Os 120 anos de Stresser, autor da ópera "Sidéria"
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 18 de julho de 1991
Hoje, 18 de julho, transcorre o 120o. aniversário de nascimento de Augusto Stresser - um homem que marcou sua vida não apenas como autor da primeira (e uma das raras) óperas escritas no Paraná, estrea do no antigo Theatro Guayra, em 3 de maio de 1912 - mas que foi também desenhista, pintor, poeta, ourives, pioneiro da fotografia, interessado na arte da gravura - enfim, um homem animador cultural que, em 1893, com um grupo de amigos fundava o Grêmio Musical Carlos Gomes - que chegou a ter grande atividade no final do século na provinciana Curitiba de menos de 50 mil habitantes.
Executando flauta, flautim, contrabaixo e piano, desenvolvendo seu lado de compositor, sua primeira criação foi a mazurca "Pérolas da Noite", a qual se seguiria a fantasia "Prelúdio" e, mais tarde um hino para o cinqüentenário do Paraná - efeméride que também o motivou a desenhar a medalha alusiva à data. Aluno da primeira Escola de Belas Artes de Curitiba, criada por Mariano de Lima, os desenhos de Stresser ilustraram várias publicações - desde que, em 1899, publicou uma alegoria sobre a Proclamação da República, a pedido do editor do jornal "15 de Novembro", Narciso Filgueira.
Com Silveira Neto, poeta e jornalista - de quem seria um dos maiores amigos - faria a ilustração do jornal "O Guarany" - num entusiasmo pelo jornalismo que passaria a um de seus oito filhos, Adherbal, [fundador] do "Diário do Paraná" em 15 de março de 1955.
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Em 1911 chegava a Companhia de Operetas Alemães Papke que não resistiu ao inverno curitibano. Aqui acabou dissolvendo-se mais um de seus integrantes, o alemão Leo Kessler, regente da pequena orquestra, ficou na cidade. Interessou-se em conhecer os (poucos) músicos e compositores locais e ao saber que Augusto Stresser tinha o projeto de uma ópera, o animou a concluí-la. O poeta e o jornalista Jaime Ballão juntou-se como libretista - desenvolvendo a trágica história ambientada na Revolução Federalista, quando Alceu, um militar perseguido é acolhido por Sidéria, bela jovem que por ele se apaixona. O militar que vem prender o herói, Juvenal, apaixona-se por Sidéria e ao final a mata quando ela se recusa ao seu amor - suicidando-se em seguida. Uma tragédia repleta de paixão e sangue que ganharia, entretanto, uma elogiada roupagem sonora de Kessler, sobre a música de Stresser e que numa montagem tendo a então jovem Marietta Bezerra no papel-título e o Jorge Leitner como André, lotou o antigo "Guayra" por dez noites ( na estréia, o presidente do Estado, Carlos Cavalcanti, ali esteve) e, posteriormente, teve duas recitas em Ponta Grossa. A repercussão foi grande, com registros na imprensa nacional ( a revista "Fom-Fom", do Rio de Janeiro de grande prestígio na época chegou a lhe dedicar quatro páginas).
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Em 1972, quando do 60o. aniversário da encenação da ópera "Sidéria", o padre José Penalva, então dirigente da Pró-Música de Curitiba, coordenou uma montagem de trechos da obra de Stresser, com [interpretações] de cantores [líricos] paranaenses. Ao que parece foi esta a única vez que, nos últimos anos se pode conhecer, mesmo que fragmentariamente, uma obra que, historicamente, entrou como a primeira tentativa de se fazer uma ópera com tema paranaense, aqui escrita e montada. Tendo deixado também outras peças musicais, infelizmente poucos conhecem a obra de Augusto Stresser - que assim como outros compositores paranaenses (Bento Mossurunga, Brasílio Itiberê, Benedito Nicolau dos Santos, etc.) até hoje não mereceu um projeto organizado de edição - a gravação - de suas obras. Uma tímida tentativa foi feita, há alguns anos, no projeto "Paraná Canta", resultando um elepê coordenado pelo cantor Ivo Lessa - Mas que, obviamente, foi insuficiente para abranger todos os autores em seus momentos mais representativos.
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Embora dedicando-se a atividades intelectuais - como poeta, jornalista, desenhista, pintor, músico etc. - Augusto Stresser jamais teve qualquer remuneração por estes trabalhos. Ao contrário viveu modestamente como dedicado funcionário do Ministério da Fazenda, onde entrou com concurso aos 19 anos. Em 2 de setembro de 1890, era o próprio "ministro e secretário do estado dos Negócios da Fazenda e presidente do Tribunal do Thesouro Nacional ", Ruy Barbosa, quem assinava o documento nomeando-o para o cargo inicial de praticante da Thesouraria da Fazenda do Estado do Paraná. Augusto Stresser faleceu aos 47 anos, em 18 de novembro de 1918.
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