A prosperidade de quem conta histórias infantis
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de dezembro de 1986
A Feira Intercolegial do Livro está dando um natural destaque à produção destinada à infância. É natural. Afinal, para que a indústria editorial continue a crescer, é necessário que se desperte cada vez maior interesse nas crianças pela boa leitura.
Roberto Gomes, da Criar - a mais atuante editora do Paraná, tem dado sua contribuição. Quase 80% de seus lançamentos destinam-se às crianças e ainda agora além de lançar a segunda edição de "O Menino que não Gostava de Ouvir Histórias" (16 páginas, ilustrações de Bellenda, Cz$ 25,00), tem programado a primeira experiência da poeta, tradutora e publicitária Alice Ruiz na literatura infantil ("A Nuvem Feliz"), na coleção "Carolina", pela qual também sairão "O Lambari Comilão", de João Donha e "Carolina do Nariz Vermelho", do próprio Gomes, também autor de "Terceiro Tempo de Jogo", que vai inaugurar outra série, justamente chamada de "Terceiro Tempo".
xxx
A quantidade de livros infantis que mensalmente vai para o mercado é tão grande que se torna impossível registrá-los. Entretanto, eis alguns dos últimos lançamentos. A Ibrasa publica "A Menina dos Cravos Brancos", de Tito de Míglio, ex-roteirista e produtor de televisão, com vivência internacional. Desde 1959, "Capitão Jagunço" é uma clássica aventura, que fez de Paulo Dantas um nome popular a gerações mais jovens. Autor de uma obra imensa, Dantas, 64 anos, tem agora lançada uma nova versão do episódio que tanto o fascina - Canudos - em "Menino Jagunço". Aliás, na grande obra de Paulo Dantas, são muitos os livros voltados a fatos históricos do Nordeste (ele é sergipano do município de Simão Dias), contribuindo assim para que as crianças e adolescentes de outras regiões conheçam um pouco mais de história popular de uma extensa parte do Brasil.
xxx
Premiado com o "Diplome Loisirs Jeunes", "Três Garotos da Amazônia", de Antonieta Dias de Moraes tem agora uma nova edição desta vez pelo "Clube do Livro". Já Maria Lúcia Amaral escreveu e Rui de Oliveira ilustrou "O Homem que Botou Ovo", livro dedicado a crianças até 6 anos, que marca o interesse da Rocco também pela faixa infantil.
Brabo demolidor de mitos gaúchos (inclusive Bento Gonçalves, sobre quem dedicou um livro acusando-o de ladrão de cavalos), o radical Tau Golin, presença incomodativa nos eventos nativistas, também se volta para o mundo das crianças lançando "O Duende dos Cabelos de Fogo", em parceria com Geraldo Marques (Tchê, 32 páginas, Cz$ 28,00). Tau Golin faz uma versão atualizada da lenda indígena, do Curupira, defensor das flores e fauna, apanhando a relação entre a natureza e o homem. Aliás, há alguns anos, uma campanha criada pelos publicitários Gilberto Ricardo dos Santos e Desidério Pansera e Paulinho Vítola, na Múltipla, em defesa do meio ambiente do Paraná e que usou a figura do Curupira, sofreu uma grande oposição no Paraná, já que muitos viam neste duende a imagem do demônio. Tau Golin, em seu livro, mediante uma metodologia inteligente leva a criança a participar do enredo da estória e assim coloca as premissas básicas do seu desenvolvimento.
xxx
Não chega a ser propriamente um livro infantil - embora traga lembranças de uma época: "Jogos Infantis", de Haroldo Maranhão, paraense de Belém, formado em Direito e Jornalismo. Autor já de vários livros, publica agora "Jogos Infantis" (Cz$ 70,00, 79 páginas, Francisco Alves), um volume no qual mergulha no mundo mágico da infância, na qual todos vivemos um dia - e cuja importância só nos damos quando passamos dos 40 anos. Nostálgico.
LEGENDA FOTO - Alice: livro infantil.
Enviar novo comentário