A lembrança dos anos de fogo no livro póstumo de Sra. Malka
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 07 de outubro de 1990
Embora não exista uma atividade regular na área da resenha de livros - (em termos de crítica mais profunda, nem pensar) - alguns intelectuais e jornalistas que acompanham o movimento editorial no Paraná, como o professor Hélio de Freitas Puglielli, colaborador de O Estado do Paraná, poderão, no final do ano, para a 25ª edição do suplemento dos melhores na área artística-cultural, fazer apreciações em conjunto do que se vem publicando - em iniciativas oficiais ou privadas. Embora a Criar tenha fechado com a transferência do seu proprietário, Roberto Gomes, para a direção da Editora da Universidade Federal do Paraná, títulos interessantes, em várias áreas, vem aparecendo.
Um deles, lançado já há alguns meses - mas que não teve as apreciações merecidas - foi "Os Abismos", obra póstuma da Sra. Malka Lorber Rolnik (1922-1987), mãe dos jornalistas Szya e Blima Lorber, que, com a ajuda do irmão José e do pai David, fizeram o lançamento - oficialmente em 13 de março, no Centro Israelita, distribuído posteriormente a todo o país.
Emocionante em sua sinceridade e refletindo anos de sofrimento, "Os Abismos" insere-se naquela categoria de obras-denúncia de um dos períodos mais terríveis deste século - as perseguições aos judeus, na Alemanha e também na Rússia, onde, quando ainda menina, a autora viveu. Escrevendo com sofrimento, mas sem ódio, desenvolveu ao longo das 219 páginas de seu livro um relato humano, enriquecendo a bibliografia - que, em nosso Estado, já teve outros bons autores com seus textos documentais, como Berel Brick ("Judeus em diferentes terras e situações"), Malka, nascida em Chelm, da Polônia, viveu por 35 anos no Brasil. Aqui casou, teve filhos e, sem pretensões, escreveu seu livro memorialístico, que não pode ver editado - mas que sua família editou, com capa de Juarez Borato e impresso na Montanha Composições Eletrônicas.
Já que falamos em livros, eis alguns registros de edições da Francisco Alves. De princípio, a reedição das obras completas do escritor mineiro Autran Dourado, 64 anos, prossegue com "Monte de Alegria", mais um momento de sua obra centrada em imaginárias (mas na verdade muito reais) paisagens mineiras que ele tão bem conhece. O Monte de Alegria que dá título a este novo romance fica no sul de Minas, perto da cidade fictícia de Duas Pontes, epicentro de sua obra. Ele serve de cenário de um trio de andarilhos milagreiros - irmão Francisco (Santinho) e as irmãs Marta e Maria, pecadores arrependidos que esmolam para construir uma ermida. Ante o veto das autoridades religiosas, desencadeiam-se a luta armada, que remete alusivamente às guerras entre governo e fanáticos (Antônio Conselheiro, Contestado, Dona Doca etc.) ocorridas em várias partes do Brasil.
Com livros traduzidos para várias línguas, com "Os Sinos da Agonia", Dourado foi adotado nos exames de agrégation das universidades francesas. Mais de vinte teses de mestrado e doutorado foram escritas sobre a sua obra, que já lhe valeu oito prêmios no Brasil e uma na Alemanha, o Goethe de Literatura. O seu romance "Ópera dos Mortos" foi escolhido pela Unesco para integrar a sua coleção de obras representativas. Pela Francisco Alves, já foram reeditadas "Ópera dos Mortos", "A Barca dos Homens", "Uma Vida em Segredo", "O Risco do Bordado" e "Os Sinos da Agonia".
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Para quem prefere leituras mais soft do que a literatura de Dourado, temos um novo romance de Stephen King - "Os Estranhos" (Os Tomkynockers), de Stephen King, que o cinema ajudou a se tornar o mais popular autor de histórias fantásticas dos últimos anos. Ficção-científica que envolve discos voadores, "Os Estranhos" vai agradar a quem aprecia as histórias de King - e por certo em breve chega sua versão ao cinema. Tradução de Luiza Ibanez, 638 páginas.
Já "Vendaval de Sentimentos" de V. C. Andrews dá prosseguimento à "A Saga dos Casteel", com dois volumes lançados pela Francisco Alves: "A História de Heaven" e "Anjo Negro". Intrigas, amores complicados e um esquema que satisfaz a quem busca literatura passa-tempo.
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Sem a mesma popularidade de Agatha Christie ou o intelectualismo de George Simenon, Edgar Wallace (1875-1932) está também entre os autores mais populares na área do romance policial. Seus livros tem os ingredientes clássicos para segurar os que se ligam numa história de mistério e não é sem razão que na coleção "Horas de Suspense" da Francisco Alves, 13 de seus romances já tenham sido incluídos, aos quais se acrescenta agora uma nova edição de "A Esmeralda Quadrada" (211 páginas, tradução de Maria Lígia Maia).
Também com elementos de suspense, mas destinado a uma faixa mais jovem, a Melhoramentos lançou "Aventuras no Egito" de Elisabeth Loibl, com ilustrações de Joel Oliveira Sobrinho. Numa época em que as novas gerações se ligam basicamente aos códigos audiovisuais (CD, filmes, vídeos), é importante que autores como Loibl se voltem a criar livros de ação, com ambientes fascinantes em diferentes países para tentar conquistar atenção de crianças e adolescentes.
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Para encerrar, registre-se a edição de "Maçã Agreste", de Raimundo Carrero (capa de Rogério Meier, 248 páginas editora José Olympio). Avalizado como uma revelação da nova geração comparado a autores como Márcio Souza, Antônio Torres e João Ubaldo Ribeiro, em seu romance Carrero aborda a trajetória de dois jovens que, revoltados com o tédio e o esfacelamento do mundo atual, buscam criar uma seita religiosa que explora, ao mesmo tempo, o misticismo e o militarismo. Ao longo das 248 páginas, Raimundo Carrero levanta questões sociais e políticas num livro de vigor. Pernambucano, 33 anos, Carrero com seu primeiro livro ("Sombra Severa", 1986, José Olympio) recebeu o prêmio revelação como romancista.
LEGENDA FOTO - Sra. Malka Lorber Rolnik, autora de "Os Abismos": uma obra documental; de anos de fogo e perseguições aos judeus.
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