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Cezar luta para que o Atuba ganhe o seu parque histórico

Enquanto aguarda que o prefeito Jaime Lerner se disponha a sancionar o projeto que apresentou na Câmara e, aprovado em segunda discussão, dispõe sobre a exploração dos estacionamentos de veículos, o vereador Jair Cezar está tentando sensibilizar o alcaide para uma outra importante questão: fazer com que o Parque Histórico de Curitiba criado pelo mesmo prefeito Lerner, há 23 anos, deixe de ser um matagal abandonado e se transforme num centro de recreação ecológica, beneficiando vários bairros da cidade. Em 23 de março de 1972, em sua primeira administração, o prefeito Jaime Lerner assinou um decreto que determinava a criação do Parque Histórico de Curitiba, no local onde se fixaram os primeiros colonizadores que formaram a "Vilinha" que deu origem a cidade. A área destinada ao Parque foi doada à Prefeitura em 1967, mas nestes anos todos, apenas uma ponte e um monumento foram construídos no local. "O Parque encontra-se hoje em total abandono. Um absurdo visto sua importância para a preservação da memória da cidade" reclama, com razão o vereador Jair Cezar, pedetista fiel, amigo e defensor da atual administração, mas que justamente por isto - e para dar uma satisfação aos seus milhares de eleitores - vem lutando para que os donos do Poder Executivo Municipal atendam suas reivindicações. xxx Assim como vereador Jair Cezar hoje luta para que o parque deixe de ser uma ficção desta Capital que pretende ser a ecológica do Brasil, a criação do mesmo deve-se ao idealismo, dedicação e anos de trabalho de um dos historiadores mais notáveis que o Paraná já teve, o professor Júlio Lívio Moreira (Curitiba, 6/10/1899 - 24/7/1975). Durante muito tempo, após pesquisas em documentos e registros históricos da época, o professor Júlio Moreira embrenhou-se pelo pantanal que é ocupado por grande parte da área do parque para localizar o ponto exato, às margens do Rio Atuba, onde os primeiros colonizadores brancos - Ébano Pereira e um grupo de mineradores ali se fixaram, em 1654, na chamada "Vilinha", núcleo da Vila Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba. Numa de suas muitas obras, "Eleodoro Ébano Pereira e a Fundação de Curitiba" o professor Júlio Moreira comprovou a sua tese de como a cidade ali nasceu, embora, posteriormente o núcleo urbano tenha se transferido em alguns quilômetros - no chamado setor histórico, ao redor do qual se construiriam as igrejas da Ordem e do Rosário muitos anos depois. Agora, quando já existe até uma comissão nomeada para iniciar o planejamento dos 300 anos de fundação de Curitiba, a transcorrer em 29 de março de 1993, nada mais justo que a Prefeitura venha a fazer obras concretas no Parque Histórico. Recursos não devem faltar, já que a dispendiosa Fundação Cultural/Secretaria Municipal de Cultura teve até agora, somente neste ano, em dez meses, uma imensa verba de quase trezentos milhões de cruzeiros - com aplicação das mais discutíveis, inclusive planejando queimar cerca de US$ 100 mil na 14ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em sua extensão a Curitiba, conforme aqui denunciamos há uma semana. A área do Parque Histórico de Curitiba é de 15.600 metros quadrados no Bairro Alto, região que tem Jair Cezar como representante na Câmara. Diz o vereador: - "A infra-estrutura permite a instalação de um centro cultural-esportivo, que contará com bosque, churrasqueiras, canchas esportivas, arena, espaço para exposições e mesmo um anfiteatro. Um primeiro projeto elaborado pelo IPPUC mereceu alguns reparos do vereador que procurou colaborar com os arquitetos que o executaram, "já que residindo no bairro, conhecendo bem a região e suas necessidades e, principalmente, apoiando a atual administração, acho que posso dar uma contribuição positiva". Justamente como líder não só do Bairro Alto, mas também no Tarumã, Paraíso, Sacre Coeur, Higienópolis e Conjunto Colina Verde, Jair Cezar, advogado, 48 anos, incluiu como uma de suas metas nesta sua primeira legislatura, tudo fazer para que o Parque da Vilinha mereça a atenção merecida. Explica: - "Não entendia por que nada havia sido feito até hoje, 23 anos depois. Se já havia sido determinado, por que não dar continuidade a obra? A importância desta área cultural para a comunidade justifica os investimentos que serão feitos". Tendo auxiliado o deputado Rafael Greca a tentar conseguir votos naquela área da cidade - o que lhe custou alguns aborrecimentos com o também deputado e vice-prefeito Algacy Túlio, que também ali tem grande prestígio, o vereador Jair argumenta: "É um desperdício manter o Parque como está hoje. A obra não é supérflua, pois não será estática. Não será mais um "museu", como tantos outros espaços municipais. Será uma área de interesse público, principalmente para a comunidade grande Bairro Alto". O abandono da "Vilinha" é tamanho que as raras e desavisadas pessoas que o procura, por indicações de que "ali nasceu Curitiba" ficam decepcionadas. O cineasta Adolfo Drago, argentino radicado em São Paulo, da produtora ABA Filmes, que há 60 dias se encontra em Curitiba preparando um documentário sobre a cidade, tentou encontrar o local do monumento "eu nem consegui chegar perto". Não há indicações, o matagal é imenso e até para marginais a área é assustadora. Além do mais, como está, não adianta nada como ponto de referência histórica. É de se esperar agora, passada a preocupação política, que a Prefeitura lembre-se desta área e não para atender apenas aos reclamos do vereador Cezar, mas, sim, para justificar a tão apregoada preocupação de fazer aqui a Capital Ecológica do Brasil e oferecer a uma imensa região de Curitiba - das mais abandonadas em instrumento de lazer - um parque que há pelo menos 20 anos já deveria ter sido construído. LEGENDA FOTO 1 - Júlio Moreira: pesquisas de anos para localizar o ponto em que nasceu a Vilinha do Atuba. LEGENDA FOTO 2 - Vereador Jair Cezar: lutando para que o Parque Histórico de Curitiba deixe de ser um matagal pantanoso.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
07/10/1990

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