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Aramis

No campo de batalha

O promotor Joaquim Tramujas, que virou notícia nacional com a polêmica em torno do livreto "Passe a Cuia, Tchê!" - no qual defendeu a tese de que o chimarrão foi levado ao Rio Grande do Sul pelos paranaenses - vai trocar a erva mate pelo scotch: passará os próximos seis meses em Londres. xxx Aproveitando sua licença-prêmio e muitos mil dólares economizados nos últimos tempos, Tramujas volta à Europa, onde já viveu por algum tempo. Só que agora, ao invés da Itália, vai ficar na Inglaterra. Em sua bagagem, levará várias cuias, bombas, e 100 quilos da erva mate "Barão " (de Santa Rosa) - considerada uma das melhores do país - para ensinar os ingleses a experimentarem os prazeres de "sorver o doce-amargo que endoçuras no paladar se desfaz" como, tão poeticamente, definiu o político e caudilho de Pedras Altas, Joaquim Francisco de Assis Brasil, a arte de beber um bom chimarrão. xxx Tramujas também é eclético cantor dos vanerões nativistas ao jazz sofisticado - e já decidiu: se a coisa apertar na temporada londrina, ele vai para os pubs mostrar o seu talento musical. O que sempre pode render algumas libras adicionais. xxx Tentando fugir do circuito do orgasmo, o bravo Jorge Santos, 55 anos, 48 de cinematografia (começou de calças curtas, no antigo Morgenau, no Seminário), conseguiu da Columbia o direito de exibir os fimes que façam boa bilheteria no Plaza. Assim, "Os Caça Fantasmas 2", de Ivan Reittman - uma das melhores rendas de 1989 (e campeoníssimo nos EUA), a partir desta quinta-feira entra em programa duplo no Cine Morgenau, em sessões corridas. O Morgenau, que funciona no terminal da Praça Rui Barbosa, tem um público especial - normalmente atraído por fimes de violência e pornografias, mas que Santos quer ensinar a ver filmes de melhor nível. xxx Jorge Santos é também o presidente do Cine Clube Aníbal Requião, o único dos cine clubes da cidade que desenvolve uma atividade realmente cinematográfica (os demais, parecem estar mais preocupados com política do que com a exibição de filmes). Assumindo sua condição de "cine clube da nostalgia", os velhinhos do Aníbal Requião já dispõem de um excelente acervo de faroestes da República e outros pequenos estúdios dos anos dourados de Hollywood que, em vídeo ou cópias 16mm, projeta regularmente. Em colaboração com a Biblioteca Pública do Paraná. Levará alguns filmes de Charles Starret e Hopallong Cassidy, em sessões vespertinas no auditório Paul Garfunkel, para que a geração shopping conheça os heróis e bandidos da época do "aí, mocinho" - que fazia as crianças dos anos 30/50 vibrarem nas matinês dos cines Broadway, Odeon, América e Curitiba - entre outros. xxx Falando em "Ghostbusters 2", que o Morgenau reprisa agora, a Gimarp - Relações Públicas e Comunicações SC, distribuiu um release informando que paralelamente à maciça campanha publicitária (rádio/tv/jornal/out doors), a Filmtrade desenvolveu os trabalhos de comercialização dos personagens, do seu nome, seu logotipo e suas expressões em produtos e promoções. Até o final de 1989 haviam sido assinados 17 contratos com empresas como Artex, Brindisa, Brinquedos Bandeirantes, Hering, Editora Globo, São Paulo Alpargatas e Taser Grafics entre outros que já estão colocando no mercado toalhas de praia, adesivos holográficos, mochilas, bonés, chaveiros, broches, buttons, carteiras, quebra-cabeças, triciclos, autos de pedal, bicicletas, cuecas, calcinhas, pijamas, material escolar e transfers. xxx Outra conseqüência do marketing cinematográfico: depois do filme, chegou o disco (WEA) com a trilha sonora de "As Aventuras do Barão de Munchausen" - um belíssimo trabalho de Michael Kamen, que o especialista Clecius D'Aquino ("Raridade"), inclui entre as dez melhores do ano. O Círculo do Livro também aproveita a mesma fonte: está lançando uma nova edição das Aventuras de Munchausen, com ilustrações de Gustave Doré. xxx Editado há 62 anos, "A Bagaceira", de José Américo de Almeida (1887-1980), tornou-se um clássico da literatura brasileira. Escritor e, sobretudo político, José Americo de Almeida formou, ao lado de Augusto dos Anjos e José Lins do Rego, o triunvirato da maior expressão literária paraibana. Publicado em 1928, marco da vanguarda literária na época, "A Bagaceira", merece agora uma edição crítica (José Olympio Editora/Fundação Casa de José Américo/Fundação Banco do Brasil, 284 páginas), que traça um caminho firme apontando as verdadeiras passagens do clássico, com os olhos argutos do crítico, o que Nilton Paiva, Elisalva de Fátima Madruga e Neroaldo Pontes de Azevedo desenvolvem agora. Não apenas para professores e especialistas, mas numa nova edição de um livro que, passados 62 anos, continua atual. xxx A mesma José Olympio traz "Um Artista Aprendiz" de Autran Dourado (268 páginas, NCz$ 136,00, capa de Rogério Méier, com reprodução do quadro de Guignard). Mineiro de Patos, 64 anos, autor de obra das mais respeitadas, neste novo romance ele volta-se a sua formação literária e filosofia, através do personagem João da Fonseca Nogueira. Um alter-ego do autor, que já apareceu em vários de seus livros ("Risco do Bordado", "A Serviço Del Rei"). Críticos já observaram que através deste personagem, Dourado vem fazendo uma espécie de autobiografia imaginária. Assim, o leitor de Autran reencontra em "Um Artista Aprendiz" o mesmo admirável prosador, o mestre da emoção e do prazer estético - combinações mágicas que o escritor sabe mesclar como poucos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
18/01/1990

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