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Aramis

"A Outra", Woddy Allen bergmaniano

Um filme de Woody Allen é sempre um evento. Afinal, ele é um dos cinco cineastas contemporâneos mais importantes. Há quem consiga não gostar e achar defeitos em sua obra - mas, em compensação, a empatia que estabelece com uma fatia bem maior do público mais bem (in)formado é a confirmação de que sem sair de sua cidade seja com seu humor tipicamente judeu-urbano (como retoma em "New York Stories", lançado em março nos EUA e ainda sem data de estréia no Brasil) ou em seus mergulhos bergmanianos, como "Interiores" (1978), "Setembro" (1987) e agora em "A Outra", tem aquilo que marca os grandes cineastas: a empatia de ser universal em seus sentimentos. "Another Woman", um filme tão bem realizado que até os mais mal humorados críticos e detratores de sua obra não conseguiram achincalhar (como injustamente, fizeram com "Setembro"), é daquelas obras que justificam amplos mergulhos interpretativos - pois a exemplo de um Antonione, Fellini e Bergman - cineastas que lhe fizeram a cabeça - Allen, 53 anos, consegue, mesmo sem ter talvez a intenção, oferecer múltiplas veredas para ser entendido. Na sinopse que a 20th Century Fox, distribuidora de "A Outra" no Brasil, divulgou, o filme é sintetizado como "um drama psicológico sobre uma professora universitária, Marion (Gena Rowlands), que descobre quem ela realmente é e que ela não é o que pensava ser" (sic). Uma síntese simplista e até lusitana, que não dá, evidentemente, a dimensão do que contém os personagens deste filme - o 17º escrito e dirigido por Allen. Gena Rowlands, viúva do cineasta John Cassavetes (1929-1989), excelente atriz, é uma mulher (aparentemente) realizada - professora universitária, bem casada com um médico, que freqüenta ambientes sofisticados - mas que de repente se questiona em seus valores. A partir de então, seja revendo seu passado ou tendo relações com personagens que, inesperadamente, influem em sua vida - como Hope (Mia Farrow), uma mulher em profunda crise, transforma-se interiormente. Quem já viu "A Outra", aposta que Gena Rowlands como "Marion" cria uma das melhores interpretações de sua vida. No elenco, outros nomes de maior significado: Ian Holm, Gena Hackmann (numa curta aparição), o veterano John Houseman e Sandy Dennis (também aparece rapidamente). Mia Farrow, esposa de Woody e que lhe deu seu primeiro filho no ano passado - pela oitava vez atua sobre as ordens do marido. Como todos os seus filmes, Allen filmou em Nova Iorque, num período de 10 semanas, durante o outono de 1987. As locações incluíram cenas no Central Park, Greenwich Village, o histórico Cherry Lane Theatre e o Chumlev's Bar no West Village. Ou seja, visualmente, na fotografia do sueco Syen Nykvist (o operador favorito de Bergman), já vale como uma viagem à Big Apple. A música, como sempre, é excelente, na seleção do próprio Allen - que, as segundas-feiras, está sempre no Michael's Pub, tocando clarineta nas reuniões de jazz que ele adora. LEGENDA FOTO - "A Outra", um novo mergulho bergmaniano de Woody Allen, com duas excelentes atrizes: Gena Rowlands e Mia Farrow. Uma estréia imperdível no Bristol.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
1
19/08/1989

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