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Aramis

Não tão novos, mas ainda bons baianos

É interessante observar a evolução dos compositores e intérpretes de nossa MPB. Artistas que começaram há dez, quinze ou vinte anos - e que ao longo desse período, com maior ou menor regularidade, foram galgando novos espaços, buscando um público específico - foram se adaptando às regras do mercado. Por exemplo: o grupo que começou no Teatro Vila Rica em Salvador, em 1968, com o espetáculo "Desembarque dos bichos depois do dilúvio". Eram dez jovens, então na faixa dos 17/22 anos e que num ano marcado por múltiplas explosões políticas/ artísticas (de Godard ao Al-5) surgiram com uma mistura de "baianidade" e influência pop. O nome escolhido era "Os Novos Baianos" e desde então seus integrantes estão na estrada - alguns com sucesso, outros mais esquecidos. O grupo sofreu distenções e acréscimos, fez discos em várias etiquetas e hoje é um ponto de referência. Sobraram, pelo menos, quatro bem sucedidos: Moraes Moreira (Luís Carlos Morais, Ituaça, BA, 1947); Paulinho Boca de Cantor (Paulo Roberto Figueiredo de Oliveira, Santa Inês, BA, 1949); Pepeu (Pedro Anibal de Oliveira, Salvador, 1952) e a hoje superstar Baby Consuelo (Bernadete Dinorá de Carvalho Cidade, Niterói, RJ, 1952). Dois destes - Moraes e Baby - estão com novos elepês na praça. Discos em que procuram manter um espaço conquistado e ampliado nestes últimos anos, mas sem fugir de uma linha que os remete, sempre, à boa MPB. Apesar de todas as lantejoulas e estrangeirices que faz, Baby gosta mesmo da boa MPB, como provou, anos atrás, ao se deliciar, numa tarde toda, ouvindo os tesouros da discoteca de Luciano Lacerda. Só que para o seu público - na faixa dos 16/26 anos - ela tem de oferecer aqueles rocks pesados, a imagem multicolorida e amalucada - ao lado do seu marido, o guitarrista Pepeu Gomes (também com uma dinâmica corrida solo). Mas a Baby brasileira sabe buscar um clássico como "Eu e a Brisa" (Johnny Alf), que regravou há quatro anos, ou valorizar a grande Admilde Fonseca, para dividir "Delicado" clássico baião que, com Osvaldinho e Sivuca no acordeon, se constitui no grande momento e de "Sem Pecado e Sem Juízo" (CBS, agosto/85. Desta vez, na capa - em colorida foto de Antônio Guerreiro (com projeto gráfico do curitibano Jejo Cornelsen), Baby aparece amamentando seu último filho (ela tem seis, todos com nomes estranhíssimos). No ano passado, na capa de seu elepê, aparecia de barriga de fora - grávida. Baby (e Pepeu) chegam a um público jovem, mesmo as crianças - o que faz, por exemplo, dar destaque ao "Rock das Crianças", cuja autoria dividiu com os filhos Riroca, Zabelê, e Nanashara - e mais o marido Pepeu. Baby e Pepeu são autores também de quatro outras faixas ("Sem Pecado e Sem Juízo", "Araruama", "Mensageiro Interplanetário" ("Que Delícia" e "Positiva"). Para mostrar que também sabe ser romântica, há o delicioso bolero de Carrilo "Sabor A Mi", numa emotiva interpretação. MORAES, SEM APELAÇÃO Rachel Valença, na "Isto é" (4/9/85), sintetizou brilhantemente o que penso em relação ao novo elepê de Moraes Moreira ("Tocando A Vida", CBS): um processo exemplar de amadurecimento musical. Aos 38 anos. Moraes trilha novos caminhos e consegue surpreender, com um disco sem a trepidação (melhor dizendo: apelação) do esquema "trio elétrico", que o caracterizava. Assim, Moraes elegeu uma temática comum a quase todas as faixas - os instrumentos musicais, fazendo bonitas citações; em "Garoto Cavaquinho", o instrumento é descrito como "um pedacinho do céu" e fala em "jeito delicado e muito brasileirinho", são óbvias as referências a três famosos choros em que o cavaquinho tem desempenho marcante. A letra de "O Bandolim de Jacob" fala igualmente de uma época de ouro" e de "sonho em vibrações" - afora a introdução de "Doce de Coco". Ótimos instrumentistas: Pepeu Gomes (guitarra), Rafael Rebelo (violão), João Donato (piano), Altamiro Carrilho (flauta) e Marçal (percussão). Um momento de bela emoção: a participação de Davi Moraes, 12 anos, em "Garoto Cavaquinho". LEGENDA FOTO 1 - Baby Consuelo: amamentando o filho que anunciava no disco anterior.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
38
22/09/1985

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