisas que a garotinha dentuça lhe faz, decide voltar para o túmulo e dormir por mais 100 anos. A Fonte da Juventude mostra Cebolinha às voltas com os amigos que beberam a água da fonte errada e ficam cada vez mais crianças. Em Último Desejo, Mônica, para espanto de Cascão, obedece às ordens mais malucas de Cebolinha. No fim, ela acerta as contas. "O Monstro do Lago", mostra Chico Bento na defesa de uma criatura aquática que está sendo atacada pela população. Mas o monstro bonzinho se salva e tudo acaba bem. "Cascão no País das Torneirinhas" mostra o nosso herói, que tem horror de água, tendo pesadelos, numa terra estranha. "O Grande Show" junta outra vez Mônica, Cebolinha - como um mágico, de cartola e tudo - e Cascão. Evidentemente, as tentativas dos dois meninos em vencer Mônica não acabam bem.
Nada como sonhar num mundo de fantasia colorida. E, de forma bem brasileira, Maurício de Souza oferece isto com seus personagens. Ainda bem!
LEGENDA FOTO 1 - Glenn Close num duplo papel em "Maxie".
LEGENDA FOTO 2 - Para as crianças, as Novas Aventuras de Mônica e sua Turma nas sessões Zig-Zag do Plaza: sábados e domingos, às 10, 11 e 12 horas.
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