Cadáver deu prêmio para Roberto Gomes
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 19 de janeiro de 1982
Mais um item no já expresso currículo do professor e escritor Roberto Gomes: no próximo dia 10, na sede da União Brasileira dos Escritores, em São Paulo, receberá o prêmio "José Geraldo Vieira" – conferido ao romance "Alegres Memórias de um cadáver", em segunda edição, lançado agora pela criar Edições, do próprio Gomes. Há três anos, quando saiu a primeira edição, o romance de Gomes esgotou em apenas seis meses e mereceu comentários e ensaios por parte de críticos de renome (Torrieri Guimarães, Wilson Martins, Antônio Hohlfeldt e José Dacanal). Romance de um humor corrosivo, onde se faz uma crítica devastadora à universidade brasileira, é um texto "divertido, ágil e impiedoso", segundo Chiavenato, e, ao mesmo tempo, um livro que "surpreende pela qualidade, a força da imaginação", segundo Torrieri Guimarães.
Para Wilson Martins, trata-se de "uma sátira e divertida", na qual o autor investiga a realidade do microcosmo de uma universidade.
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Autor de três outros livros ("Crítica da Razão Tupiniquim", filosofia, já em 5ª edição; "Sabrina de trotoar de tacape", contos, 1ª edição; "Antes que o teto desabe", romance), Roberto Gomes lançará em março "O menino que descobriu o sol", premiado no I Concurso Nacional de Contos Infantis. Depois de ter participado das experiências editoriais desenvolvidas por Werner Zotz (agora diretor de criação da Equipe Propaganda) na Beijo-Flor e Coo-Editora, Gomes – juntamente com alguns outros intelectuais paranaenses, fundou a Edições Criar, que está tentando diversificar o seu catálogo e provar as possibilidades de uma editora sobreviver no Paraná. Na série "Estudos", a Criar lançou recentemente "Análise do texto literário" de Antônio Manoel dos Santos Silva (146 páginas, Cr$450,00) e "Estudos sobre o modernismo", 166 páginas, em comemoração aos 60 anos da Semana de Arte Moderna (1922) e reunindo textos de Marta Morais da Costa, João Faria, Rosse Marye Bernardi, Denise Guimarães e Marlilene Weinhardt. Em fevereiro, o psiquiatra e professor Sérgio Gevaerd em "Psicopatologia: um guia" pretende expor os fundamentos de uma Psicopatologia que vise alternativas terapêuticas.
Quem está tentando viabilizar uma proposta editorial é o professor e crítico Vicente de Paula Ataide, cujos caudalosos ensaios críticos vêm sendo publicados em O ESTADO. Autor de uma dezena de livros – entre ficção e ensaios, Athayde quer fazer uma experiência editorial bastante audaciosa, com grandes tiragens de autores locais. Uma proposta pedindo gorda subvenção foi encaminhada ao secretário Luis Roberto Soares, da Cultura e Esportes – que já a remeteu para ser analisada por sua consultoria da área, a professora Cassiana Licia Lacerda Carolo.
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Enquanto Gomes forma sua editora e Athayde tenta conseguir recursos oficiais para publicar seus textos, os poetas da praça continuam preferindo as edições próprias. É o que faz, por exemplo, Ceres de Ferrante que pagou com recursos próprios a edição de seu novo livro de poesias, "Espaços Vazios" (106 páginas, impresso na Editora Litero-Técnica, fins de que 1981). Educadora aposentada e poeta de sensibilidade, desde 1967 Ceres vem publicando seus livros e promete para breve ao lado de três novos volumes de poesias ("De mãos postas", "Do meu ângulo" e "Natais"), um ensaio biográfico que poderá se constituir em fundamental contribuição a raquítica bibliografia sobre o nosso teatro: "Meu pai e o teatro amador no Paraná". Filha de Salvador Ferrante (1892 – 1935), fundador da histórica Sociedade Paranaense de Teatro, Ceres tem condições de oferecer um esclarcedor ensaio sobre uma importante fase da vida artística de nosso teatro.
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Ao lado dos autores e livros do Paraná, registre-se também importantes edições nacionais que aparecem agora. A Francisco Alves, editora que foi reestruturada há alguns anos vem diversificando cada vez mais os seus lançamentos e assim está inclusive reeditando clássicos como Victor Hugo e Sir Arthur Conan Doyle, que sempre se (re) lê com prazer. De Victor Hugo, Flávio Moreira da Costa coordenador de uma coleção especial escolheu "Os Trabalhadores do Mar", escrito em 1866 e cuja tradução para o português foi feita por Machado de Assis. A coleção continua com "Três Contos" de Gustave Flaubert e "Recordações da Casa dos Mortos" de Dostoievski. Já abrindo a coleção Sherlock Holmes, duas das mais famosas estórias do detetive: "O Cão dos Baskervilles" e "Um Estudo em Vermelho".
Ao mesmo tempo que busca os clássicos, a Francisco Alves se preocupa em revelar os novos (e importantes) autores como Piers Paul Read, 40 anos, inglês, que com seu "Um Homem Casado" – romance que aborda o problema do homem na meia-idade que começa a se questionar sobre sua vida, e, ao fazer uma auto-avaliação, entra em questão o seu casamento.Com este livro (264 páginas, Cr$790,00) é aberta a coleção "A Poesia do Mundo", que prosseguiu com " A verdadeira Vida de Sebastião Knight" de Vladimir Nabokow (o festejado autor de "Lolita") e que tem entre próximas títulos, " A Família Moskat" de Issac Bashevis Singer e "Visível Escuridão" de William Golding. Em outra coleção da mesma Editora – Presença – temos "Memórias de uma Revolucionária", autobiografia de Yuan Tsung Chen que reconstrói aspectos da revolução chinesa – a qual esteve ligada até 1972, quando foi para os Estados Unidos.
Num outro campo, sai "Como se preparar para o sexo" (like, Love, Lust – a view of sex and sexuality) onde o jornalista Jonh Langone, especialista em ciência e medicina, aborda as nem sempre fáceis relações que o ser humano desenvolve ao longo da vida no campo amoroso, afetivo e social. Em 128 páginas (Cr$ 450,00), Langone descreve as posições atuais e históricas diante da vida comum, com ou sem casamento, os ajustamentos públicos e particulares dos homossexuais numa sociedade heterossexual, a validez – ou os prejuízos da pornografia e da prostituição.
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