Jota, a letra da sorte
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 19 de agosto de 1989
O deputado Aníbal Curi, todo poderoso e influente presidente da Assembléia Legislativa e há quase quatro décadas tido como bruxo (ou Guru) de nossa pantanosa política, teria afirmado que o próximo governador sairá entre os que tem "jota" em seu nome (Jaime Canet Jr., José Richa, João Elísio Ferraz de Campos, Jaime Lerner, entre outros). O jornalista Luiz Geraldo Mazza, arguto como sempre, já contestou esta teoria, na verdade mais como frase de efeito do que, realmente, previsão política.
Entretanto, a letra "jota" parece que tem sua cabalística. Tanto é que Maria do Carmo Cavalcanti Fortes, após mais de dois anos de pesquisa, completou um novo livro ao qual deu o título de "J - A Letra que Faz a História", depois de ter pensado em três títulos igualmente sugestivos: "E os Jotas Voltaram", "A Evolução da Humanidade Através dos Jotas" e "Jotas, os Homens-símbolos".
São 152 páginas, 149 das quais para mais de 300 biografias de personalidades marcantes que, coincidência ou não, tinham a letra "jota" em seu nome.
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Na introdução, Do Carmo Fortes lembra que, décima letra e sétima consoante do alfabeto português, primitivamente o "J" confundia-se com a letra "I" (razão pela qual a abreviação "Jesus Cristo Rei dos Judeus" ficou como INRI). Ora tinha valor vocálico, ora consonantal. A partir do século XVII generalizou-se nas línguas latinas (exceção feita do italiano, que preferiu o grupo) GI ou J, o primeiro como sinal vocálico, o segundo como sonantal, que numa série primária ocupa o décimo lugar do alfabeto português.
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Outra observação feita por Do Carmo Fortes: "como a maioria dos "J" deste livro estão dentro da era de Peixes, onde houve o desenvolvimento do Cristianismo, que agora é substituído por Aquário, há aí um sentido que não pode ser desprezado (...). Devemos lembrar que todos os apóstolos foram escolhidos entre pescadores e que a mitra papal é uma cabeça de peixe estilizada. Quem sabe não esteja aí o mistério dos "J"?
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O levantamento feito por Do Carmo Fortes não tem pretensões de ser definitivo, embora tenha pesquisado bastante para identificar as figuras-símbolos com a letra "J" em seus nomes. Só isto fará de seu livro (à espera ainda de um editor), uma obra referencial, pois cada nome mencionado constitui um verbete biográfico objetivo. Embora sem uma preocupação acadêmica de agrupamento dos biografados por atividades, há uma certa ordem cronológica, a partir dos primeiros pesquisados - de origens bíblicas: Jacó, José, Judite, Jó, Jeremias, Jonas, João Batista, João Evangelista - passando depois a Santos - como (São) Jerônimo (350-420) ou Francisco de Assis (1182-1226), cujo nome real era João Bernardone.
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Inventores, pioneiros, artistas, escritores, compositores, pensadores, filósofos, etc., são relacionados. Alguns exemplos: Johnnanes Kepler (1571-1630); John Milton (1608-1674); Jean de la Fontaine (1621-1695); Jean Baptista Poquelin ou Moliére (1622-1673); Jean Baptiste Racine (1639-1699); Jonathan Swift (1667-1745); Johann Sebastian Bach (1685-1756); Jean Jacques Rousseau (1712-1778); Thomas Jefferson (1743-1826); James Monroe (1758-1831); Jean Baptista Debret (1768-1848); Jules Verne (1828-1905); José Maria Eça de Queiroz (1846-1900); James Joyce (1882-1941); John Kennedy (1917-1963); Jean Paul Sartre (1905-1980), só para ficar entre alguns dos exemplos estrangeiros.
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No Brasil, também Do Carmo Fortes identificou pelo menos cinco dezenas de pessoas-símbolos que se projetaram em diferentes campos: de João Ramalho e José de Anchieta (1534-1597) à Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-1976), João Goulart (1918-1976) e José Sarney (1930), a sua listagem aproxima os que tiveram a ventura de ter o "jota" em seus nomes.
Na introdução, prudentemente, Do Carmo Fortes lembra porém que se "o nome com a letra jota constitui, obrigatoriamente, símbolo de pessoa relevante (...) nem todos os jotas tiveram importância histórica. Muitos inclusive se destacaram e continuam hoje em atuações medíocres e negativas, nos alertando a força do mal e o seu poder de definir posições".
Filha do lendário Tenório Cavalcanti, Maria do Carmo Fortes é pintora naif, pesquisadora e escritora. Há poucos dias lançou seu livro de poesias "Fértil Silêncio" e tem mais duas obras em preparo. Há três anos publicou uma biografia sobre o seu pai, editado pela Record.
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