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Aramis

Apagaram-se as luzes do cineclube na Biblioteca

O único cineclube com uma efetiva atuação em Curitiba - o Anibal Requião, fundado em 3 de setembro de 1983 e contando com uma média de 200 associados - foi obrigado a suspender as atividades que vinha desenvolvendo no auditório Paul Garfunkel, às sextas-feiras, devido a falta de sensibilidade da direção da Biblioteca Pública para com projetos culturais alternativos. Com uma programação diversificada, apresentando em cópias de 35mm, 16mm e vídeo, filmes importantes de vários gêneros, o Cine Clube Anibal Requião desenvolvia há seis anos uma simpática promoção no auditório da BPP, franqueada a todos os interessados. O veterano exibidor e cinéfilo Jorge de Souza, 62 anos, 51 de paixão pelo cinema, fundador e presidente, era um dos colaboradores mais decisivos com vários eventos organizados pela Biblioteca Pública - cedendo filmes para mostras infantis, assessorando ciclos, etc, e, de comum acordo com a diretoria anterior fazia as sessões semanais com grande público - não só dos associados mas de outros interessados, inclusive de leitores da biblioteca. Infelizmente, a partir da posse da nova diretoria, as sessões começaram a serem misteriosamente canceladas na última hora, com as mais esfarrapadas desculpas. "Entendo que por motivos importantes as sessões sejam suspensas, mas a coisa passou dos limites", diz Jorge de Souza que, irritado com justa razão decidiu encerrar a programação a partir da desfeita que sofreu na semana passada, quando só soube por um "acessor" da diretora que a mesma havia decidido vetar o auditório para a programação marcada anteriormente. Possuindo um acervo de 30 longa-metragens em 16mm; uma dezena em 35mm e cerca de 2.000 filmes gravados em 'video pertencentes aos diretores do CineClube - além de manter permutas e contratos com outros centros de cinema e colecionadores - o Anibal Requião vem há anos fazendo um trabalho cultural sem qualquer subvenção oficial, mantendo inclusive um banco de dados dos mais preciosos. Há quase dois anos, Jorge de Souza encaminhou uma correspondência (aqui registrada na ocasião) à diretoria (sic) da Fucucu, com cópia para o prefeito Jaime Lerner, pleiteando um espaço junto a futura sede da Cinemateca, que com recursos (na época de Cr$ 10 milhões) do Bradesco deverá (?) ser construída junto a Casa da Memória (Rua Mateus Leme) . "Infelizmente, não tivemos nem a consideração de uma resposta" queixa-se Jorge que se proporia, inclusive, a movimentar o abandonado Teatro de Bolso, na Praça Rui Barbosa. - "Instalaríamos projetores de 35 e 16mm naquele espaço, que funcionaria como um cineclube regular, a exemplo do Electrico, em São Paulo". xxx O Cineclube Anibal Requião tem aquilo que é fundamental: entusiasmo e idealismo de seus dirigentes. Na Biblioteca Pública do Paraná, em tempos melhores, quando o advogado Lamartine Corrêa Lyra de Oliveira a dirigia no início o primeiro governo Ney Braga, foi fundado um clube de cinema que teve grande vigor - mas que acabou quando num cine-fórum, dois desafetos políticos - o comunistas Agliberto Azevedo e o integralista Edgar Távora esmurraram-se no calor de um debate.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
21/06/1991

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