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Aramis

Os últimos dias do Morgenau

Já esta tornando rotina noticiar últimas sessões de cinema, mas esta tem um sentido muito local : ainda não está marcada a data , mas o mais antigo dos cinemas curitibanos tem seus dias contados . O Cine Morgenau ( Rua Schiller , 203, bairro do Capanema), que funciona desde 1918 e há 19 anos é explorado pelos irmãos Jorge, Joaquim e Erasmo Souza, não deverá chegar ao seu 60º aniversário, que seria comemorado no próximo ano . A morte do ferroviário Bernardo Quickstdt ( 1898 - 1976) , fundador e proprietário do imóvel onde funciona o imóvel, tornou muito difícil a permanência da velha casa de exibição , com suas cadeiras sem estofamento, dois valentes projetores Sólido B - 7 e seus programas de quinta a segunda - feira , com vesperais dominicais em que , vez por outra , aparece até um capítulo do seriado , descobertos por sorte nos fundos de depósito de distribuidores. Os genros do sr. Quickstdt - maridos de suas filhas Ruth, e Hilda, acreditam , naturalmente, que é um péssimo negócio alugar o velho casarão do cinema por menos de Cr$ 500.00 mensais . Em compensação , apesar do amor dos irmãos Souza pelo cinema, não há condições de pagar mais: na melhor das semanas a renda bruta não ultrapassa a Cr$ 3 mil. Mais da metade das distribuidoras e do resto tem que cobrir todas as despesas (luz, taxas, empregados etc.) . Na semana passada por duas noites, as sessões foram canceladas: na quinta - feira o filme marcado não chegou a tempo, na sexta - feira faltou a luz. Numa segunda - feira, "Banzé no Oeste" foi projetado para exatamente dois espectadores. Assim não há exibidor que aguente. Jorge Souza, 47 anos, que começou a frequentar o Cine Morgenau quando ainda usava calças curtas, trabalha na Cruzeiro do Sul há 26 anos , como chefe de embarque no Aeroporto Afonso Pena. A exploração dos cinemas sempre foi uma atividade paralela : durante 3 anos tentou movimentar o Cine Mercês , mas as baixas rendas o levaram fechar aquela casa , em 25 de dezembro de 1975, exibindo "Virtude Selvagem". O esvaziamento dos cinemas , que é mais grave nos bairros, levou ao fechamento dos Cines Oásis (Vila Hauer) , Guarani (Portão) , Ahú, Picolino (Juvevê), Florida (Rua Marechal Floriano), Santa Felicidade e Umbará, entre outros, nos últimos dez anos . Sobrevivem, enfrentando baixas rendas, os cines Marajó (Seminário), São Cristóvão (Vila Guaíra) , "Nossa Senhora da Luz", Morgenau e o luxuoso Ribalta, inaugurado há pouco mais de 1 ano, no bairro do Bacacheri, e que vem exigindo de seu proprietário, Rodolfo Deckman, sacríficios imensos. Varias causas podem ser apontadas para a decadência dos cinemas, nos bairros e pequenas cidades, como comércio. A televisão, em primeiro lugar, a formação de novos hábitos e mesmo uma queda de entusiasmo dos jovens pelo cinema ( a não ser de uma pequena faixa intelectualizada, que diz apreciar os filmes de arte) fazem com que a usina dos sonhos, com suas mágicas e coloridas figurinhas na tela, seja, cada vez mais, um entretenimento do passado. Ao menos em termos de bilheteria.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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23/03/1977

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