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Aramis

As boas rendas da poesia, um tema sempre necessário

A Poesia é necessária. Mais do que nunca faz bem ler os poetas. Dos consagrados, como o sempre jovial Drummond - com novos livros na praça ("Caminhos de João Brandão") e, especialmente, "Amar se Aprende Amando", pela Record; ou mesmo em seus "Contos Plausíveis", José Olympio, 160 páginas, Cr$ 35.000) ou a gente jovem, como aqueles que Guido Bilharinho, o bravo editor de "Dimensão/Revista de Poesia", vem editando há cinco anos na cidade de Uberaba, Minas Gerais. No Paraná, entre o humanismo e sensibilidade de nossa poeta maior, Helena Kolody (em boa hora teve um novo livro lançado por Roberto Gomes, da Criar Edições) e a vitalidade de João Manuel Simões (incansável em seus numerosos títulos), muita gente está publicando seus poemas . Enfim, o público existe para a poesia, se não [inexistiria] uma produção tão ampla. ANTOLOGIAS Poesia lembra antologia, fórmula de capturar os momentos mais brilhantes de um autor, uma escola ou um movimento definido. A Ática, de São Paulo, iniciou agora uma série que embora destinada ao público estudantil, interessa também aos que, de uma forma ou outra desejam entender melhor as nossas letras: a trajetória da poesia brasileira, desde as suas primeiras manifestações até a variada produção contemporânea, marcada por escolas e propostas estéticas de significação maior em nossa literatura. Os dois primeiros lançamentos são as Antologias de poesia brasileira dedicadas ao Romantismo e ao Realismo/Parnasianismo. Com organização de Valentim Facioli e Antonio Carlos Olivieri, o volume dedicado ao Romantismo traz representativa seleção de poemas, incluindo autores como Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela, Castro Alves e Sousa Andrade, além de introdução crítica, assinalando as principais características desta corrente literária. Também dentro desse prisma, o volume dedicado ao realismo e parnasianismo, apresenta por meio da organização e do texto introdutório de Benjamim Abdala Júnior, uma substantiva focalização dos aspectos centrais destas duas escolas, compreendendo poemas de Machado de Assis, Carvalho Júnior, Olavo Bilac e Vicente de Carvalho, entre outros. Publicação mantida graças ao idealismo de um grupo de poetas de Uberaba, MG, "Dimensão", circula semestralmente há cinco anos. Traz, além de ensaios e críticas, trabalhos de jovens poetas que ainda não chegaram a livros - arriscando-se, inclusive em estudos mais amplos, como uma análise da poesia Beat, da poesia experimental alemã, a divulgação de poetas portugueses e argentinos, como acontece na edição referente ao primeiro semestre deste ano, que circulou há poucos meses. Quem desejar obter esta revista pode escrever para Guido Bilharinho, Rua Arthur Machado, 75, conjunto l, caixa postal 140, CEP 38.100, Uberaba, Minas Gerais. Está surgindo também livros de novos poetas, como José Farid Zaine, professor em Limeira, SP, também autor de muitas letras de músicas que tem sido premiadas em festivais realizados no interior de São Paulo. "Caçador de Espumas", em edição do próprio Farid Zaine, agrupa poesias destes últimos anos, revelando muita sensibilidade. VETERANOS MAS DESCONHECIDOS Triste destino de poetas de sensibilidade, que publicaram boas poesias mas permanecem esquecidos. Quem, por exemplo, lembra-se de Braz X - pseudônimo de Braz Xavier Bastos (Augustura, MG-1857/Juiz de Fora,MG-1932), que exerceu várias profissões e foi poeta e escritor por vocação? Agora, a Francisco Alves reuniu alguns de seus melhores poemas em "Reflexos", que ao menos serve como uma introdução a sua obra - tão esquecida dos compêndios oficiais de literatura, mas significativa em sua sinceridade. A paixão da poesia, o encanto da palavra escrita são dois pólos em que se divide a obra poética de Ana Elisa Gregori, desde o seu volume de estréia, "Falar da Lua" (1966). Agora, publica "Ecce Hommo" (Livraria José Olympio Editora, 90 páginas, Cr$ 9.100), sua terceira coletânea de poesias. De "Falar de Lua" e "Canto de Ofélia" (1969) para este "Ecce Hommo" houve o amadurecimento de visão do mundo, a conquista de um território lírico mais amplo, a assenhorear-se de seus instrumentos de expressão. Neste livro, há um conjunto que a rigor pode ser lido como um único, de tal maneira as suas partes constitutivas se interligam em sua essência. Possuidor de vários prêmios, já editado no Exterior, Paulo Bandeira da Cruz (Olinda, 5/8/1940) publica a "Ciranda de Sonetos" (José Olympio Editora, 86 páginas, Cr$ 7.700). Sonetista exímio, Paulo Cruz cria seus poemas em busca da renovação, num esforço de propor dinamismo maior da própria língua, no avanço da linguagem, da criatividade e da vida. Não existe em sua poesia o acaso, ou achado independente de uma busca não norteada ou dirigida. Exemplo disto temos no soneto "Invenção da Rosa": Atirei de carabina/penetrei a noite fria Furei o eixo da lua/do leite escorreu poesia Calei a boca da noite (sua voz que não se ouvia) De todos os meus inventos/esse foi o mais sensato Criei a Rosa-dos-ventos/ seu encarnado retrato Corola de cata-ventos/ e seu espinho abstrato. A POESIA DA JUSTIÇA Um casamento aparentemente insólito: a lírica e livre poesia à severa Justiça. Mas as aparências enganam. O casamento deu certo, com um belo fruto: um livro inédito - "A Toga e a Lira" (Record, 224 páginas, Cr$ 26.900) - onde 21 desembargadores e juízes do Rio de Janeiro despem suas togas e feições severas para se transformar em poetas sensíveis às dores, alegrias e preocupações cotidianas dos homens comuns. No Paraná, tivemos um admirável juiz-poeta: Assad Amadeu, tragicamente falecido há poucos meses. No Rio, os juízes Carmine Antonio Savino Filho e Fernando Pinto, que são bons poetas, resolveram convencer colegas da Justiça a mostrar suas poesias. O resultado está em "A Toga e a Lira", retrato da alma de homens que se consagraram à Justiça talvez pelas mesmas razões que fazem versos: a busca do equilíbrio social, que tem muito a ver com o belo, o sublime e o harmonioso. Emoção, lirismo, sensibilidade, religiosidade são algumas das facetas que transparecem em versos que cantam o amor e a liberdade, a infância, a mulher, sol e lua, tristeza e alegria, noite e dia, carnaval, futebol, flor... (JLM)
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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34
22/09/1985

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